A ideia de um roguelike ter uma história envolvente não é necessariamente algo tão inédito assim hoje em dia, afinal já temos jogos como Hades, Children of Morta e até mesmo Returnal já fazem isso em algum nível.
Acontece que o que muito desses jogos tem em comum é o fato de que eles muitas vezes escondem boa parte da premissa central, deixando o jogador no escuro, dando migalhas sobre a sua narrativa conforme ele vai progredindo na campanha principal
Towa and the Guardians of the Sacred Tree é diferente, convidativo, ‘’casual’’, tendo uma narrativa mais envolvemente e ao mesmo tempo sabendo apertar onde doi nos momentos em que mais precisa.
A jornada de Towa começa quando o deus Magatsu resolve acabar com o período de paz e prosperidade que até então era o comum na vida dos habitantes no vilarejo Shinju.
Espalhando Miasma e corrompendo toda a terra, o vilão da vida para monstros chamados de Magaori, seres que vagam pelo mundo consumindo a energia vital da natureza.
Abençoada pela deusa Shinju, o dever de Towa então é reunir oito guerreiros e lutar contra poderosos inimigos até chegar no deus Magatsu e acabar de uma vez por todas com a corrupção que está cada vez mais perto de atingir seu vilarejo.
Towa and the Guardians of the Sacred Tree pode ser dividido em três pilares diferentes, cooperação, customização e socialização.
O combate de Towa é especial já que ele te força a escolher não apenas um, mas dois personagens jogáveis de uma vez, o Tsurugi (uma espécie de espadachim) e um Kagura (feiticeiro).
Sendo um híbrido entre um Twin-stick shooter e um RPG de ação tradicional, cabe ao jogador então controlar os dois guerreiros ao mesmo tempo, sendo até mesmo um pouco similar ao combate de The World Ends with You.
O Tsurugi, encarregado de ataques corpo a corpo, vai estar sempre nas linhas de frente, alternando entre suas duas espadas, controlando o campo de batalha com golpes em área e sendo o principal responsável pelo dano da equipe.
O Kagura então fica na retaguarda, conjurando magias, protegendo aliados e colocando ‘’armadilhas’’ que ficam espalhadas pelo mapa.
O mais interessante desse sistema é que não existem restrições entre os personagens, cada um deles pode exercer tanto o papel de Tsurugi e Kagura.
Bampuku, que tem um visual mais ‘’parrudo’’ pode muito bem se encaixar no papel de mago, enquanto sua irmã Mutsumi (que aparenta ser bem mais frágil) consegue lutar nas linhas de frente tranquilamente.
O resultado desse sistema é que caso você não goste de algum personagem exercendo um tipo de papel, ainda dá para tirar proveito dele em outra função, o que acaba tecnicamente duplicando a quantidade de guerreiros jogáveis.
Apesar das tamanhas escolhas, o combate em si é simples. Seu Tsurugi vai estar a todo tempo de cara com os inimigos realizando combos básicos e o Kagura recuado conjurando magias.
O ponto forte da ação vem justamente do quão variado cada jogatina pode ser pela quantidade de personagens e aquela famosa pitada de RNG presente em toda tentativa.
É bem o de praxe que você já conhece do gênero, no final de cada fase o jogador recebe um buff que é gerado aleatoriamente e amplia os status dos personagens, efeitos que são majoritariamente passivos, mas que vão ficando gradualmente mais poderosos conforme se vai avançando pelos atos.
A customização acaba andando de mãos dadas com o combate não só dentro dele, mas fora também. Similar a jogos tipo Hades onde você tem uma ‘’base’’ para interagir com outros personagens e melhorar outros aspectos do combate, que nesse caso é a própria vila Shinju.
Além das melhorias que você encontra aleatoriamente durante cada fase, existe um arsenal de outros upgrades atrelados aos diversos status de cada personagem, garantindo que mesmo em caso de uma derrota o jogador não vá ficar necessariamente ‘’preso’’ sem algum tipo de progresso.
Dá até para dizer que existem sistemas ‘’demais’’ dentro do título e isso sinceramente acabou sendo uma das maiores surpresas do jogo até então.
Considerando como tanto da jornada tentar te passar uma sensação mais ‘’casual’’, chega a ser engraçado a quantidade de mecânicas que o jogo possui.
É diferente dos upgrades mais básicos de Hades ou o sistema de Blueprints de Dead Cells, as melhorias de Towa são um pouco mais elaboradas, geralmente envolvendo gemas equipáveis ou outros acessórios que ampliam os status de todos os personagens.
É possível até mesmo forjar a espada de cada um dos personagens. São diversos mini games que cobrem todo processo desde a forja até mesmo na customização da própria lâmina, dando ao jogador a chance deixar um pouco da sua personalidade para o combate.
Apesar de ser um estilo de jogo que é comumente associado ao desafio, existe também uma dificuldade adicional feita especialmente para quem quer só aproveitar os aspectos mais sociais do título.
Assim como falamos no nosso texto de preview, o lado mais ‘’casual’’ de Towa é extremamente importante para o desenvolvimento da história e dos personagens.
Além dos habitantes da vila que sempre tem algo a dizer (especialmente depois de alguma tentativa), todos os aliados de Towa são muito bem desenvolvidos.
Testar novos tipos de equipe não vale apena só pela questão do combate, mas também pelo fato de que os personagens estão o tempo todo conversando entre si antes e durante as missões.
É extremamente gratificante você ver como cada combinação de equipe tem algum tipo de diálogo diferente e ir acompanhando como a equipe vai dependendo de uns aos outros conforme eles vão avançando na narrativa, tudo naquele estilo charmoso de JRPG.
Esse lado casual é importante porque ele também serve de porta de entrada para a mecânica mais ‘’angustiante’’ do jogo, o único modo de livrar a terra da corrupção do deus Magatsu é sacrificando um de seus aliados, mais especificamente aquele que for encarregado de ser o Kagura.
Tecnicamente falando, toda ‘’run’’ acaba sendo uma possível sentença de morte seja lá para quem você escolher ser o mago da equipe, já que ele é o único capaz de purificar mana.
Depois de algumas runs bem-sucedidas, você começa a ficar cada vez mais receoso de mandar esses amigos para o campo de batalha e é justamente por isso que os momentos mais casuais acabam sendo ainda mais apreciados.
Chega a ser um pouco desconfortável os lindos cenários pitorescos em que os personagens ficam conversando, esperando Towa chegar com novas instruções, enquanto eles nem ‘’ligam’’ muito já que todos ali estão mais que cientes do dever em que eles escolheram.
Sem entrar muito no território de spoilers, a narrativa do jogo vai tomando diante disso não é feita apenas para dar mais ‘’atrito’’ na jogabilidade.
Claro que acaba sendo um papel importante, muitas vezes me senti preso em algum chefe mesmo com a certeza de que ele seria fácil com outra composição.
Só que isso acabava implicando no fato de que eu muitas vezes iria perder um dos meus personagens favoritos.
Felizmente, a conclusão acaba não só valendo a pena, mas também como toda a experiência não seria a mesma sem esse sistema. É como se todo lance de ter fases e efeitos procedurais acabasse sendo irrelevante e a principal aleatoriedade for o fato de você conseguir ver ou não seus amigos depois de uma jornada bem-sucedida.
Quando abrimos o texto da preview, comentamos sobre como o mercado de roguelikes ficando relativamente saturado, diminuindo cada vez mais aquela sensação de novidade presente em alguns dos títulos mais icônicos do gênero atualmente.
Não vou dizer que Towa seja um desses casos revolucionários. O combate, apesar de ter suas camadas, é bem básico e os elementos RPG podem incomodar aqueles que não tem interesse em fazer aquela dança de maximizar os ganhos e atributos.
Agora, quando o assunto é história e desenvolvimento de personagem esse é possivelmente um dos jogos mais cativantes que eu joguei não só no gênero, mas em algum tempo, dando aquela sensação gostosa de jogos feitos com amor que costumávamos ver com mais frequência.
Towa and the Guardians of the Sacred Tree está disponível para PS5, Xbox Series, Switch e PC sem legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Bandai Namco.