Wuchang: Fallen Feathers é um soulslike desenvolvido pelo estúdio chinês Leenzee e publicado pela 505 Games, que chega buscando um espaço de destaque em uma prateleira cada vez mais repleta de boas opções. Para conquistar esse posto, o jogo aposta em um sistema de combate intenso, cujo foco principal está na precisão para realizar esquivas no tempo certo, permitindo ao jogador acumular energia para executar combos velozes e conjurar magias poderosas.
A história se passa na terra de Shu, durante o período que marcou o fim da dinastia Ming, e acompanha Wuchang, uma pirata que desperta misteriosamente em uma caverna após ser acometida por uma doença conhecida como Plumagem. Essa enfermidade, supostamente originada de um demônio, transforma os infectados em criaturas com aparência de aves monstruosas e comportamento agressivo.
Após recobrar a consciência, Wuchang é informada pelo taoísta que a acolheu que um dos primeiros sintomas da Plumagem é a amnésia. No entanto, por razões desconhecidas, ela não apresenta os sinais mais graves da progressão da doença. Pelo contrário, ela consegue tirar proveito de sua condição ao canalizar uma poderosa energia mágica, algo que a transforma na maior esperança da humanidade na luta por uma cura.
Assim, a protagonista inicia sua jornada por um mundo repleto de ameaças, em busca de respostas sobre sua identidade e da possibilidade de erradicar a doença. Ao longo da campanha, ela encontrará NPCs que oferecem tarefas a serem cumpridas e informações valiosas sobre seu passado e a origem da epidemia. Algumas dessas missões secundárias são simples, mas certas decisões podem influenciar significativamente o rumo da história e levar a diferentes desfechos, adicionando um bom fator de rejogabilidade.
A ambientação e a narrativa de Wuchang: Fallen Feathers inicialmente lembram títulos recentes como Black Myth: Wukong e Wo Long: Fallen Dynasty, mas o design dos mapas se aproxima mais do estilo presente na série Dark Souls. Embora haja certa linearidade em alguns trechos, a maior parte das áreas é interconectada e oferece caminhos alternativos, permitindo que o jogador avance pela campanha a partir de diferentes rotas.
Há uma boa variedade de cenários, com ambientes de cavernas, templos, vilarejos, acampamentos, florestas e outros mais. A rotas opcionais muitas vezes resultam em segredos, itens valiosos e até inimigos secretos, valorizando bastante o trabalho dos que buscam vasculhar esses caminhos, tornando a exploração um dos melhores aspectos do jogo.
No entanto, dois detalhes no level design me incomodaram. O primeiro diz respeito ao posicionamento dos atalhos, que nem sempre é bem planejado, resultando em trajetos de retorno cansativos até certos chefes ou encontros importantes. O mesmo problema se aplica à localização dos santuários — equivalentes aos pontos de controle no jogo. Em alguns cenários, é possível encontrar dois santuários muito próximos um do outro, enquanto em outros há uma distância excessiva entre eles.
O segundo problema perceptível na estrutura dos mapas é o posicionamento injusto de certos inimigos que atacam à média distância, além de algumas armadilhas mal distribuídas. Em uma área específica, por exemplo, há arqueiros e magos em locais inalcançáveis, enquanto bombas ocultas no cenário dificultam ainda mais o progresso.
Algo que também vale ser mencionado é a direção de arte. Aqui, pode-se dizer que há muitos acertos, mas também um problema que talvez seja o que mais me causou estranheza no começo da campanha. A parte boa é que na ambientação de Wuchang: Fallen Feathers a equipe de desenvolvimento fez um ótimo trabalho. Os cenários são imersivos e transmitem muito bem a ideia de uma dinastia chinesa em decadência.
Porém, a qualidade visual de alguns elementos é questionável no PS5. Ao longo de toda a campanha, é fácil notar texturas em baixa resolução, cenários com aparência embaçada e até efeitos visuais pixelados. Como de costume em jogos com foco no combate, optei inicialmente pelo modo desempenho. No entanto, ao realizar alguns testes no modo qualidade, percebi que o ganho gráfico foi pouco significativo. Há ainda um terceiro modo, o balanceado, que se mostrou ainda mais problemático, apresentando screen tearing além das limitações visuais já mencionadas.
A verdade é que esse impacto visual negativo tende a se tornar secundário à medida que o tempo de jogo avança. E, sinceramente, como sempre costumo destacar em análises de games do gênero soulslike, é o combate que realmente define a qualidade da experiência. Nesse sentido, é importante ressaltar que os sacrifícios visuais, ao menos, garantem uma performance convincente. Durante as 45 horas que levei para concluir a campanha, percebi algumas oscilações pontuais na taxa de quadros, mas, no geral, o desempenho foi bastante satisfatório.
Por outro lado, a utilização do motor gráfico Unreal 5 faz com que os ambientes tenham efeitos de iluminação elogiáveis, além de contarem com uma paleta de cores variada e que foi bem distribuída. Isso acaba aliviando parte do prejuízo visual necessário para alcançar uma performance mais equilibrada.
O que definitivamente não me decepcionou foi a trilha sonora, presente tanto nos confrontos contra chefes quanto na exploração. Como esperado, o jogo aposta em temas compostos por instrumentos tradicionais chineses, mas também se arrisca ao combinar esse estilo com elementos da música clássica ocidental e contemporânea. O resultado são canções que realmente empolgam, especialmente durante as batalhas mais intensas.
E já que o assunto é o combate, é hora então de falar do que considero ser o melhor em Wuchang: Fallen Feathers. Para começar, a guerreira pode equipar até duas armas divididas entre cinco categorias: as espadas longas, as espadas curtas, as lâminas duplas, os machados e as lanças. Cada uma dessas classes de armas conta com variantes que, apesar de não serem muitas, possuem habilidades únicas que as diferenciam umas das outras.
Outro tipo de habilidade são as Disciplinas, desbloqueadas por meio da árvore de progressão da personagem e atribuídas às armas, oferecendo mais liberdade para customizar o estilo de jogo favorito. Entre essas habilidades estão artes marciais, golpes de confronto, contragolpes, bloqueios e outras técnicas.
Realizar ataques em sequência gera combos rápidos que acumulam Poder Celeste. Essa energia também é obtida ao realizar esquivas no momento exato e serve para ativar habilidades das armas, além de conjurar os diversos feitiços disponíveis. Uma técnica especialmente satisfatória é o ataque de troca rápida, que consome Poder Celeste para permitir a troca de arma no meio do combo, estendendo a sequência com mais golpes.
Todo o combate gira em torno do sistema de acumular Poder Celeste para desferir golpes e magias cada vez mais fortes. Isso confere ao jogo uma abordagem muito mais agressiva em comparação à maioria dos soulslike. Como o Poder Celeste só fica acumulado por um tempo limitado, é comum iniciar as batalhas sem energia alguma, o que incentiva uma postura ofensiva constante e aumenta ainda mais a necessidade de aprender os padrões de ataque dos inimigos.
Da mesma forma, os adversários encontrados durante o jogo seguem padrões de ataque mais ágeis, soltando golpes que cobrem uma boa distância e que podem mudar o curso de uma luta em poucos segundos. Há, inclusive, uma boa variedade dos inimigos básicos e de elite ao longo de toda a campanha.
As magias são um dos pilares do combate, tanto pela capacidade de Wuchang de vencer confrontos com elas quanto pela necessidade de enfrentar os poderes dos inimigos. Muitos adversários utilizam ataques mágicos de média e longa distância, que podem aplicar efeitos de status, algo que pode se tornar frustrante em certas situações. Não é raro ter que lidar simultaneamente com múltiplos efeitos negativos, vindos tanto de inimigos quanto do cenário, o que se mostrou ainda mais problemático nos duelos contra alguns dos chefes principais.
As batalhas contra chefes apresentam uma boa curva de aprendizado. Confesso que, inicialmente, achei esses duelos relativamente fáceis, até certo ponto da campanha em que a dificuldade aumentou significativamente. A partir daí, os chefes passaram a ser muito mais desafiadores, com pouco espaço para erros nas esquivas. Não é incomum que eles executem múltiplos ataques simultâneos, criando situações em que reagir com precisão em sequência se torna bastante difícil. Essa mecânica, embora desafiadora e capaz de proporcionar uma ótima sensação de vitória, também pode gerar frustração por parecer, em alguns momentos, injusta.
Esse tipo de situação exige muita concentração e reflexo do jogador, mas também deixa a impressão de que a aleatoriedade acaba influenciando consideravelmente as chances de vitória. Para complicar ainda mais, as hitboxes de alguns ataques em área parecem exageradas.
A fórmula que encontrei para superar esses confrontos foi adaptar minha build e investir em descobrir as fraquezas elementais de cada inimigo. Esse é um ponto importante, pois Wuchang: Fallen Feathers oferece bastante liberdade para flexibilizar seu estilo de jogo e adaptá-lo a cada situação. As armaduras, por exemplo, além de poderem ser customizadas para valorizar o visual da personagem, realmente fazem diferença na defesa contra ameaças. Por isso, é fundamental ficar atento às suas estatísticas de defesa física e elemental.
Além disso, a personagem pode equipar até três talismãs que concedem habilidades passivas, como aumento na taxa de recuperação de vigor, maior recuperação de vida ao usar frascos, entre outros benefícios. Da mesma forma, benefícios chamados de bênçãos funcionam como runas que podem ser fixadas às armas, garantindo bônus de ataque, defesa e até elemental.
Um item chamado Têmpera permite aplicar efeitos elementais temporários a qualquer arma do arsenal de Wuchang. Quando combinado com os efeitos das magias, itens arremessáveis e bônus passivos, ele oferece uma variedade de estratégias eficazes para encurtar os duelos contra chefes aplicando status negativos ou até melhorar a recuperação de vida.
O sistema de level up funciona exclusivamente por meio de uma árvore de habilidades. A cada quantidade preestabelecida de mercúrio vermelho obtida ao eliminar inimigos, o jogador pode convertê-la em pontos de habilidade em um santuário, para distribuí-los entre atributos e habilidades em uma extensa lista. Esses pontos podem ser reorganizados em qualquer santuário quantas vezes desejar, sem custo adicional.
Um ponto que atrapalha um pouco essa mecânica de evolução é que algumas estatísticas estão concentradas em ramos específicos da árvore. Por exemplo, se você quiser focar em uma build de magia, precisará eventualmente investir na espada curta; já para aumentar a vitalidade, será necessário explorar nódulos ligados a armas mais voltadas para builds de força. Até há coerência na distribuição dos atributos para cada arma, mas, após muitas horas de jogo, me vi desbloqueando caminhos de armas que não utilizava apenas para melhorar estatísticas que já não estavam mais disponíveis nos ramos que priorizei.
Wuchang: Fallen Feathers também traz uma alternativa ao tradicional sistema de morte dos soulslike. Sempre que o jogador cair em batalha, apenas uma parte do mercúrio vermelho carregado é deixada para trás. Acumular várias mortes consecutivas faz com que a personagem entre em um estado chamado Loucura. Quando esse medidor atinge o máximo, um demônio surge no local da sua morte para batalhar pelos pontos de experiência perdidos.
A Loucura também influencia a jogabilidade. Dependendo dos inimigos que você eliminar, o medidor pode aumentar ou diminuir. Quando atingido o nível máximo, tanto o dano causado pelo jogador quanto o recebido são ampliados. Essa é uma forma criativa de oferecer uma experiência mais desafiadora para quem deseja, mas também pode gerar problemas de balanceamento, especialmente se você ficar preso em um chefe por longos períodos. Embora seja possível reduzir parte dessa Loucura usando um item específico em determinado ponto do mapa, esse item não é tão fácil de se encontrar.
No geral, Wuchang: Fallen Feathers cumpre bem sua proposta de ser um soulslike que incorpora boas ideias em um gênero cada vez mais concorrido. Embora o tema principal da história e a ambientação não tragam grandes novidades, o design interligado dos mapas cria um mundo que valoriza a exploração. O sistema de combate é intenso e variado, mas algumas mecânicas, especialmente nos chefes da parte final da campanha, podem causar frustração por exigirem um nível de precisão acima do comum, mesmo para fãs do gênero. Ainda assim, se você gosta de soulslikes e aprecia testar sua capacidade de reação e adaptação para superar desafios, este é um título que certamente vale a pena conferir.
Wuchang: Fallen Feathers está disponível para PS5, Xbox Series e PC com legendas em Português do Brasil. Esta análise é da versão de PS5 e foi realizada com um código fornecido pela 505 Games.