Quando The Crew Motorfest foi anunciado no começo desse ano, imediatamente comecei a me questionar como a ideia para o jogo não havia sido concebida antes. Afinal de contas, as duas características principais da franquia – seu mapa colossal e as modalidades de corrida em céu, terra e mar – são o palco perfeito para um festival que almeja celebrar tudo relacionado à corrida.
Mas como será que a Ivory Tower tem se saído no desafio de abandonar a cidade grande e ir para as praias do Havaí? Vem comigo que eu te conto como tem sido essa experiência após boas horas de jogatina durante o beta fechado.
Com uma abertura bem eficaz em se distanciar do tom mais “sério” de seu antecessor, as primeiras horas do título se preocupam em deixar o jogador por dentro do clima da festa. A equipe responsável pelo evento vai aos poucos introduzindo cada uma das playlists que contêm as atividades presentes na ilha.
É aqui que os veteranos da franquia vão começar a perceber algumas diferenças na fórmula da série: as corridas de rua agora têm sua temática mais voltada para a cultura de carros japonesa, enquanto os veículos de Fórmula 1 agora possuem uma modalidade dedicada onde se deve estar sempre atento ao desgaste dos pneus e decidir se vale a pena ou não ir para um pitstop, sempre testando a habilidade do competidor de tomar decisões imediatas.
Dito isso, existem duas modalidades que merecem um destaque especial. A Vintage Garage é uma playlist, onde o jogador tem o controle de carros antigos e deve, sem a ajuda de um GPS ou qualquer ferramenta moderna, explorar a ilha do Havaí para chegar ao destino da próxima disputa. Seu único recurso são fotos e histórias de pontos turísticos da cidade, que fazem um ótimo papel em dar vida à cultura local dentro do jogo.
Indo para um lado mais moderno, a Electric Odyssey traz todo o potencial dos famosos “super carros” com uma dinâmica mais “arcade”. Ao invés do nitro recarregar normalmente, como acontece nos outros modos, aqui é necessário passar por caminhos especiais que vão energizar os automóveis durante as fases, dando assim a possibilidade de ir ainda mais rápido.
Quem já é familiarizado com o cenário de jogos de corrida deve estar se perguntando, “esse é mais um título no estilo Forza Horizon?”, e embora seja difícil não fazer comparações, Motorfest se inspira no que seus competidores têm feito de melhor e, ao menos durante a beta fechada, superou minhas expectativas.
Visando justamente os pontos fortes da concorrência, os modos de jogo “live” parecem ser a grande estrela do show, promovendo atividades para todo tipo de competidor, seja ele casual ou competitivo. Playlists diárias e semanais vão rotacionar frequentemente, oferecendo “temas” em que o jogador pode participar e desbloqueando novas recompensas.
Durante o beta tive a oportunidade de competir em uma Grand Race, modalidade em que 28 corredores disputavam uma enorme corrida onde o veículo de cada um mudava automaticamente dependendo do tipo de terreno. Dessa forma, alterei entre entre super carros, veículos de rally e até mesmo barcos motorizados.
Tudo isso acontecia enquanto um evento dedicado a clássicos europeus também ocorria, dando a chance para que os jogadores pudessem colecionar ainda mais carros, mesmo aqueles que não estavam presentes na playlist principal do dia.
Nada disso valeria de muita coisa se controlar os veículos não fossem satisfatórios e se sua física não funcionasse corretamente, mas esse foi outro aspecto que Motorfest não deixou a desejar, e fico contente em dizer que acertou em cheio.
Essa é provavelmente a melhor característica do jogo todo: é possível sentir com precisão o peso de cada carro, vencer as curvas nunca foi tão satisfatório independente da velocidade, tudo isso sem sentir momento algum que estava prestes a derrapar sem motivo aparente. Longe de ser um Need for Speed 2016 mas sem as exigências de um Gran Turismo 7, sua jogabilidade sozinha vai conquistar muitos fãs logo de cara.
Indo da customização de veículos e avatares, centenas de atividades secundárias, a exploração pelas ilhas do Havaí e até mesmo a possibilidade de importar toda a sua coleção de carros direto do The Crew 2, o novo título da franquia parece ser bastante promissor, especialmente quando se leva em conta todo o modo como a Ubisoft deu suporte para o seu antecessor desde seu lançamento em 2018.
Todavia, ainda existem algumas críticas a serem feitas diante da minha breve experiência no beta fechado. Como de costume não só no gênero, mas em todos os jogos da Ubisoft, é possível adquirir absolutamente qualquer coisa com a moeda do jogo, ou claro, seu dinheiro real.
É difícil dizer o quão impactante isso vai ser na economia do Motorfest. Durante meu tempo limitado no beta, concluir as 6 playlists foi o suficiente para comprar 2 pacotes de carros (cada um tendo três veículos), mas vale a pena notar que, assim como no mundo real, alguns desses automóveis são drasticamente mais caros que outros, dando assim uma brecha para que o jogador se sinta motivado a pular o famoso grind e gastar alguns centavos a mais.
Isso fica ainda mais salgado quando se leva em conta que seu primeiro passe anual já está confirmado e que outras microtransações provavelmente não estarão inclusas nele.
Diferente de The Crew 2, o novo local onde o jogo ocorre também parece ser extremamente menor quando comparado ao seu antecessor. Um dos maiores pontos de venda da franquia era justamente ser o maior open world do gênero, dando aos fãs mais fanáticos a chance de ter uma experiência mais realista onde era possível ir de uma ponta a outra dos Estados Unidos.
É claro que essas reclamações podem ser invalidadas em seu lançamento final, já que uma beta fechada nunca vai conseguir demonstrar tudo o que o jogo tem a oferecer, mas quando muitos aspectos de seu lançamento possuem esse fator “serviço”, é normal que jogadores se sintam mais preocupados na forma que o título pode tomar.
Apesar dessas preocupações, minhas expectativas para Motorfest são positivas! Muitos lançamentos recentes do gênero parecem ter um grande potencial no começo, mas acabam se tornando experiências mais rasas com o tempo (como aconteceu com Need for Speed Unbound ou Onrush), mas se há uma franquia que pode mudar isso, essa é The Crew.
Sendo bem acessível, tendo uma base extremamente forte e oferecendo suporte contínuo que a Ubisoft deu a seu antecessor durante cinco anos, o título tem toda a chance de ser uma das maiores surpresas do ano e uma ótima escolha para os “petrolheads” mais assíduos.