Análises

Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 – Review

E nem parece, mas lá se vão praticamente cinco anos desde o lançamento muito bem-vindo da coletânea que somava os dois primeiros games da franquia Tony Hawk, grandes clássicos da primeira geração do Playstation e certamente alguns dos títulos mais memoráveis da plataforma. Eis que, depois da ótima repercussão desta nova roupagem, o inevitável aconteceu e recebemos também uma nova versão da terceira e da quarta iterações da marca que consolidou o skate no mundo digital.

Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4, portanto, chega tomando algumas precauções para evitar os excessos e tropeços das versões originais mais recentes, que acabaram por minar o interesse e a paciência dos fãs de longa data. Ao somar dois dos títulos mais queridos da série, contudo, este novo pacote teria que se esforçar muito para desagradar um público que, sejamos sinceros, já está mais do que disposto a receber a atualização de braços abertos.

Sob a responsabilidade da já calejada Iron Galaxy Studios, o jogo traz todos os parques originais totalmente refeitos e praticamente intocados em sua essência. Considerando que alguns deles são obras primas do level design desde seu surgimento, é evidente que a meta aqui deveria ser uma reprodução moderna com alguns poucos refinamentos de arestas.

Isso não significa, porém, que não encontraremos algo novo em ambas as campanhas. Há novas pistas muito bem estruturadas ao conjunto que parecem ser parte integral desde sempre, evidenciando um cuidado muito carinhoso da equipe de desenvolvimento em valorizar tudo o que fez de ambos os games aquilo que são.

Por outro lado, é notável a ausência do formato e da estrutura do modo campanha de THPS 4 original, tal como suas características mais específicas de exploração de mundo e interações com os NPCs, o que significa uma certa pasteurização de certas especificidades em prol do alinhamento tanto com o terceiro jogo como com a coletânea anterior, decisão que faz sentido no que tange a dinâmica, mas pode desagradar quem esperava uma maior fidelidade para características particulares, sobretudo deste quarto título.

Portanto, Waterpark, Movie Studio e Pinball, por mais que carreguem consigo uma certa personalidade, são muito coesas com todo o resto, e quem não experimentou as versões originais provavelmente não notará que são adições originais, diferente do evidente acréscimo de novos personalidades, como Yuto Horigome e, principalmente, nossas estrelas Leticia Bufoni e Rayssa Leal.

Esta divisão em duas partes da obra está evidente não só no título, mas também nos momentos de seleção de pistas, seja dentro da campanha – ou melhor, das campanhas, já que podemos escolher uma ou outra, alternando entre elas sempre que quisermos – seja também nos modos multiplayer tanto no on-line, com recursos multiplataforma, e no bom e velho local, com tela dividida.

Poder transitar livremente por entre as trilhas de ambos os jogos é essencial para que um primeiro momento de aprendizagem seja mais diversificado, já que sempre que nos vemos travados em uma fase complicada, podemos dar uma passada na outra linha narrativa, aprender um pouco mais dos recursos e dos movimentos do jogo, para no retorno, estarmos amadurecidos para tentar coisas novas.

Já os veteranos mais cascudos também ganham espaços de sobrevida muito mais alongados com a possibilidade no NG+, onde podemos recomeçar a jornada com a bagagem acumulada para não só cumprirmos tarefas ainda em aberto como novos objetivos adicionais, dedicados os especialistas que já haviam descoberto tudo o que havia anteriormente. E, acredite, há muita coisa escondida em cada canto de cada cenário.

Para quem se dedica a uma competição, as novidades também não são poucas. Você, assim como eu, pode ser um adepto da tradicional disputa de sofá, seja com metas de pontuação geral ou em combos cada vez mais extravagantes, e tudo isso continua presente. É muito provavelmente onde passei mais tempo no período de avaliação do jogo, colocando a família toda pra se enfrentar.

A possibilidade do on-line, contudo, expande ainda mais essa necessidade pela disputa, permitindo até oito pessoas ao mesmo tempo, seja em espaços públicos, seja nos lobbies privados. Mesmo que compartilhar voltas com gente do mundo inteiro mostre o quão absurdamente melhores elas podem ser na comparação com pobres mortais, é possivelmente o espaço de maior aprendizado, já que dá pra presenciar coisas que nem imaginávamos serem possíveis.

O acréscimo de um novo modo multiplayer assíncrono, chamado HAWK, é igualmente ótimo ao oferecer uma forma diferente de interação, já que valoriza certas habilidades mais do que em outras modalidades. Em um primeiro momento, escondemos as letras que formam a palavra HAWK em locais que acreditamos serem de difícil acesso ao nosso adversário para que no momento seguinte, ele seja obrigado a encontrar todas elas antes que o tempo acabe.

A soma de todas estas opções de entrada dão espaço para que o jogador possa aproveitar da jogabilidade extremamente viciante e refinada que abusa das melhores adições da série nestes quase 25 anos de história. Sem reinventar as quatro rodinhas, aqui tudo funciona perfeitamente bem, considerando a base estabelecida na franquia e revisada na versão 1+2. Em retrospectiva, todos os jogos são perfeitamente adequados uns aos outros, quase que como um metapacote de quatro partes agrupadas de duas em duas.

O mesmo cuidado transborda no aspecto audiovisual, com um belíssimo trabalho de texturização de cada parede, cada corrimão, cada construção com o máximo de apreço possível. Se os modelos humanos não são dos mais naturais da indústria (e nem precisariam ser mesmo), todo o resto parece ter recebido uma camada de verniz muito mais profunda e substancial.

As mais evidentes vantagens estéticas estão inexoravelmente nos efeitos climáticos belíssimos, com palhetas de cores abrangentes, ótimas composições e uma iluminação poderosa, resultando em paisagens deslumbrantes, cenários convidativos, reflexos convincentes e aquele pôr-do-sol perfeito, sobretudo quando estamos curtindo uma trilha sonora das mais especiais dos videogames.

Seja no modo streamer (esta que, por questões de direitos autorais, é necessária na gravação do vídeo que abre esta análise) com ótimas composições originais que se valem muito da mistura entre o rock e ritmos mais urbanos, como o rap e o hip hop, seja na versão completa, com canções bastante conhecidas e outras de bandas menos celebradas, ouvir o jogo poucas vezes é tão catártico.

Ausências, entretanto, serão muito sentidas, e há cerca de somente 10 das músicas herdadas das versões originais de ambos os games. Particularmente, vejo o conjunto atual como bastante robusto e muito completo como trilha, mas há um inevitável vácuo quando se considera que estas produções são recortes de uma realidade da primeira década do século que acaba dissolvida. Este valor histórico, portanto, é relativo. Já o valor artístico, por outro lado, se mantém em níveis altíssimos de qualidade.

Este apuro técnico valoriza (e é valorizado) ainda mais todos os sistemas de customização de Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4, que pode não trazer nada de exatamente novo daquilo que já esperamos, mas que não deixa de ser excelente. A começar pelas opções para equipar nosso personagem com muito estilo, com uma variedade de roupas e equipamentos que retribuem o acúmulo de grana nos diferentes modos.

Poder configurar comandos para as nossas manobras preferidas e ajustar cada personagem de acordo com o que nos é mais favorável é outra ótima característica do jogo. Adicionar os especiais pirotécnicos dos personagens de Doom à Rayssa ou ao Michelangelo (além de outros skatistas secretos desbloqueáveis) é o resumo da boa falta de compromisso do jogo com um pretenso (e chato) realismo.

O modo de criação de parque (o famigerado Create-A-Park) é um buraco negro de tempo, e sempre que nos metemos a desenhistas de pistas, podemos ficar horas montando o cenário perfeito com dezenas de opções que podem nos ajudar a construir locais que mais se adequam ao nosso estilo. Não é exatamente algo fácil de se dominar logo de início, mas por tudo o que dá pra fazer, é bastante prático e instintivo.

Em resumo, ainda que algumas perdas (como várias músicas icônicas) e certas adaptações (sobretudo no alinhamento entre as campanhas) possam ser sentidas pelos fãs mais dedicados, o saldo ainda é massivamente positivo. A transposição do modelo de jogo aqui se mostra mais segura que na edição anterior, primeiro porque aquela adaptava uma geração ainda mais antiga, enquanto esta já se baseia nas evoluções técnicas presentes no PS2.

Além disso, o caminho está bem sedimentado pelo ótimo trabalho de 1+2, então aqui não havia muito mais do que seguir a receita de sucesso. Tudo isso, porém, não diminui em nada os méritos da produção, que vinha com a missão de respeitar o legado de dois dos games mais adorados do nicho. Conseguir superar a curiosidade nostálgica inicial e se provar um título indispensável para aficionados iniciantes e veteranos é, mais do que nunca, um feito surpreendente.

Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox Series, Xbox One, Switch, Switch 2 e PC (via Battle.net, Steam, Microsoft PC Store) com legendas em português do Brasil. Esta análise foi produzida jogando no PS5 e realizada com um código fornecido pela Activision.

Veredito

Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 segue fielmente a linha do seu antecessor, e mesmo com algumas ausências e outros acréscimos em relação ao material original, segue sendo preciso, viciante e extremamente divertido não só para antigos adeptos, mas também para a próxima geração de skatistas virtuais.

90

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo