Train Sim World 2 – Review

Simuladores. Talvez nenhum gênero seja tão específico e ao mesmo tempo tão abrangente como esse. Normalmente, jogos de simulação são profundos demais na sua abordagem, indo além do que qualquer outro título mais superficial sonharia alcançar. Da mesma forma, praticamente qualquer tema pode ser usado para simulação, sejam jogos de corrida, futebol, gerenciamento de presídios e mais. Exemplos não faltam.

Sucesso imenso de vários jogos do tipo é notável. Euro Truck Simulator pode ter seu nicho específico, mas é reconhecido exatamente por entregar algo muito bom para esse público. Como um aficionado de proporções gigantescas por um jogo assim, tenho que assumir minhas mais de 5 mil horas em Football Manager. De toda forma, jogos de simulação, quase sempre, conseguem entregar o que o público procura nesse tipo, que seria uma jogabilidade profunda em algo não tão convencional em jogos. Train Sim World 2 é exatamente isso.

Acredito que máquinas gigantes são fascinantes para qualquer um em algum momento da vida. Ver pela primeira vez um grande avião ou uma locomotiva em funcionamento é algo entusiasmante e até amedrontador. Um dos primeiros pensamento é exatamente de que maneira esse maquinário imenso funciona. Graças aos videogames, podemos ter uma noção interessante disso, principalmente quanto às locomotivas aqui.

Train Sim World é um jogo de simulação realista sobre o controle de trens. Não que o nome deixa muita surpresa disso, mas a segunda edição, ou versão 2020, apresenta mais novidades com essas máquinas imensas, como novos ambientes, locomotivas e formas diferentes de jogar.

Por base, há 3 ambientes distintos aqui e que vão definir o nível de simulação, com cada um oferecendo desafios distintos e locomotivas diferentes. Há o sistema de carga pesada dos Estados Unidos da América, com trens imensos e vários vagões, de transporte lento e cargas pesadas, que fazem o acesso de Sand Patch Grade, nos estados da Pensilvânia e Maryland. O trecho aqui é repleto de curvas, inclinações e declives, pequenos acessos urbanos e várias áreas de manobras e estações de controle.

O sistema de trem subterrâneo da linha Bakerloo em Londres é um outro cenário disponível. Aqui é possível controlar os clássicos trens de passageiros, com várias estações numa linha de mais de 20 km. A dinâmica é totalmente diferente, como um sistema de transporte público que envolve inúmeras paradas, transporte de vidas, manuseios de portas e mais.

Completando os ambientes disponíveis, temos o entusiasmante trem de alta velocidade alemão, que trafega nas linhas de Colônia. Os transportes em longas distâncias em velocidades de até 300 km/h podem ser tanto uma experiência incrível como assustadora, principalmente por uma complexidade maior.

Cada cenário possui sua locomotiva única, ainda que seja possível usar outras variações ou até mesmo comprar algo novo como DLC para o jogo. A mudança não é apenas no equipamento, mas totalmente na forma de se jogar. Como exemplo, as linhas alemãs são viagens rápidas, enquanto os trens de carga nos EUA são viagens lentas e que demandam atenção. Aprofundando nessa última, tenha em mente que mesmo para locomover um trem com vários vagões pesados é uma tarefa interessante. Aceleração leve, controle do sistema de freios e mais, assim como tudo isso precisa ser usado para também parar o veículo.

A simulação da realidade de manuseio dessas imensas máquinas é algo que escala ainda mais com as melhorias desta edição do jogo, como física aprimorada, melhor sistema de gravidade, potência das máquinas e muito mais. Cada trem é uma sensação única, com formas diferentes de manusear, criando uma experiência diferente para cada cenário. Há uma profunda simulação para cada aspecto do funcionamento do jogo, não podendo ser queixa para a maioria dos jogadores, a menos que algum seja um maquinista experiente.

Entretanto, seja pelo foco em um nicho específico realmente por limitação de recursos, é nítido que o jogo sofre pelo escopo limitado e falta de investimento. Os locais são limitados, quase sempre curtos e sem variações, e o jogador vai se ver repetindo muito os mesmos trechos com o tempo. Além disso, a parte técnica é sofrível quando se usa a câmera livre, com taxa de quadros por segundo caindo a níveis inaceitáveis.Junte a isso também qualquer parte visual do jogo que não seja os próprios trens, desde cenários, trilhos, vagões, partes de cidade e mais, que acabam tendo um visual singelo demais para o nível de realismo que o jogo quer passar.

Outro ponto importante aqui é como o jogo introduz o jogador ao mundo de Train Sim World 2 e o que fica disponível para aproveitar depois disso. Cada cenário possui um grande tutorial com objetivos diferentes, desde entrar numa locomotiva, aprender a engatar um vagão, reabastecer, parar em pontos específicos como estações de passageiros e mais. Após isso, o que seriam missões são apenas uma repetição maior desse tutorial, sem adição de novidades ou até mesmo de cenários inesperados e que demandam maior raciocínio do jogador.

Mesmo que seja um jogo focado na simulação e com ambientes específicos, falta variedade de jogo aqui. Com cenários específicos e curtos, sem muitos objetivos ou variações, a sensação de simulação começa a se perder ao longo do tempo, sendo apenas mais uma viagem padrão na vida de um maquinista. Eventualmente é difícil colocar muita variação de objetivos em um jogo do tipo, mas se prender ao mínimo possível é transformar uma experiência incrível a primeira vista em algo maçante com o tempo.

Para solucionar isso, há um modo de criar seus próprio cenários e objetivos. Isso dá ao jogador uma certa liberdade em moldar sua forma de jogar. Altere para fazer viagens mais longas possível ou defina modos curtos de jogo. Isso ajuda bastante na variação de gameplay, mas, sem muitas novidades além do básico já fornecido, acaba por não incrementar tanto ao que já existe.

Train Sim World 2 é um jogo restrito de toda forma, focado mais em quem já conhece esse ambiente ou curiosos do gênero. Quanto ao que tange a simulação, o jogo é excelente em propiciar esse tipo de experiência, mas como jogo, acaba devendo um pouco, seja por decisões mais restritivas ou realmente pelo baixo orçamento de produção.

Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Dovetail Games.