A evolução e completa distinção dos RPG de ação é um fenômeno atual. Enquanto muitos seguem a alcunha como apenas forma de apresentar seu jogo que mais é um misto de várias coisas, outros ainda tentam manter o estilo mais padrão e tradicional ao que era originalmente. Com o recém lançado remaster de The Elder Scrolls IV: Oblivion, o retorno ao padrão de anos atrás nos dias de hoje mostra claramente a evolução que o estilo teve e que deve continuar sendo tendência por vários anos.
Tainted Grail: Fall of Avalon é um RPG de ação nos moldes de vários The Elder Scrolls para boa de suas estrutura principal, mas com uma ambientação bem diferente. Com grande foco na fantasia sombria de seu mundo e uma história que apresenta mais de uma visão principal, o jogador irá se deparar com uma jogabilidade até familiar e que foi presente ao longo dos anos, assim como algumas novidades que não viram tanto em jogos do tipo.
Baseado nas lendas do Rei Artur, Fall of Avalon mostra um mundo que tem se tornado cada vez mais sombrio séculos após a queda do rei durante a conquista da ilha de Avalon pela humanidade. Monstruosidades, magia negra, seitas, eventos demoníacos e mais tem tomado conta novamente e ameaça a sobrevivência dos humanos. Nesse meio termo, o jogador assume um prisioneiro libertado que acaba tendo contato com Artur e é incumbido de restaurar a alma e corpo do rei como uma salvação do local.
Como tudo não é apenas preto e branco, o libertador do seu personagem, e também membro de uma seita humana, acaba contando uma outra realidade, onde Artur é o causador de todos os eventos e seu retorno seria trágico. Com uma dualidade inicial da história que irá se desenvolver muito além disso, cabe ao jogador procurar não apenas alguma verdade em todas as histórias apresentadas de cara, mas também seu próprio caminho de sobrevivência numa disputa em que parece ser apenas uma marionete.
Seguindo quase à risca os moldes dos mais recentes The Elder Scrolls, mesmo que já tenha quase 15 anos do último original, Fall of Avalon é uma boa homenagem e também um produto de forte influência que ainda mantém sua originalidade. De certa forma, o estilo é quase inalterado e isso serve para ambos os lados dessa avaliação. Esperar algo diferente de um TES vai acontecer mais na ambientação e história, enquanto o restante é uma estrutura muito similar.
Enquanto o estilo já conhecido do RPG de ação com mundo aberto favorece o jogador em sua total liberdade de explorar e viver o jogo da forma como preferir, a estrutura de narrativa se mantém muito aberta e até mesmo dependendo das ações do jogador. Da mesma forma como um TES, não espere um grande foco na entrega de uma história aqui, mas sim encontrar as maiores vantagens do jogo em sua estrutura de jogabilidade e mais do tipo.
Com 3 áreas do mapa de Avalon para exploração e dezenas de locais de interesse, assim como personagens e missões, o grande destaque aqui fica pela pesada ambientação na fantasia sombria e todo o design baseado nisso. Desde modelagem de inimigos e locais, estrutura de mundo, eventos que diferem em locais e até tempos do dia, estilo de itens e muito mais fazem isso ser o toque mais único e exclusivo encontrado no jogo.
Seja uma noite mais perigosa com diversos inimigos e um senso de urgência e perigo maior ou explorar locais tomados por demônios invocados para o caos, o jogador irá encontrar cenários únicos e que vão valorizar a exploração com itens e missões que justificam a curiosidade. Com o maior interesse exatamente numa estrutura quase básica para um sandbox, quase tudo o que é encontrado pode ser usado de alguma forma e justifica ir atrás de qualquer novidade.
Como existe um grande sistema de criação de itens, assim como poções e alimentos com benefícios, o jogador irá aproveitar o que encontrar sempre que possível, mesmo que no fim seja apenas para recursos a serem usados. Essa imensidão de objetos com algum objetivo que seja é algo que ao longo do tempo enche o jogo de coisas mais desnecessárias do que úteis, mas que nas mãos do jogador que decide investir nisso acaba sendo um prato cheio de opções.
Apesar de ser muito fã do estilo de TES, acho que a evolução da série e jogos inspirados nisso deveriam passar mais para um mundo repleto de histórias e eventos que justifiquem a liberdade e menos para acúmulo de quinquilharias que força mais o jogador a se perder em menus e gerenciamento de itens. Fall of Avalon não deu esse salto ainda, mas a qualidade do mundo e seus eventos já é um passo à frente no que vimos em outros jogos.
O combate é sempre um grande atrativo e aqui não é diferente. Com uma gama de opções para isso, visões diferentes, caminhos de evolução ramificados, diversos equipamentos e mais, voltamos ao ponto da liberdade de opção para o jogador. Funciona bem e é responsivo, assim como uma percepção de impacto e peso nos golpes físicos, mas o diferencial fica por conta das magias que tem leva alteração, levando a não ser tão preciso e que é algo até benéfico. Arremessar uma bola de fogo nem sempre pode cair no mesmo lugar e dá uma sensação de algo mais real, se é que se pode dizer isso.
O jogo como um todo tem uma estrutura muito acertada, desde o design e ambientação do mundo aberto, as atividades encontradas, sistema de criação e itens, evolução e progresso diverso que representa as ações do jogador, combate divertido e mais. Para os fãs de qualquer TES é uma opção diferente em história e ambientação, mas muito inspirada e já enraizada em par com o trabalho realizado pela Bethesda em seus jogos. Entretanto, toda a parte técnica do jogo, incluindo capacidade visual, é um tanto aquém principalmente com os diversos recursos que temos hoje em dia.
Vindo direto do Early Access na Steam e com uma boa reputação entre os jogadores, a entrega do jogo nos consoles está longe de ser algo sequer adequado para esse geração. Apesar da versão para review ter chegado de forma antecipada, diversos problemas impediram um progresso melhor. Algumas atualizações já repararam problemas mais severos, mas ainda é possível encontrar alguns bugs que podem inclusive apagar seu save e te fazer recomeçar novamente.
É esperado que o título receba constantemente atualizações para chegar a um estado muito melhor do que o atual, principalmente para ajustes técnicos e visuais. Para se ter ideia, a única opção de execução era um modo qualidade, em 1080p a 30fps, o que já não é mais o adequado. O estúdio já informou que trabalha para entregar a melhor versão possível o quanto antes, mas é provável que algumas semanas sejam necessárias para isso. Além disso, o jogo não vai ser nenhum primor visual de certa forma. Falta uma modelagem de personagens e objetos melhor e algumas animações são bem rudimentares. Ainda que muito disso possa ser melhorado, boa parte também parece ser limitação do próprio jogo ou engine, talvez não sendo possível ir muito além também.
Dentro disso tudo há um ponto positivo interessante que é na interface do jogo. Simples e usual, mas também explicativa e intuitiva, acessar menus e até os comandos de acesso rápido em tela é mais prático do que esperava de um jogo com tantas opções assim. Com opções e personalizável para uma melhor experiência, nisso o jogo realmente tem um grande acerto e é algo que é muito mais notado após dezenas de horas de jogo.
O trabalho da Awaken Realms em Tainted Grail: Fall of Avalon é algo notável principalmente como sendo feito por fãs do estilo. As inspirações em TES ficam nisso, sendo uma base para um jogo que tenta alcançar e entregar sua própria marca. O peso da fantasia sombria é algo que destaca muito o título para a diferenciação com outros jogos. Apesar de tudo isso, ainda carece de muito trabalho técnico para uma versão superior nos consoles e mais próximo de um trabalho aceitável nessa parte. Com certeza é um jogo que todos os fãs precisam ficar de olho, mas que talvez vale esperar algum tempo até um estado geral melhor do que o atual.
Tainted Grail: Fall of Avalon está disponível para PS5, Xbox Series e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Awaken Realms.