Tales of Xillia nasceu no PlayStation 3 em 2013 (mas chegou em 2011 no Japão), recebendo uma continuação dois anos depois. O jogo trazia uma qualidade gráfica parecida com a que vimos em Tales of the Abyss, de PlayStation 2, mas com uma mescla do 3D com anime. Não posso dizer que a ideia trouxe um resultado tão bom assim, mas ao menos eles tentaram.
Tales of Xillia marcava a chegada do primeiro Tales ao PS3 para os donos ocidentais do console – já que Tales of Vesperia havia sido lançado apenas no Japão -, e não vendeu tão bem quanto outros títulos da saga, como Tales of Symphonia, Tales of Vesperia ou o recente Tales of Arise, por exemplo.
Agora, com essa nova estratégia da Bandai Namco de ressuscitar antigos títulos da série Tales of em formatos remasterizados para os públicos que não tiveram a oportunidade de jogar na época, (re)nasce Tales of Xillia Remastered, a versão definitiva e cheia de melhorias em comparação ao que nos foi apresentado em 2013. A questão aqui é: será que valeu a pena esse esforço e a espera dos jogadores?

Eu, particularmente, sou um grande fã da franquia Tales of. Embora não tenha tido contato com todos os títulos lançados na era 16 bits, me apaixonei à primeira vista assim que coloquei minhas mãos em Tales of Symphonia, lançado para Game Cube no longínquo ano de 2005. Daquele momento em diante eu quis conhecer todos os jogos da série, especialmente pelas diferentes Mystic Artes, marca registrada da franquia e uma das coisas mais divertidas e que mais me chamavam a atenção.
No decorrer do tempo eu fui descobrindo novos jogos da saga Tales of e me apaixonando cada vez mais. Tales of Xillia chegou ao PS3 e eu fui conferir, mas a verdade é que, após passar por Tales of Vesperia (um dos melhores Tales of já lançados, na minha opinião), não curti muito o que presenciei em termos de jogabilidade e qualidade gráfica. Hoje, jogando a versão remasterizada, mudei um pouco minha opinião devido à qualidade de vida adicionada (que salva muito tempo) e ao polimento nos gráficos. Porém, percebi que um pouco da essência de Tales of se perde ao ativar alguns desses recursos de qualidade de vida. Mas para não confundir ninguém, vamos do começo.
Se você nunca jogou Tales of Xillia, saiba que ele tem uma das histórias mais adultas da saga e não é nada genérica. Na verdade, ela é bem politizada e mostra bem como a ganância pode corromper o homem e seu reino por completo, não importando se inocentes morrem nessa disputa pelo poder.
Aqui você pode começar o jogo com Jude ou Milla. Independentemente de quem você escolha, a história não muda, porém, nos momentos em que eles se separam é possível ver toda a ação pela perspectiva de cada um deles. Se você tem paciência para zerar um jogo desse tamanho mais de uma vez, então se sentirá muito recompensado, pois a quantidade de conteúdo que você terá nas mãos valerá muito a pena. Porém, existe algo nessa história toda que é válido ressaltar e pode ser visto como algo positivo ou negativo, a depender do ponto de vista.

Como mencionei, Tales of Xillia é um jogo que trouxe muitos benefícios graças aos novos recursos de qualidade de vida. Hoje, com o pouco tempo que temos nas mãos, de fato, perder mais de 100-200 horas num único jogo se torna um privilégio para poucos. No entanto, como também comentei anteriormente, algumas coisas fazem a essência de Tales of se perder.
Uma das coisas que dá para fazer, por exemplo, é literalmente atravessar os inimigos, transformando-os apenas em enfeites no cenário. As lutas da saga Tales of são um dos pontos altos do jogo, e ignorar isso não faz muito sentido. Mesmo que essa seja uma opção onde você pode ligar e desligar a hora que quiser, ainda penso que talvez ela nem precisasse existir, já que subir de nível é uma regra crucial em qualquer jogo de RPG.
Outra coisa que é marca registrada e dá para fazer desde o início é comprar recursos no Grade Shop, a “lojinha” de benefícios pós-game de Tales. Nela você consegue comprar coisas como experiência x5, dinheiro, carregar todas as Artes da partida anterior, mapa e muito mais. Eu, como ávido fã da franquia, penso que isso perde um pouco daquela sensação do replay. Tales of Xillia, por si só, já é um jogo que você precisa jogar duas vezes para acompanhar a história de ambos os personagens principais, então acredito que eles poderiam dar esse benefício da loja (com os pontos necessários para comprar tudo, mesmo que você não tenha adquirido durante a primeira aventura), apenas na segunda rodada.
Talvez para as futuras remasterizações eles devessem focar em manter mais a essência e diminuir a quantidade de partidas necessárias para se adquirir algo. Em Tales of the Abyss, por exemplo, você precisava terminar o jogo cinco vezes para desbloquear uma Mystic Arte, algo que nos tempos de hoje, com tanta coisa sendo lançada, seria inviável. Se a Bandai diminuir isso e reduzir para, vamos supor, duas partidas, já seria uma grande vitória, pois manteria a sensação do que é jogar um título da série Tales of, ao mesmo tempo que pensa na qualidade de vida dos jogadores que não possuem tanto tempo assim disponível para aproveitarem os seus jogos.
Para não dizerem que estou sendo chato e “cricri”, digo que mostrar os pontos de interesse, baús e sidequests temporárias no mapa foi, de fato, um excelente recurso para quem almeja os 100%. Para quem jogou Tales of Vesperia: Definitive Edition, por exemplo, sabe o quanto é sofrido perder uma missão secundária “missable” (que deve ser cumprida num determinado intervalo) por não saber exatamente para onde ir e em qual momento.
A única falha do sistema de mostrar as missões secundárias é que elas não aparecem no mapa geral do jogo, como acontece em Tales of Arise, por exemplo. Aqui você acaba sendo obrigado a se teleportar para cada cidade ou dungeon do jogo, para saber se há algo para fazer ou não. Outra opção é navegar manualmente pelo mapa e abrir estrada por estrada, mas em um determinado momento isso fica inviável, já que a quantidade de áreas para explorar cresce de forma absurda.

Quando falamos em uma versão remasterizada de algo, a primeira coisa que pensamos é na qualidade gráfica e no desempenho. Tales of Xillia entrega os dois com excelência, mas com algumas ressalvas.
Se compararmos Tales of Xillia original com o atual, veremos nitidamente a diferença, não somente na estética, mas no desempenho. O jogo está muito mais nítido e colorido, trazendo ambientes surreais de lindo, como a cidade de Fenmont, por exemplo. Alguns mapas, porém, embora estejam mais coloridos, são “vazios” e sem vida, mesmo com dezenas de monstros infestando o lugar, até porque não acho que quantidade defina alguma coisa, mas sim a qualidade do que se coloca e como.
Outro ponto que me deixou extremamente incomodado foram os “attachments“, os famosos acessórios. Nada parece se encaixar aqui. Sempre que você coloca algo que não seja padrão daquele personagem, ele parece não se “moldar” às roupas utilizadas, causando um desconforto visual gritante ao ver tudo “se atravessando”. O mesmo vale para a interação com os cenários. Minha Milla, por exemplo, estava usando a roupa do Dhaos, de Tales of Phantasia, mas ela sempre atravessava os móveis ou outros ambientes, e isso acontece com todos os trajes. Sinto que faltou um carinho nessa parte, parecendo que foi feito às pressas e de qualquer jeito.
O desempenho, por sua vez, deixa o jogo muito mais fluido e divertido de se jogar. É uma mudança muito bem-vinda, especialmente nos embates que precisam de movimentos rápidos e certeiros. As cenas também ficaram muito mais divertidas de se assistir. Para complementar, o loading é quase inexistente, algo que em um JRPG é super bem-visto, justamente para não perdermos o ritmo do que está acontecendo.

Tales of Xillia é um bom Tales of. Ele não é um dos melhores, mas a história com certeza chama muita atenção pela profundidade que ela traz. Porém, eu sinto que essa remasterização poderia ter sido feita com um pouco mais de cuidado, e a prova disso está na falta de legendas em português do Brasil, algo crítico para os brasileiros que não possuem conhecimento da língua, ainda mais com uma história tão complexa e tantos termos difíceis de se acompanhar.
Eu torço para que no futuro eles adicionem uma localização e que em Tales of Xillia 2 eles tragam suporte à língua desde o lançamento. Tales of não é um jogo muito mais conhecido no oriente, mas que pode ter esse cenário contornado se valorizarmos mais outros países. Não só isso, mas o cuidado com a física também faria muita diferença, mostrando que eles realmente se importam com aquilo que estão fazendo.
Em geral, Tales of Xillia é um bom Tales of que, embora tenha algumas ressalvas, consegue ser melhor que o remaster de Tales of Symphonia. Com uma jogabilidade que não se datou no decorrer do tempo, gráficos remasterizados e desempenho aprimorado, ele pode ser uma boa escolha caso queira conhecer mais do mundo dessa franquia.
Tales of Xillia Remastered está disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S e Steam sem localização nas legendas ou menus para o português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Bandai Namco.



