Tendências nem sempre são uma coisa negativa na indústria dos videogames. Enquanto algumas desenvolvedoras pegam estilos e gêneros que entram “na moda” e os regurgitam e reciclam até ninguém aguentar mais, algumas outras realmente inovam e colocam um sabor diferente na receita.
Com o “boom” dos Battle Royales, claro que eles não ficariam de fora desse ciclo. Enquanto clones de Fortnite são bem comuns, é importante perceber que existem mentes criativas dedicadas a criar iterações novas do conceito, trazendo o suficiente para cavar o seu próprio nicho dentro do mar de jogos disponíveis.
E enquanto eu poderia usar isso para introduzir o sucesso avassalador dos últimos meses conhecido como Fall Guys: Ultimate Knockout, na verdade essa análise é sobre outro Battle Royale recente. Um ainda mais mágico do que feijões antropomórficos nas Olimpíadas do Faustão. Um com magia de verdade. No caso, Spellbreak.
Em Spellbreak você assume o papel de um mago de batalha em um mundo em que magia foi proibida e só pode ser utilizada em arenas específicas sob a autorização dos Vowkeepers e mediante o uso de manoplas elementais. Cabe a você e seus companheiros aprender como domar o poder dessas manoplas para se tornar um breaker e mudar os rumos de Primdal.
Vamos ser bem claros aqui: esse não é um jogo focado na história. Ele mostra um pouco da sua lore e promete revelar mais e mais à medida que as temporadas do jogo forem ocorrendo. Essa abordagem é algo que é bem comum para um jogo vivo e em constante evolução (é parecido com o que ocorre em Apex Legends e o prometido para Marvel’s Avengers, por exemplo), então ela também não é algo novo.
Mas funciona. Tem algo de bem cativante na forma como o mundo e a história por trás das batalhas de Spellbreak são apresentadas, que realmente consegue te manter interessado no que pode vir por aí. É claro, pela sua própria natureza, lore é algo mais voltado para os fãs hardcore, mas é inegável que a forma como o jogo apresenta sua ambientação e o funcionamento da magia nele é bem intrigante e faz mais para te manter interessado no mundo do que vários outros jogos multiplayer.
Claro, sendo um jogo apenas multiplayer, a história é o menos importante. É bom poder dizer então que no seu gameplay é onde Spellbreak realmente brilha. O que temos aqui é um tradicional Battle Royale em que trios precisam lutar para sobreviver em um mapa no qual um círculo vai se fechando cada vez mais e, caso o jogador não esteja dentro do círculo ao fim do período de tempo, ele vai perdendo energia até morrer ou entrar na área segura.
O mapa não é dos maiores já vistos em um Battle Royale, mas isso não é um problema, já que ao invés de jogar 100 ou 150 jogadores na arena, aqui temos a interessante escolha de 42 jogadores, o equivalente a 14 trios. Além disso, ao invés de ter que pular de algum veículo voador, a equipe escolhe em qual das áreas ela vai aparecer e então, após o tempo de seleção, ela cai naquela região inicial e pode avançar daí (e os membros do trio não precisam nascer juntos).
Essa dinâmica funciona porque Spellbreak abandona o ritmo acelerado de outros BRs em que um possível encontro com outro jogador pode resultar na sua morte sem que você sequer tenha tempo de reagir. Embates entre magos acabam se tornando verdadeiros duelos, durando às vezes até mesmo minutos, fazendo com que o jogador não só precise saber mirar, mas efetivamente conhecer os efeitos das suas magias.
Esse é outro elemento em que temos uma certa mudança em relação a norma do gênero. Ao invés dos jogadores todos caírem equipados com um item fraco, cada um pode escolher uma entre as seis diferentes classes presentes no jogo, cada uma vinculada a um elemento, com a sua manopla inicial sendo determinada por isso.
Essas classes são: Frostborn (usuários de magias de gelo); Conduit (portadores da manopla elétrica); Pyromancer (que empunham fogo); Toxicologist (que usam a manopla de veneno); Stoneshaper (com poderes de pedra) e Tempest (cujas magias são derivadas do elemento ar). Cada classe primária é responsável pelos seus ataques com R1 (ataque básico) e R2 (ataque de área), com os jogadores podendo equipar outras manoplas encontradas no mapa e suas magias sendo designadas para o L1 e L2.
Um aspecto bem interessante dos elementos é que as magias não existem em um vácuo. Cada uma delas tem suas próprias características distintas (segurar R1 com a manopla de gelo carrega uma flecha, enquanto com a elétrica solta um raio constante, por ex.), e elas, inclusive, interagem entre si e podem ajudar bastante na resolução das batalhas.
Por exemplo, digamos que um membro da sua equipe está com as manoplas de vento e elétrica, enquanto você está com fogo e veneno. Ele pode criar um furacão com R2 enquanto você usa R1 na magia dele para tornar este um tufão de fogo. Ou você pode criar uma nuvem venenosa que, usando a manopla elétrica, além de envenenar, também eletrocuta o seu adversário e que pode até mesmo explodir caso você use uma magia de fogo nela.
As combinações são bem variadas e impressionantes e podem mudar completamente o resultado de um combate e ser a diferença entre a vida e a morte. Aliás, morrer é outro elemento em que Spellbreak é diferente. Cada jogador derrotado vira uma bola de energia que pode ou ser revivida no mesmo lugar pelos seus aliados ou ser banida definitivamente daquela rodada pelo seu adversário (ou reviver caso nenhuma das duas coisas aconteça dentro de um timer e a sua equipe não seja toda derrotada).
A exploração dos mapas, entretanto, funciona como em outros jogos similares, com a grande diferença ficando pelo fato de ao invés de correr, você poder planar usando sua magia. O jogador pode encontrar manoplas melhores (com a do braço direito podendo ser trocada por outras de raridade maior e as do braço esquerdo trocadas livremente), além de botas, cintos, amuletos e runas que causam efeitos distintos das manoplas, como teletransporte, voo, invisibilidade, entre outras.
Além disso, existem pergaminhos que melhoram o efeito das suas magias, além de poções de cura e armadura que podem ser encontradas e utilizadas para te manter vivo durante cada partida. Inimigos derrotados e banidos dropam todos os seus itens, então é outra forma de melhorar o seu loadout.
No geral, o modo Battle Royale do jogo é bem legal e vai te manter entretido por muito tempo, algo que acaba sendo resultado do quão divertido é explorar os mapas e, principalmente, os combates usando magia e o quanto cada batalha pode terminar de formas imprevisíveis. Felizmente, o jogo conta com um sistema de progressão bastante sólido para te manter bem recompensado quanto mais você joga.
Spellbreak conta com dois tipos de progressão distintos, um para o perfil geral do jogador e outro para cada classe. Ao completar uma partida, você ganha uma determinada quantidade de pontos baseados na sua classificação, quanto dano você causou, sofreu, etc, com a pontuação total sendo convertida em experiência e adicionada ao seu perfil. Além disso, existem missões que podem ser completadas e te dão uma quantidade determinada de XP que também te ajudam a subir de nível.
Subir o nível de classe (ou Maestria de Classe) te permite personalizar o funcionamento daquela manopla, alterando os ataques delas, incluindo efeitos distintos e personalizando-as para funcionar melhor com o seu jeito de jogar (cada classe tem em 20 o seu level cap). Isso tanto te incentiva a jogar com manoplas que você não jogaria inicialmente, para poder modificá-las como preferir, quanto serve como uma boa razão para focar na manopla que você mais gostou (e há um modo de treinamento para você testá-las antes de ir para as batalhas reais).
Já o perfil geral é refletido na sua progressão para aquisição de itens cosméticos no jogo. Em relação a isso, existem várias coisas que podem ser adquiridas a medida que você avança, como trajes, gestos, triunfos, emblemas, cartas, artefatos e até mesmo o rastro deixado quando você desce ou plana no mapa. Além disso, subindo de nível você vai ganhando ouro (em certos pontos na Maestria de Classe em em todos os Ranques de Mago) que pode ser usado para comprar esses mesmos itens cosméticos na loja do jogo.
É claro, sendo um título gratuito, você não vai ganhar tanto ouro assim a medida que vai subindo de nível. Felizmente, as microtransações não são nem um pouco invasivas e você raramente as vê, sendo limitadas apenas a parte cosmética. É claro, ainda há um certo grind para adquirir itens cosméticos e há uma certa pressão pela loja ser de tempo limitado, mas não é algo que influencia diretamente a sua possibilidade de vitória, então é realmente é algo menor.
Dito isso tudo, é inegável que Spellbreak é um sucesso. Fora as várias qualidades já apontadas, é importante dizer que o jogo roda bem no PS4 e é visualmente bem agradável (lembrando o estilo cartunesco adotado por Fortnite), além dos efeitos sonoros serem bem legais. Junte isso a ele ser bem distinto e único na sua abordagem ao gênero, é inegável que o que temos aqui é um Battle Royale de sucesso que merece a sua atenção.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Proletariat, inc.
Veredito
Adotando uma abordagem única e mecânicas bastante divertidas, Spellbreak consegue entregar um Battle Royale que chama e merece a sua atenção, em especial se você estiver cansado de jogos de tiro, pelo quão divertidas todas as suas partidas conseguem ser.
Veredict
Adopting a unique approach and fun mechanics, Spellbreak manages to deliver a Battle Royale that deserves your attention, especially if you are tired of shooting games.