Análises

Vampire: The Masquerade – Bloodlines 2 – Review

Vampire: The Masquerade é uma propriedade intelectual (IP) usada em diversos meios do entretenimento desde a concepção do RPG de mesa na década de 90. Num mundo repleto de vampiros que precisam manter a máscara da sua existência sempre colocada e disfarçar do mundo uma outra raça superior, os conflitos entre os clãs, rixas internas, disputas até mesmo contra humanos que descobrem seus segredos e mais sempre ficaram expostos como parte primordial dessa existência.

Nos jogos, talvez o ponto de maior destaque tenha ficado para Bloodlines de 2004, que misturava ação em primeira pessoa e diversos elementos de RPG para contextualizar um universo de The Masquerade com narrativa. Apesar de outras tentativas, como Bloodhunt e a apelação para o hoje exaurido modo battle royale, a IP em si nos videogames sempre foi algo de destaque intermediário, quando com sorte.

Vampire The Masquerade - Bloodlines 2

Vampire: The Masquerade – Bloodlines 2 é uma nova proposta neste universo e de forma atualizada para os dias atuais, mas tentando manter a essência do jogo de 2004 e ainda arriscar com algo atrativo e diferente para um novo público. Mesmo como uma nova oferta. infelizmente a história do jogo já começa antes de sua chegada e com os diversos problemas que o jogo teve apenas para ser lançado, algo que parece ter sido apenas o ponto principal aqui.

A começar pelo jogo ter a licença publicada pela Paradox Interactive, amplamente reconhecida pelos seus bons trabalhos em jogos de estratégia, a proposta do RPG de ação já é algo fora da curva e publicamente já dito pela publisher que será também sua última investida em algo assim. De um conceito complexo e mudanças até mesmo de desenvolvedoras ao longo do projeto, Bloodlines 2 só viu a luz do dia (mesmo que vampiros não possam fazer isso) quando a The Chinese Room assumiu o projeto. Do que era algo para ter chegado até 2021 e só vimos o jogo em 2025, além de histórias sobre outros problemas e mudanças, fica claro que não foi um projeto muito fácil de ser entregue por todos os envolvidos.

Vampire The Masquerade - Bloodlines 2

Em 2024, na cidade de Seattle, um vampiro ancião conhecido como Nômade é despertado fora de sua época em um local não familiar, com uma marca estranha na mão e a personalidade de um outro vampiro dentro de sua cabeça. Como se não bastasse a confusão inicial, o despertar foi problemático e agressivo, com humanos mortos e o risco da máscara ser derrubada no processo.

No papel de Nômade, o jogador adentra um universo interessante e complexo naquele momento, com a alta cúpula dos vampiros da cidade receosa com ataques acontecendo, clãs se alinhando para tomar partido em decisões questionáveis, a “Príncipe” da época sendo questionada sobre falta de pulso firme e o mistério da morte do vampiro na cabeça do protagonista são só alguns passos inicias do que a história promete mostrar.

Com o ponto alto da história sendo exatamente o desenrolar de várias narrativas e as camadas que cada personagem traz consigo para progredir num objetivo geral, nisso o jogador é muito bem servido. Mesmo as primeiras 6 horas mais lentas com um progresso limitado e explicativo demais, ao concluir a primeira metade do jogo é possível perceber um andamento interessante do envolvimento de Nômade em todos os conflitos pela cidade de Seattle.

Vampire The Masquerade - Bloodlines 2

Algo que ainda completa bem isso são personagens secundários bem construídos, com histórias próprias e motivações condizentes com o universo. Um exemplo é Safia, que apesar de partir do ponto de vampiro nerd, tem uma preocupação diferente para com os seus lacaios, algo visto até como estranho por outros vampiros.
De certa forma, a construção narrativa das ideias propostas e conclusões são interessantes e válidas aqui, mas ficam restritas ao processo de entendimento do jogador e, principalmente, à capacidade de excluir ou ignorar um ponto importante do jogo: os diálogos.

Talvez seja difícil explicar como uma boa narrativa tem diálogos medíocres e ruins, já que isso realmente é algo não muito desenvolvido aqui e é parte base de como uma história se desenvolve. Conversas canastronas, sem nexo, tentativas de quebrar a quarta barreira no processo e piadas indigestas são só alguns exemplos. Para todos os aspectos a escrita do jogo é algo estranho e desconexo, quase como uma tentativa de modernizar e contextualizar uma atualidade a base de internet e memes que não condiz aqui. Mesmo que isso seja de impacto e algo notavelmente negativo, a narrativa acaba se sustentando mais pelos eventos e ações do que pelas conversas em si, se salvando de um possível vexame.

Vampire The Masquerade - Bloodlines 2

Outro pilar importante do jogo que sofre de inconsistências é o combate. Em partes há um bom funcionamento básico, como as habilidades diferenciadas pelos clãs, estilos que mudam dependendo dessa seleção, mas principalmente ao usar isso combinado com as habilidades próprias de Nômade, como a telecinese. É possível fazer sequências inteiras impactantes e brutais contra inimigos, como forçar o combate físico e com habilidades de corpo a corpo se for um Brujah, por exemplo.

O que impacta negativamente é como o desenvolvimento do combate ao longo do tempo, assim como o desbloqueio de novas habilidades e as funções de cada uma, se torna maçante e repetitivo. No fim vão ser inimigos quase sempre iguais e com pouca variação, com uma estrutura de combate que apenas lançar golpes a esmo será o suficiente, o que também irá valer para chefes e inimigos mais poderosos.

As habilidades vão evoluir ao longo do relacionamento com outros clãs e ainda atreladas ao consumo dos tipos diferentes de sangue. Enquanto tudo isso faz parte da lore e é funcional a princípio, a forma de adquirir os recursos e progredir é algo até tedioso, principalmente ao ter que ficar sempre numa espécie de minigame com humanos e os ludibriar para conseguir um sangue colérico, por exemplo.

Vampire The Masquerade - Bloodlines 2

Se poderia existir algo através de recompensas por missões secundárias ou atividades de mundo aberto, isso fica restrito e nem sempre é valioso. Ainda há o porém das atividades em vezes estarem alguns bons anos atrasadas quanto ao design e desenvolvimento de cada uma. Não se assuste com missões de pegar um item aqui e entregar em outro lugar, o que com certeza faz sentido para um vampiro de séculos de existência e poderes imensos (contém ironia!).

Por mais que haja uma ambientação interessante para a cidade de Seattle, mesmo com o tamanho do mapa pequeno e não bem preenchido, o destaque fica para a movimentação aqui. Agir como um vampiro na noite e com poderes para saltos, planar, escaladas rápidas e mais é deveras interessante e prazeroso em boa parte do tempo. É quase como se sentir um ser supremo ali acima da ralé que paira no chão tremendo de frio. A sensação de ser um vampiro, que também é parte do que expliquei sobre a positividade do combate, é um dos grandes acertos aqui.

Vampire The Masquerade - Bloodlines 2

O mapa em si carece de mais variedade visual, mas principalmente de melhores atividades de impacto. Ficar pulando feito um ser supremo apenas para absorver pichações de outros clãs é um total desperdício de ambientação aqui. De toda forma, isso talvez seja um dos maiores exemplos da percepção final de Bloodlines 2 e que deixa o jogo numa impressão de acabado para lançar sem muito polimento.

Não apenas dos diversos engasgos na performance ou falta de trato no sistema de áudio, mas é quase como se a desenvolvedora precisasse apenas despachar logo o título para que pudesse ter algum retorno após tantos anos e diversos problemas. Há uma certa realização básica em cada aspecto do jogo para que seja funcional e pontos interessantes até, mas no fim é realmente um título que ainda precisaria de um ou 2 anos para sua melhor versão e num produto final que talvez, e finalmente, desse destaque maior para a IP Vampire: The Masquerade.

Vampire: The Masquerade – Bloodlines 2 está disponível para PS5, Xbox Series e PC com legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 (no PS5 Pro) e foi realizada com um código fornecido pela Paradox Interactive.

Veredito

Apesar de boa parte do jogo entregar uma experiência não polida ou feita de forma incompleta e com alertas em quase todos seus fundamentos, Vampire: The Masquerade – Bloodlines 2 ainda tem alguns pontos de destaque e que valem muito a pena para fãs da franquia.

70

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo