Análises

Triangle Strategy – Review

RPGs Táticos pode ser um gênero um pouco menos reconhecido, mas, especialmente ao longo dos últimos anos, a quantidade de títulos que vem reforçando não só a qualidade narrativa que já é esperada, mas trazendo algumas empolgantes novidades de gameplay que só reforçaram o quanto, dado o devido investimento de tempo, o jogador sempre se sairia recompensado pela história e pelo desafio mental que os títulos costumam prover.

Triangle Strategy é, muito provavelmente, o ápice disso. Um dos primeiros títulos da Square Enix utilizando o estilo HD-2D do Team Asano, responsável por Octopath Traveler, mas desenvolvido por outro estúdio (a Artdink, que viria a trabalhar posteriormente nos remakes de Dragon Quest III e Dragon Quest I & II), ele traz talvez uma das tramas mais interessantes de todo o portfólio da histórica publisher japonesa e uma versão mais acessível de um SRPG, voltando ao básico para fazer algo espetacular, muito em linha com o que OT se propõe a fazer para RPGs por Turnos.

E era um título que fazia muita falta na biblioteca do PlayStation, o que agora se resolve com o lançamento do título para cá após mais de 03 anos no Switch (e ports para PC e Meta Quest). É um título que entrega várias das mais importantes nuances que ele poderia, com um altíssimo fator replay graças à narrativa bastante influenciada pelas decisões do jogador, te colocando realmente no centro da experiência, mexendo as peças no tabuleiro tanto em batalha quanto fora delas.

Triangle Strategy

Os acontecimentos aqui giram em torno do jovem lorde Serenoa, o herdeiro da casa Wolffort, uma das três principais famílias de nobres no reino de Glenbrook que dão suporte à casa real da qual Roland, amigo de infância de Serenoa praticamente inseparável do protagonista, é um dos príncipes. Glenbrook é um dos três países espalhados no continente de Norzelia onde o jogo se passa, juntamente com o ducado de Aesfrost e o estado de Hyzante.

Tudo começa 30 anos após a conclusão de uma grande guerra entre esses países chamada de Saltiron War, na qual os três entraram em conflito pelos dois recursos mais escassos do continente, o Sal, controlado por Hyzante, e Ferro, controlado por Glenbrook. Com a paz tendo sido selada entre todos, Serenoa se vê em meio a um casamento arranjado com Frederica, uma jovem membro da família governante de Aesfrost, como parte dos esforços de paz entre os países, que incluirão à administração de uma nova mina situada justamente no território que Serenoa governará.

Mas, é claro, as coisas raramente são como parecem e Serenoa e seus amigos caem em uma armadilha montada por Gustadolph, o atual governante de Aesfrost, que usa uma supostamente inócua visita à mina para acusar Serenoa de matar um primo dele e de Frederica e, com isso, invadir Glenbrook, assassinar quase todos os membros da família real e assumir o controle do país. Cabe então à Serenoa, Roland, Frederica e um crescente grupo de aliados construir um caminho por tempos incertos nos quais cada decisão trará sérias consequências para eles e para as pessoas comuns de Norzelia.

Triangle Strategy

Eu não vou entrar em maiores detalhes sobre a história, mas, se você gosta desse tipo de plot, girando em torno de conflitos entre nações em que as coisas raramente são preto e branco, com o jogo muitas vezes te colocando em situações em que você vai precisar agir de forma ilegal ou tomar decisões em que, de uma forma ou de outra, alguém irá sofrer simplesmente para conseguir sobreviver, então Triangle Strategy irá te agradar. Bastante. Ele faz um trabalho excepcional em construir a ideia de que, em um mundo em guerra, mesmo que suas motivações sejam corretas e nobres, nem sempre há uma solução boa ou correta para os problemas que vão surgir. Os dilemas morais pelos quais Serenoa precisa passar são fáceis de se sentir e nem sempre terão um resultado tão bom quanto esperado.

E isso se reflete em uma mecânica central do título que é a Scales of Conviction, uma balança na qual os possuidores de uma chave podem votar seguindo suas convicções e ele determinará o caminho a ser seguido. É um item que faz parte da casa Wolffort há gerações e parte do porquê, mesmo em um mundo cada vez mais confuso, eles seguem sendo vistos como o principal bastião da justiça. Para o jogador, isso significa que, antes de cada grande ponto de desmembramento da história, você poderá conversar com os membros da sua equipe e tentar convencê-los a votarem da forma que você prefere. Mas nem sempre você conseguirá e isso pode te levar por caminhos inesperados.

A sua efetividade depende da força das suas convicções, com o jogo às dividindo em três tipos distintos: Morality, Liberty e Faith. A sua pontuação em cada uma delas vai sendo influenciado pelos seus diálogos e algumas ações ao longo do jogo, com algumas sessões de convencimento exigindo uma pontuação específica para tal. Isso inclui também a necessidade de alcançar certas pontuações para, por exemplo, recrutar alguns personagens exclusivos de certas rotas. Ao todo, o jogo conta com três finais específicos de cada convicção e um “True Ending”, então há bastante para se ver e tirar da experiência que, justamente por isso, consegue consolidar sua campanha em umas 30 a 40 horas.

Triangle Strategy

É importante dizer aqui que, dada a sua natureza, Triangle Strategy tem muitas cutscenes e todas elas acontecem in-game, sem grandes animações rebuscadas. Como são cenas um tanto quanto longas, jogadores buscando um pacing mais ágil, que se esperaria de um jogo pensado para se jogar num “portátil”, não vão encontrá-lo aqui. Dito isso, a narrativa é tão envolvente que isso se torna um problema menor, já que sempre tem algo de interessante acontecendo, seja no desenvolvimento dos personagens ou da própria narrativa. Infelizmente o jogo também não chega com legendas em PT-BR, o que acaba dificultando sua acessibilidade e traz uma das dublagens mais fracas de um jogo da Square Enix em um bom tempo.

Outro ponto que merece elogio são os personagens. Embora nem todos sejam tão memoráveis assim (afinal, são 30 personagens recrutáveis no total), os membros do “Conselho de Guerra” de Serenoa são todos muito bem trabalhados e adicionam facetas diferentes a um grupo que é tão notório por sua individualidade quanto pelo trabalho deles juntos. Da paciência de Benedict e Geela como conselheiros do casal central, ao crescimento de Serenoa, Roland e Frederica como líderes e de Hughette como parceira de Roland, passando pela divertida dinâmica trazida por Anna e Erador, todos eles recebem seu espaço para brilhar, mesmo que, no fim das contas, ainda seja sobre o trio principal.

Um outro destaque fica para os outros personagens de história que podem ser recrutados que trazem um charme para cada uma das rotas e também são muito bem construídos, cada qual adicionando aos personagens centrais da trama. Os recrutas opcionais são um pouco menos notórios e, embora tenham suas próprias missões secundárias que vão ajudando a construir o background de cada um deles, não são muito marcantes.

Triangle Strategy

Em termos de gameplay, Triangle Strategy não oferece nada que fuja tanto assim do padrão. Então, se você já jogou algum outro SRPG, sabe o que esperar daqui. Cada fase tem um número específico de membros que podem ser convocados (geralmente 8), então a construção da sua equipe gira muito em torno disso, com cada personagem tendo sua classe específica e habilidades únicas mesmo que sigam arquétipos parecidos. Isso traz uma variedade bem interessante para o gameplay ainda que, em sua essência, TS seja um jogo bem fácil para quem já tem mais experiência com o título, mesmo em níveis mais altos (especialmente considerando a ausência de um permadeath), ainda que o jogo controle bastante o nível de EXP que você recebe de modo a evitar que você fique com o nível muito acima do recomendado para uma fase.

O jogo traz um sistema de progressão de classes que mistura a melhoria de equipamentos (que refletem nos stats do personagem) com recursos específicos e a mudança de “nível de classe” com o uso de medalhas de promoção ao chegar em certos níveis. É um sistema bem simples e funcional, especialmente considerando que o jogo limita bastante a quantidade de recursos de modo que escolher quem você irá melhorar é um desafio por si só, especialmente considerando que cada aliado será mais útil em determinadas batalhas e ter uma equipe rica traz algumas variedades táticas bem interessantes (como a possibilidade de combar ataques mágicos e criar efeitos especiais no terreno ou destruir certos locais).

Além dos recursos e do dinheiro que é utilizado também para comprar melhorias além de itens, o jogo te recompensa por determinadas ações ao longo das batalhas por meio dos “Kudos”. Esse recurso pode ser usado tanto para comprar itens em uma loja específica, quanto para desbloquear habilidades especiais chamadas de Quietus. Essas habilidades são técnicas de uso único que vão de bônus de dano ou garantia de um acerto crítico até a cura ou reviver um aliado. Elas são bem úteis e te ajudam a sobreviver em situações bem tensas mas, sinceramente, são bem fáceis de esquecer que existem também.

Triangle Strategy

Um último ponto que cabe elogiar é que, apesar da dublagem fraca, o restante dos aspectos técnicos do jogo merecem elogios. A trilha sonora é um show à parte e merece ser ouvida até mesmo fora do jogo e visualmente o jogo é muito, muito bonito, com um senso de identidade muito único e que o diferencia de outros jogos com a mesma estética. A chegada ao PS5 fez muito bem ao jogo, já que ele não traz consigo os principais problemas da versão de Switch, especialmente no modo portátil, que o excesso de serrilhado e a quantidade absurda de slowdowns que o jogo sofria durante o combate, sendo uma experiência bem estável de ponta à ponta.

Dito tudo isso, fica bem claro que Triangle Strategy é um jogo que precisa estar na sua lista de compras se você é um fã de RPGs, especialmente de RPGs de Estratégia. Em todos os seus aspectos, a sensação que se tem com ele é de estar realmente jogando um sucesso espiritual de um Tactics Ogre ou Final Fantasy Tactics e ele mais do que faz jus ao manto que carrega. Da sua história ao combate, ele beira o impecável, sendo uma verdadeira obra-de-arte moderna do gênero.

Triangle Strategy está disponível para PS5, Xbox Series, Switch, PC e Meta Quest. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Square Enix.

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