Lá se vão oito anos desde o lançamento de Tekken 7 nos arcades (seis para quem esperou a versão de consoles), e finalmente pudemos ter um gostinho, neste final de semana de beta fechado, do que a Bandai Namco nos apresenta nesta temporada fortíssima para quem gosta da boa e velha pancadaria digital. Tekken 8 está chegando e tem tudo para figurar dentre as principais iterações da lendária franquia.
O teste, como tem se tornado costume na indústria, teve como foco desenvolver o sistema multiplayer online do game, desta vez desenvolvido com famigerado netcode via rollback e que prevê, desde o lançamento, o crossplay multiplataforma, um movimento ousado e muito bem-vindo. Dito isso, os modos à disposição foram focados nesse quesito, e para além, só um tutorial bastante rápido e bem raso que se dividiu em ensinar golpes básicos e movimentos padrão; o novo sistema de heat do qual falarei mais adiante; e muito rapidamente o modelo de gameplay para iniciantes que facilita o trabalho com golpes especiais e combos. Parece bastante coisa, mas a verdade é que é um modo ainda incompleto que deixa de lado a aprendizagem mais aprofundada dos comandos mais sofisticados, algo que deve estar mais completo somente no lançamento.
Na hora da verdade, pudemos testar um modo de matchmaking ranqueado – gostei da possibilidade de se jogar uma partida rápida contra uma IA fraca só para estabelecer um ranking de início, porque logo de cara separa os veteranos dos curiosos e faz com que aqueles já com habilidades bem conhecidas possam pular etapas na escala. Há ainda a escolha por partidas casuais e que nos colocam frente a frente com pessoas em diferentes níveis, o que não chegou a ser um problema no primeiro dia já que, sendo um teste, todo mundo estava mais ou menos no mesmo barco, mas que na metade final do período se alargou um pouco mais. Por fim, havia o saguão de lobby onde havia a possibilidade de interagir em um espaço comum com a comunidade, outra tendência moderna que faz bem para o estabelecimento de uma sensação maior de pertencimento.
Outra joia já bem lapidada em Tekken 8 é a customização da experiência online. A configuração do jogo nos dá a possibilidade de priorizar entre a qualidade gráfica e a responsividade das entradas de comandos, o que parece ser uma escolha meio óbvia para quem espera mais precisão e velocidade de resposta, mas que na prática não pareceu ser uma desvantagem nem para um lado, nem para o outro. Também podemos decidir se queremos ou não deixar ligado o modelo multiplataforma e a força de conexão adversária. Os mais detalhistas terão, na própria HUD do jogo, ainda que bem discretamente no cantinho da tela, um monitoramento de cada partida, com dados de contagem de frames em tempo real juntamente com o ping da partida. Não sei se era algo só para esse momento de testes ou se vai se manter para a versão definitiva, mas ajuda bastante a transformar uma sensação em uma informação mais objetiva.
Da minha experiência, o saldo é bastante positivo em todos os aspectos. Em dezenas de partidas – infelizmente para mim, com uma contagem de derrotas um pouco mais elevada do que a de vitórias – foram pouquíssimos os momentos com qualquer atraso nas respostas, travamentos ou lags. Para ser sincero, posso contar em uma mão estas passagens, isso se eu quiser ser bastante rígido, porque em nenhuma delas eu fui atrapalhado por algo assim. A resposta está incrível, a fluidez é surpreendente e mesmo sendo uma versão preliminar do jogo, tudo funciona melhor do que a grande maioria de jogos finalizados no quesito de conectividade. Muito promissor para um jogo que tem na competitividade um dos seus grandes trunfos.
Já pela experiência em si, Tekken 8 parece ter focado esforços em potencializar e valorizar a agressividade em detrimento a modelos anteriores de mais cadência. O jogo está visceral e todas as novas implementações premiam a pressão constante e a intensidade de partidas mais diretas. Mantendo a tradição, temos novamente a presença do sistema Rage, que nos dá aquela força extra quando a coisa parece estar indo para o brejo e que deixa a luta mais tensa quando ambos estão na mesma situação. Como novidade, há agora o já citado Heat, dividido basicamente em duas entradas: a primeira, o Heat Burst é um movimento que pode ser disparado no neutro com a intenção de um ataque de impacto que abre as defesas; e o Heat Engager, um movimento especial que abre uma boa sequência que, se bem encaixada, pode definir o round.
No primeiro caso, a barra específica de Heat fica um tempo ativada e nos torna mais potentes e, no jargão dos games do gênero, nos tornam positivos por padrão. O prazo se dilata no caso de sucesso no acerto dos ataques e, portanto, premia o ataque contínuo. Combos expandidos e um maior impacto a curta distância são outras das vantagens do sistema que, ao menos nesse momento, parece ser a mecânica mais importante a se dominar para se buscar vitórias consistentes em um ambiente de equilíbrio. Claro que o jogo ainda é um Tekken em essência, então tudo o que valia antes se mantém aqui, com a necessidade do domínio de combos aéreos e ataques contínuos em defesas abertas, mas tudo isso ganha um tempero a mais com esse tal Heat.
Completa a lista de novidades a possibilidade de se alternar entre os estilos Padrão e Especial de comandos. O primeiro segue a tradição, com ataques com os dois punhos e os dois pés mapeados nos botões de rosto do controle, com o R1 dedicado ao Heat e o R2 ao Rage. O segundo oferece um atalho para combos e movimentos de impacto que não só facilitam para quem ainda está aprendendo como também podem servir como uma amostra do que aquele personagem pode fazer, inclusive porque mesmo os lutadores mais tradicionais passaram por uma boa renovação de movimentos, combos e golpes especiais.
Para ser justo e transparente, ao ser ativado, o Estilo Especial coloca na tela a lista de comandos tanto para quem utiliza quanto para o seu adversário, então é óbvia a identificação se você ou se seu oponente ativaram o sistema, o que pode ser feito a qualquer momento da luta com um toque no L1. Pelo lado positivo, automatizar ataques mais poderosos pode facilitar entradas em partidas mais apertadas, mas sendo sincero, o modelo simplifica demais as coisas, limitando o seu combate a poucos movimentos se comparado à gama de possibilidades do modelo tradicional. Em outros termos, é interessante pela aprendizagem inicial do que como algo a se adotar permanentemente, e funciona muito mais como um convite para iniciantes do que como algo a se investir a longo prazo.
Com um elenco já bastante robusto e diverso, o período de testes mostrou ainda uma potência gráfica interessante, turbinada pela Unreal Engine 5, que torna esta a entrada mais impressionante da série não só pelo óbvio maior potencial da nova geração, mas também pelo nível de detalhamento de personagens e cenários em uma estética claramente estilizada. Expressividade, geração de partículas, efeitos de iluminação, fluidez de animações, tudo está primoroso, mesmo nesta versão prévia do jogo, evidenciando um estilo que flutua entre o exagero cartunesco e o realismo expandido típico da série. Visualmente, Tekken 8 tem tudo para fazer frente a qualquer outro grande título de ponta e deve ser ainda refinado até seu lançamento, o que nos deixa com boas expectativas.
Resta agora saber mais sobre o que os desenvolvedores estão planejando para os modos single player, bem como para o suporte contínuo do game. A marca nunca se destacou pela sua inventividade para um jogador, e nesta última década os jogos do gênero tem se dedicado a esse quesito mais do que de costume. Considerando que Tekken 8 está se apropriando de várias tendências modernas as incorporando ao seu modo, até aqui, de forma muito eficiente, veremos se isso também se mostrará presente no que se refere a variedade de modos. Por enquanto, já é seguro dizer que em essência, no quebra pau, o jogo valoriza tudo o que construiu até aqui, fortalece uma identidade própria, mas se atualiza para novos tempos e um novos perfis de jogadores, algo sempre muito bem-vindo.
Acesso ao teste beta no PS5 fornecido pela Bandai Namco.