Análise – Romancing SaGa 3

Dois anos atrás quando a Square Enix trouxe Romancing SaGa 2 para as plataformas atuais, um dos pontos principais que eu fiz questão de apontar em nossa análise foi o quão o jogo era uma experiência diferente do quanto estamos acostumados a ver em JRPGs, sejam os grandes nomes tradicionais do gênero ou as tentativas mais modernas de experimentar com o formato mais “padrão” que eles seguem.

De alguma forma, Romancing SaGa 3 é uma experiência ainda mais distinta do que o seu predecessor. Com a remasterização lançada agora para PS4 marcando a primeira vez que o terceiro jogo da sub-série chega ao Ocidente, a constante sensação que se tem com RS3 é a mesma de RS2: uma constante experiência de se estar olhando para um passado perdido e imaginar o que poderia ter sido através de um jogo que consegue ser em iguais partes excitante e frustrante.

O primeiro fator que chama a atenção vem logo nos primeiros momentos. O jogador precisa escolher entre um de oito possíveis protagonistas diferentes, com o personagem escolhido servindo como o prisma através do qual o jogador verá os eventos do jogo se passando. Essa grande variedade de perspectivas é algo muito importante pois RS3 é um tipo de experiência relativamente pouco encontrada na indústria: um verdadeiro JRPG não-linear.

Romancing SaGa 03

Apesar dessa ser a grande marca da franquia, é especialmente impactante olhar pra Romancing Saga 3 hoje, 24 anos após o seu lançamento original no Japão, e ver o quão bem resolvido o jogo é em sua capacidade de trazer caminhos distintos e interconectados. Isso fornece liberdade ao jogador para customizar a experiência e moldá-la ao seu bel prazer, em muitos aspectos até melhor do que jogos similares que serviriam como “sucessores espirituais” dele, como Live a Live e Octopath Traveler.

A narrativa como um todo gira em torno de um evento cataclísmico que ocorre a cada 300 anos nesse mundo. Chamado de Rise of Morastrum, através do qual o sol é bloqueado trazendo consigo a morte de todas as formas de vida existentes, algo que só pode ser evitado através de uma criança escolhida, sendo que essas crianças passariam a ser conhecidas como o Archfiend e a Matriarch, restando a dúvida de quem será esse escolhido e o que ele fará quando o Rise of Morastrum finalmente ocorrer.

A narrativa de RS3 é a sua maior força. A opção por essa história não-linear não só traz um “fator replay” enorme ao jogo, afinal, é possível ver o desenrolar da história de pontos de vista distintos, com personagens de origens, personalidades e objetivos muito distintos, mas ele também lhe dá a possibilidade de explorar o mundo e realizar missões e eventos secundários na ordem e no ritmo que o jogador preferir, com missões (incluindo minigames) específicas para cada possível protagonista.

Romancing SaGa 03

Isso só é possível porque o conjunto da história como um todo, quando conectado e ao se explorar as maiores nuances de cada uma das diferentes narrativas entrelaçadas aqui, resulta em uma bela trama com ótimos nuances que vão além das narrativas mais básicas que costumamos ver hoje. Isso reflete muito bem o tipo de teia complexa que a Square era especialmente adepta a fazer nos anos 90, bem aos moldes do que vemos em Final Fantasy VI e Final Fantasy Tactics, por exemplo.

Mesmo com esses toques de intriga política que costumam render alguns dos melhores contos de fantasia medieval já vistos, ainda temos aqui a típica jornada envolvendo a necessidade de se derrotar um grande mal e fechar um portal que pode acabar com o mundo, mas tudo é muito bem contado e motivado, fazendo com que o jogador se sinta compelido a partir nessa aventura.

E é exatamente por usar essa aventura para apresentar ao jogador ótimos personagens, criar um desafio mecânico e looping de jogabilidade divertidos e conseguir transmitir uma sensação de exploração sem muito direcionamento específico e limitante que ele consegue ser um bom jogo com uma história que consegue se pintar como algo único para cada jogador, muito mais dependente das suas decisões e escolhas do que de caminho narrativo específico. Algo que se reflete até mesmo no fato de novas áreas surgirem ou ficarem completamente ausentes do mapa com base em com quem você fala e quais missões cumpre.

Romancing SaGa 03

Já na parte mecânica do jogo, ela se ampara em muitos dos conceitos que já se via nos jogos anteriores da série, especialmente RS2. O sistema de batalha é o mesmo, se passando por turnos com o jogador escolhendo as ações da sua equipe como um todo e depois elas sendo executadas na ordem de ação de cada personagem e dos inimigos. Há uma considerável ênfase em formação da equipe, com o posicionamento dos membros dentro do campo de batalha sendo importante para determinar o rumo das batalhas.

A evolução dos personagens também é bastante similar. Você equipará diferentes armas em cada membro da sua equipe e melhorará as estatísticas e aprenderá novas habilidades ao usá-las. Alguns personagens recrutáveis (e há muitos deles, construindo sobre a temática de guerra do jogo) tem maior afinidade com determinados equipamentos, mas isso não fica muito claro de cara, sendo necessária uma boa dose de experimentação e testes para se tirar o que há de melhor de cada um deles.

Uma peculiaridade aqui é a existência de um Commander Mode para o combate, na qual o jogador abdica do controle dos demais membros da equipe (que é o modo normal, Fighter mode) e passa a comandar apenas as ações do protagonista, determinando parâmetros de inteligência artificial através dos quais os demais personagens irão decidir como agir em combate, como uma espécie de forma embrionária do que viria a ser o Gambit System de Final Fantasy XII.

Romancing SaGa 03

Além desses sistemas presentes nas batalhas comuns, existem alguns momentos em que o jogo lhe coloca diante dos “Mass Combats”, novamente canalizando a ambientação do jogo e o clima de guerra civil ali existente. Nessas batalhas, ao invés de controlar personagens em específico o jogador assume o controle de exércitos, sendo seu papel determinar as táticas e formações de batalha e então ver a luta se desenvolver sozinha. É um sistema relativamente simples mas que qualquer erro acaba se tornando fatal, além de capturar bem o clima do jogo.

É claro, esse mar de sistemas e a falta de um direcionamento mais restrito podem ser uma ótima característica para alguns jogadores e frustrar outros, afinal, são decisões de design arriscadas e ambiciosas hoje em dia, quanto mais para um RPG lançado em 1995, o que, casado com o hardware limitado da época, fazem com que existam algumas falhas e o jogo não consiga ter sucesso completo em tudo que tenta fazer.

Ainda assim, o que temos aqui é uma experiência que recompensa o jogador pela sua curiosidade e pelo desejo de experimentar e arriscar, mesmo que algumas informações acabem passando batido se ele não se valer de coisas como o Adventure Log para realmente compreender a história que não chega a você de forma mastigada como alguém esperaria de um JRPG mais tradicional.

Romancing SaGa 03

Existem também algumas novidades específicas dessa remasterização em HD, especificamente a inclusão de um New Game+ e de uma nova masmorra chamada de “Phantom Maze”, dotada de inimigos mais fortes e equipamentos a altura para expandir ainda mais a aventura do jogador.

Por fim, algo que precisa ser apontado é o quão bem esse port se vale da mudança de plataforma. As melhorias gráficas feitas aos ambientes e aos sprites do jogo foram muito boas, com o jogo ficando muito bonito em HD sem perder a sua sensação de identidade, algo elevado pela altíssima qualidade da trilha sonora de Kenji Ito, um dos melhores compositores da equipe da Square.

Isso tudo faz com que Romancing SaGa 3 seja um jogo que merece ser revisitado pelos fãs do gênero e que querem conhecer mais da sua história, muito por ser uma experiência tão distinta e única que, apesar das limitações para a execução dos seus conceitos mais ambiciosos, consegue entregar um JRPG a altura do legado construído pela Square ao longo dos anos 90 e que representa mais um bom sinal da Square finalmente olhando com carinho para a sua história.

Romancing SaGa 03

Veredito

Romancing SaGa 3 é um JRPG ambicioso, com uma ótima história e divertidos sistemas de jogabilidade que, apesar de ter demorado demais para chegar ao Ocidente e parecer um pouco datado, deve ser jogado pelos fãs do gênero.

Jogo analisado no PS4 padrão com cópia digital fornecida pela Square Enix.

Veredito

80

Romancing SaGa 3

Fabricante: Square Enix

Plataforma: ps4

Gênero: RPG

Distribuidora: Square Enix

Lançamento: 11/11/2019

Dublado:

Legendado:

Troféus:

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Veredict

Romancing Saga 3 is an ambitious JRPG, with great story and fun gameplay systems that despite taking too long to come to the west and seeming a little outdated, should be played by fans of the genre.


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