Embora a Bandai Namco seja uma publisher constantemente atrelada aos seus conhecidos e populares jogos baseados em diferentes IPs de anime, ao longo da última década ela tem sido discretamente uma das empresas mais corajosas, dedicando uma parte considerável do seu portfólio, especialmente sob a batuta da Bandai Namco Europe.
Sejam sucessos consideráveis como Little Nightmares da Tarsier Studios à The Dark Pictures Anthology da Supermassive Games, passando por títulos como Project CARS com a Slightly Mad Studios, Rad da Double Fine e Twin Mirror com a Dontnod Entertainment, vários projetos vieram ao longo dos últimos cinco anos principalmente.
Um jogo anunciado nesse período e que agora finalmente vem se aproximando do seu lançamento é o jogo de estréia de um dos novos estúdios da publisher japonesa, intitulado Unknown 9: Awakening. O jogo é o primeiro grande projeto desenvolvido pela Reflector Entertainment, estúdio fundado em 2016 e tem uma proposta bem interessante. Para conhecer um pouco mais sobre ela, a Bandai Namco nos convidou para um evento de preview do jogo no qual pudemos ver um pouco mais sobre o universo do jogo e, com isso, ficar um grande gostinho de quero mais.
Anunciado em 2020 no Opening Night Live da Gamescom, Unknown 9: Awakening é um jogo narrativo de ação e aventura no qual a protagonista Haroona, uma jovem que foi abandonada nas ruas da Índia para sobreviver à própria sorte e sem a menor compreensão do que eram seus poderes sobrenaturais e qual a sua conexão com a misteriosa dimensão conhecida apenas como Fold.
Após uma grave tragédia, Haroona decide partir em uma dolorosa jornada de vingança que a colocará em confronto contra dois grupos misteriosos: a Sociedade do Ano Bissexto, da qual fazem parte os misteriosos Unknown 9 do título e os Ascendentes, um grupo seccionado da Sociedade do Ano Bissexto que busca usar o Fold para os seus próprios interesses.
A ambientação como um todo é bem interessante e por si só tem bastante potencial para ser explorado. Haroona é uma personagem que parece bastante machucada apesar do coração, dada a vida bastante difícil que teve e sua jornada em busca de vingança e para entender melhor os seus poderes pode não ser o plot mais inovador, mas se diferencia bastante não só por ser uma personagem com um background e história únicos, mas pela forma como o misticismo promete ser abordado aqui trazendo uma ferramenta de plot bem distinta do contumaz crescimento a base de balas e “brothers” que vimos em jogos como Uncharted.
A própria promessa de uma de uma jornada ao redor do globo pode lembrar um pouco do que vivemos com Nathan Drake ao longo dos anos, algo um pouco reforçado pelos cenários de floresta e uma certa ênfase em stealth e escalada, mas não se deixe enganar por isso. Pelo pouco que pudemos ver, Unknown 9: Awakening traz alguns cenários bem distintos e com poucos paralelos vistos por aí. Com isso, tanto o que vimos da narrativa quanto dos cenários prometem se casar para, caso alcance todo o seu potencial, manter o jogador preso a cada nova reviravolta da sua história.
Já em termos de gameplay, parece haver um equilíbrio bem interessante entre os poderes à disposição de Haroona e uma certa vulnerabilidade da personagem. Não obstante os poderes do Fold te dêem várias ferramentas com as quais trabalhar, Haroona não parece ser o tipo de protagonista superpoderosa capaz de entrar numa briga de peito aberto e tomando tiros de todos os lados sem sofrer um pequeno arranhão sequer. É necessário planejar como e quando abordar cada inimigo, se valendo dos seus poderes, golpes físicos e do stealth para sobreviver a cada sessão de combate.
Haroona tem uma série de poderes místicos que dão opções estratégicas bem interessantes. Ataques diretos, telecinese e a possibilidade de “possuir” seus inimigos usar suas armas contra si mesmos são só algumas das ferramentas que prometem estar à disposição do jogador, além, é claro, de um bom e velho escudo que ajudará a fugir quando a coisa apertar. A possibilidade de parar o tempo e possuir inimigos, montando uma sequência de ações a serem ativadas é especialmente legal e a execução estética faz com que a sequência de ações pareça boa de planejar e satisfatória de se ver executar.
Embora a comparação mais simples seja com um “Uncharted/Tomb Raider com poderes”, Unknown 9: Awakening me lembrou bastante um esquecido jogo de PlayStation 2 da Midway Games: Psi-Ops: The Mindgate Conspiracy. Talvez seja pela similaridade de alguns dos poderes à disposição de Nick Scryer naquele jogo se assimilarem bastante a algumas das opções que vimos à disposição de Haroona, mas, graças aos avanços tecnológicos vistos ao longo dos últimos 20 anos, Unknown 9: Awakening já demonstra aqui uma riqueza muito maior nas opções de abordagem que o jogador poderá ter. São origens de poderes diferentes também, sendo uma semelhança mais funcional das habilidades, o que faz com que Reflector tenha conseguido construir algo raro e com bastante potencial para um jogo divertido e narrativa intrigante.
Sabendo ainda que Unknown 9: Awakening promete ser só o começo de um rico universo a ser expandido ao longo dos próximos anos. Há um potencial enorme para histórias a serem contadas nesse universo, não muito diferente do que a Supermassive vem fazendo com a The Dark Pictures Anthology, com uma visão bem especial trazida pelo estúdio para esse projeto.
Se o silêncio visto ao longo dos últimos anos acabou fazendo com que Unknown 9: Awakening tenha sido levemente esquecido, esse retorno aos holofotes foi como receber um belo projétil espiritual direto no rosto, fazendo com que eu preste bastante atenção no que vem por aí. E mesmo com todos os fatores se alinhando para que a Bandai Namco tenha um 2024 excepcional, Unknown 9: Awakening pode sorrateiramente se tornar um dos melhores jogos desse pacote quando for lançado no inverno de 2024 para PlayStation 5, Xbox Series e PC.