A série Sniper Elite, ao longo de seus quatro jogos principais, além dos derivados Nazi Zombie Army, conquistou um público fiel, que não se importa com grandes histórias ou personagens cativantes, e muito menos com os padrões estabelecidos pelo bom-mocismo.
Explosões monumentais, sangue jorrando a esmo, crânios se partindo e órgãos sendo perfurados são alguns dos elementos base que incorporam Sniper Elite e colaboram para seu longevo sucesso.
Após eliminar a ameaça nazista no norte do continente africano, nosso herói, Karl Fairburne, sobe o mediterrâneo e aporta na Itália, mais uma vez para acabar com os planos de produção de uma nova arma com grande poder de destruição.
Mesmo com uma história bastante simples, a Rebellion ainda tenta criar um pano de fundo, colocando personagens secundários com os quais é possível dialogar antes de cada missão. Infelizmente a maneira apática como são tratados, com inspirações e reações totalmente previsíveis e que pouco consternam o jogador, deixa tudo extremamente desinteressante.
Por outro lado, apesar da história rasa, a enorme liberdade que o jogo dá para completar os objetivos é o que de fato empolga o jogador. Somos colocados em mapas imensos, que funcionam como mundos-abertos, onde as táticas de infiltração ficam a cargo exclusivamente de quem joga. Ou seja, não há nada parecido com o que acontece em Assassin’s Creed, por exemplo, em que o jogo prende o jogador com uma rédea, e um “ai” fora de hora faz com que o objetivo falhe.
Se a missão é destruir um imenso canhão posto sobre uma ponte enorme, não importa se o jogador chegou até lá sem ser visto, fazendo-se valer apenas de táticas furtivas, ou se atirou em todos os barris de combustível e explodiu todos os veículos que viu pela frente. Ou seja, há um objetivo claro e definido e, contanto que seja completado, não há importância na maneira como o faça.
A campanha se divide em oito missões principais, que podem ser jogadas solo ou em cooperativo, além de mais duas que são exclusivamente cooperativas. Entre objetivos principais e secundários, cada uma delas pode levar facilmente mais de uma hora para serem completadas, especialmente se o jogador escolher a furtividade como tática de execução, o que, além de exigir uma grande paciência, também consome uma enorme quantidade de tempo.
O modo exclusivamente cooperativo, aliás, é um dos grandes trunfos de Sniper Elite 4. Cada um dos jogadores tem funções distintas. Um deles fica limitado às áreas que cercam o mapa, em partes mais altas, munido de sua sniper, enquanto o outro jogador vai a campo executar os objetivos, armando bombas, pegando documentos e, claro, marcando os alvos no mapa para facilitar o trabalho do sniper. É a definição perfeita do que é um modo cooperativo, no qual uma parte não funciona sem a outra.
O outro modo que também pode ser jogado tanto sozinho como até com outros três jogadores é o Sobrevivência, modo clássico em que se enfrentam ondas de inimigos cada vez mais bem armados.
Já o multiplayer competitivo tem os seus altos e baixos. Os modos Deathmatch e Team Deathmatch, talvez por serem genéricos demais, acabam não soando bem com a proposta de se utilizar snipers para eliminar os inimigos. O modo Rei da Distância pode até ser mais interessante, mas apesar de ganhar quem soma a maior distância dos tiros, na prática ele funciona de maneira semelhante ao mata-mata padrão.
Os modos mais interessantes são justamente os que fogem um pouco dessa mesmice. No modo Controle, as duas equipes devem manter a posse de uma determinada área, que vai mudando de localização conforme o decorrer da partida. Mas de longe o modo mais divertido é Separados, no qual as duas equipes ficam divididas por uma área intransponível. E como não há combate cara a cara, o jogador é impelido a usar unicamente sua sniper.
A progressão de nível, além de ser unificada entre os modos campanha e multiplayer, dá ao jogador o direito de liberar novos armamentos, desde os rifles, submetralhadoras, pistolas, ou explosivos e armadilhas. Armas clássicas como Karabiner 98K, Springfield e Lee Enfield marcam presença. E a adição do silenciador aos rifles é muito bem vinda, pois aumenta a possibilidade de se fazer infiltrações furtivas.
Entretanto, de forma geral o arsenal à disposição do jogador deixa um pouco a desejar. A quantidade até que é razoável, mas infelizmente muitas das armas são obtidas apenas pela compra de DLCs, assim como algumas camuflagens também têm de ser pagas para serem usadas.
Em contrapartida, a Rebellion garantiu que novos modos e mapas para o multiplayer futuramente adicionados serão totalmente gratuitos.
Independente do modo de jogo, uma coisa é padrão em Sniper Elite 4: seja em um pequeno vilarejo à beira mar, em uma base localizada em uma ilha isolada, ou em uma instalação militar escondida no topo de uma montanha, os cenários são todos muito bem construídos. Não há a sensação de se estar passando sempre pelos mesmos lugares, com prédios, tendas e demais construções repetidas. Depois de jogar uma ou no máximo duas vezes cada missão, o jogador já tem em mente cada área do mapa, o que facilita muito a localização dos objetivos para completar os desafios extras ou coletar a imensa quantidade de colecionáveis.
A beleza dos cenários é ainda mais realçada com as cores vivas e bem definidas e o excelentes gráficos. A performance não deixa a desejar. O jogo roda sempre acima dos trinta quadros por segundo, o que para a proposta do jogo é satisfatório e não causa nenhum desconforto.
Ainda quanto à parte gráfica, a visão de Raio-X está mais violenta do que nunca. Tanto nos tiros de longa distância, ao perfurar crânios, como no combate corpo a corpo, ao partir o maxilar com uma joelhada. Por ser extremamente exagerada, a violência gráfica confere um tom quase galhofeiro ao jogo.
O design de som, especialmente nos momentos de câmera lenta e explosões, e a trilha sonora marcante, também desempenham muito bem o seu papel e aumentam ainda mais a imersão de Sniper Elite 4.
A novidade fica por conta da dublagem em português brasileiro, que é excelente. Não só a escalação dos atores foi assertiva quanto às suas vozes, como também a direção de dublagem é muito boa.
Por outro lado, as traduções dos textos são irregulares. Algumas palavras e expressões foram traduzidas de maneira equivocada. Como, por exemplo, quando os inimigos estão investigando a área e aparece a mensagem “Pesquisa de Inimigo”, sendo que em inglês está escrito “Enemy Searching”, cuja tradução mais precisa seria algo como “Inimigo Investigando”.
Veredito
A Rebellion parece ter encontrado em seus jogos uma receita simples, mas que agrada a todos. E com Sniper Elite 4 não é diferente. História e personagens rasos não são problemas. Pelo contrário. Parecem realçar ainda mais o excelente gameplay, tanto com suas mecânicas furtivas, como o excelente design de níveis, além, é claro, da visão em Raio-X, provavelmente a grande marca registrada da série.
Jogo analisado com código fornecido pela Rebellion.