Um dos grandes méritos da iniciativa EA Originals é permitir que jogos menos convencionais tenham uma plataforma e atenção maiores do que teriam tentando se lançar como um jogo independente no superlotado mercado atual de games. Quando se torna impossível até mesmo para os mais dedicados dos curadores identificar certas jóias no mar de pequenos títulos, ver uma publisher de renome como a EA apoiando projetos com ambição e com uma mensagem importante a passar é muito bem-vindo.
Assim, quando recebemos o convite da EA para ver um pouco mais do próximo jogo dessa linha, era difícil não se empolgar. Afinal, Tales of Kenzera: ZAU, desenvolvido pela Surgent Studios sob a liderança de Abubakar Salim, um premiado ator mais conhecido na indústria de videogames como o dublador original de Bayek em Assassin’s Creed: Origins. Abu diz que o estúdio formado com a intenção de criar títulos que tratam sobre o que nos faz ser humanos, algo mais cru e real que vai além das restrições de cor ou gênero.
A história de Abu é extremamente importante para o jogo, sendo claro a cada momento do evento no qual participamos a paixão dele pelo título e a significância pessoal que essa narrativa tem pra ele. E essa dedicação transborda a cada momento do que pudemos ver do título, dado o quanto ele fala sobre emoções, espíritos e sobre a finalidade da vida, parecendo muito uma forma de lidar com o luto da perda do pai dele.
O que temos aqui é um metroidvania no qual o jogador controla um jovem xamã chamado Zau que faz um acordo com Kalunga, o Deus da Morte, no qual Zau precisa entregar a ele três espíritos em troca da ressurreição do seu pai. Abu fala que é sobre uma pergunta que ele se fazia todos os dias após a morte do seu pai sobre o que ele sacrificaria para tê- lo de volta. Ele é inspirado pelas histórias dos povos Bantu, grupo étnico comum no Centro-Sul da África, que eram contadas a Abu por seu pai.
A escolha pelo gênero foi bem deliberada em razão de metroidvania e seu constante ciclo de ser colocado em um mundo que você não conhece e aos poucos vai se tornando mais confortável, algo que ele compara muito com a forma como somos colocados no luto e aos poucos aprendemos a lidar com a perda e a habitar aquele mundo. É sobre o poder transformador de uma perda.
O jogo é construído sobre uma estrutura caótica, mas constante, sobre a dualidade da vida e morte, uma constante entre a comunicação entre os vivos e aqueles que perdemos. Ele é bastante inspirado pelo universo da cultura Bantu e o crescimento de Zau sobre como sair de uma criança xamã e se tornar um homem xamã. O constante conflito e sinergia entre os aprendizados do crescimento da vida.
O jogo visualmente é bem inspirado em títulos como Ori, sendo mais colorido do que se esperaria de um jogo sobre luto. Isso se dá pela diferença de culturas Bantu e a forma como as culturas ocidentais lidam com o luto. As cerimônias Bantu são muito sobre celebrar a vida dos que se foram, mais uma vez abordando a questão da dualidade do jogo. Cada bioma lida diferentes sentimentos, sejam eles na exploração ou no hub central do título. Há muito significado em cada detalhe que nos foi mostrado e é necessário dizer que ficamos muito empolgados com o que vimos.
Em termos de combate, a promessa é que Zau contará com duas máscaras que serão usadas através do sistema chamado de “Dance of the Shaman”: a Mask of the Moon, focada em controle de grupos e ataques à longa distância; e a Mask of the Sun, focada em combates corpo-a-corpo com um inimigo só. É mais uma demonstração da dualidade que o título aborda e saber como alternar entre elas nos momentos certos parece ser o cerne do combate. Existem diferentes inimigos ligados a essas mecânicas, além de chefes gigantescos representando cada parte dessa jornada de luto.
Como todo bom metroidvania, a movimentação é uma parte essencial do jogo. Zau possui algumas habilidades à disposição no começo do jogo, como pulo duplo, dash e wall jumps, mas muito mais possibilidades vão se abrindo ao longo do jogo que, naturalmente, permitirão ao jogador acessar novas áreas que antes não seria capaz. Uma promessa importante é que, nas palavras dos desenvolvedores, o jogo não contará com missões desnecessárias, com tudo sendo planejado para mover a narrativa para frente, evitando assim conteúdo destinado só a aumentar a duração do jogo.
O jogo promete também conter uma estrutura focada em loopings, mantendo sempre uma sensação de progressão aos jogadores e de quebra de linearidade, mas sendo bastante intuitivo para jogadores menos acostumados com o gênero. Diferentes habilidades vão surgindo e permitindo ao jogador superar barreiras, passando por novos caminhos e descobrindo atalhos que irão permitir uma exploração mais ágil e interessante com o mesmo ambiente trazendo diferentes experiências de gameplay.
Por fim, pudemos ver um pouco da trilha sonora e ela parece bem, bem excelente. Há uma mistura e riqueza sonora bem intrigante, com elementos musicais africanos tradicionais do Sul, Centro e Leste do continente, misturados com elementos modernos e orquestrais. O uso de instrumentos musicais tradicionais da região com elementos de afrofuturismo trazem um som e ritmo riquíssimos que devem fazer com que a trilha sonora seja empolgante não só enquanto se joga, para se ouvir também em outros momentos. A trilha conta com corais em várias músicas, incluindo o mesmo coral que gravou vozes para a trilha sonora do filme Pantera Negra.
De várias formas, Tales of Kenzera: ZAU é uma carta de amor do seu diretor criativo ao seu pai e as experiências que o formaram. E essa paixão transparece em tudo que pudemos ver, se consolidando em um título imensamente promissor e no qual tudo que vimos Nós mal podemos esperar para finalmente tê-lo em mãos e poder jogar um dos mais interessantes jogos de 2024 quando ele finalmente for lançado para PlayStation 5, Series X|S, Switch e PC no dia 23 de abril. E cabe lembrar que ele estará incluso nos títulos da Ps Plus Extra neste mês.