The Division 2, sem o mesmo alarde de outras tantas grandes IPs da Ubisoft, tem garantido ao longo dos últimos anos, desde o seu lançamento em março de 2019, um público fiel e especialmente engajado com a dinâmica de exploração e enfrentamento de hordas e mais hordas inimigas em um mundo devastado pelo fim da sociedade como a conhecemos. E mesmo com esse tempo todo de vida, ainda permanece recebendo conteúdos sazonais e materiais mais complexos de ampliação da experiência.
A nova expansão do jogo, chamada Battle for Brooklyn, nos leva às ruas de uma das regiões mais tradicionais de Nova Iorque, que diegeticamente na comparação com a ilha de Manhattan, estava se desenvolvendo relativamente bem e de forma pacífica neste período pós-pandêmico. Como neste mundo desgraçado tudo que é próximo de bom dura muito pouco, não tardaria até que as facções mais violentas chegassem para tocar o terror.
Nosso agente é levado a interferir no bairro quando descobrimos que os malditos Cleaners estão se apoderando do lugar e o utilizando para produzir a chamada a Purple Flame em larga escala, uma arma que vai nos incomodar desde as primeiras missões principais desta DLC. Ao todo, considerando a linha central do novo enredo, são cerca de 8 a 10 horas de mais daquilo que torna The Division 2 algo divertido e diferente de outras marcas do gênero.
Para os desavisados, a narrativa é tão rocambolesca como os bons (e também ruins) filmes de ação dos anos 2000, com direito a retorno de personagens dados como mortos mudando de lado; algumas traições nada surpreendentes e um vilão que, por mais esquecível que seja pela sua personalidade, trará uma satisfação ímpar assim que cair de vez.
Se por um lado a história pode ser um pouco complicada de se pegar quando não estamos com o que veio antes fresco na memória, incluindo a expansão anterior e as atualizações posteriores, por outro ela não tenta ser mais complicada daquilo que se espera, e nos coloca direto na ação. Por mais que ofereça mais espaços para exploração, tarefas secundárias e novos equipamentos, Battle for Brooklyn é pancadaria do começo ao fim.
Tanto é que o jogo não está tão interessado assim em garantir que este seja um conteúdo que sucede obrigatoriamente a trama principal, e mesmo fazendo uma recomendação de que seria interessante ter jogado a campanha base antes, ele dá a possibilidade de pular direto para cá, subir o seu agente para o nível 40 (que é o ponto ideal para se iniciar essa nova jornada) e tocar em frente.
Contudo, é de bom tom, seja para quem nunca jogou o original, seja para quem o experimentou por um tempo e o deixou de lado na época, dar uma conferida no início para aprender e se acostumar com as principais mecânicas do jogo, seja pelo sistema de locomoção, seja para o modelo de combate. Não que ele seja muito diferente de outros tantos games de tiro em terceira pessoa com murinho, mas principalmente porque o novo material não se preocupa em reintroduzir quaisquer mecânicas novamente.
Dito isto, não espere por uma grande revolução em The Division 2. A ação é intensa, as missões centrais, via de regra, envolvem aquele modus operandi de invasão e progressão em terrenos inimigos, tomada de bases e regiões controladas pelas milícias, com o resultado normalmente se resumindo ao resgate de refém, recuperação de dados e itens valiosos, defesa de posição e coisas do tipo.
Com um mapa auto contido bastante acanhado na comparação com os demais espaços cênicos vistos anteriormente, sobra muito pouco espaço para transição. A ação é mais frequente, sem se preocupar demais com amarras contextuais entre uma missão e outra. Você basicamente sai de um complexo subterrâneo para uma região de conflito aberto, que conecta para uma base inimiga, e sem descanso já localiza um adversário marcado com contrato de procurado. Tudo é dinâmico, nada é tão longe e sobra muito pouco espaço para respiros.
Os veteranos da franquia vão abrir um sorriso de satisfação ao descobrirem que um recurso muito celebrado do primeiro game retorna com uma nova roupagem, que é a fortificação da cobertura. Se lá era possível reformar o local para posicionar barreiras estratégicas, aqui a coisa é mais contida, e temos a possibilidade de reforçar alguns obstáculos mais frágeis.
Isso é especialmente útil em situações onde a arena é aberta com a possibilidade de sermos flanqueados de vários pontos de acesso distintos, principalmente quando encaramos grupos compostos por inimigos fortes no combate corpo a corpo e outros armados com a tal da Chama Roxa, cujo alcance e dano são bastante irritantes. Não à toa, meus maiores enroscos de avanço (além do chefe final apelão) foram patrocinados por esta tecnologia.
E se no quesito de gameplay o jogo se mantém fiel ao que construiu ao longo dos últimos anos, o mesmo pode ser dito do aspecto audiovisual. A beleza da destruição segue incrível, com efeitos climáticos e de passagem do tempo impressionantes mesmo para os dias atuais. Mesmo tendo suas limitações na interação e na colisão, a qualidade artística segue sendo tão deslumbrante quanto já estamos acostumados.
Confesso que fui um daqueles que jogou o primeiro e o segundo jogos sem muito compromisso, meio na esteira um do outro, e logo acabei os abandonando sem muito apego. Não fosse pela devoção da nossa amiga redatora Vanessa Ferreira, já teria me esquecido o quão divertida é a jogabilidade desta franquia, que sofreu injustamente com o hype da expectativa exagerada e de uma recepção proporcionalmente morna.
Sem reinventar a roda, o jogo consegue ser honesto em sua proposta, corrigindo quieto alguns problemas estruturais de seu lançamento. Atualmente, mais do que fechar a porta dos carros quando passamos por eles, há uma criação de mundo bem interessante, alimentada por um sistema de jogo que se beneficia de boas mecânicas de combate e de gráficos belíssimos ainda que sem uma versão nativa para a nova geração, o que para os padrões atuais acaba sendo um ponto positivo fora da curva.
Mesmo aqueles que estão pouco se importando em saber quem diabos é Theo Parnell e porque ele parece importante para esse universo, Battle for Brooklyn é uma ótima desculpa para voltar ao game, montar uma build bacana e sair no tiroteio desenfreado com um bando de vagabundos aleatórios. E para ser sincero, tem momentos em que é exatamente disso que precisamos.
Tom Clancy’s The Division 2: Battle for Brooklyn está disponível para PS4, Xbox One e PC. Esta análise foi produzida jogando no PS5 e realizada com um código fornecido pela Ubisoft.