No final da vida do PS3 e início do PS4 a desenvolvedora canadense Cellar Door Games nos agraciou com o primeiro Rogue Legacy; um dos mais divertidos roguelites do mercado para a época. Nove anos depois, a sequência chega ao PlayStation 5 com melhoras substanciais e um polimento exemplar.
O que temos na sequência é a evolução da mesma fórmula. Rogue Legacy 2 preserva a estrutura de roguelite genealógico do primeiro, trazendo uma bem-vinda camada adicional de profundidade ao gameplay, além de muito mais conteúdo.
Rogue Legacy 2 começa com a escolha de um herdeiro (entre 3 opções, inicialmente). Cada personagem traz uma classe distinta, habilidades, magias e traços hereditários peculiares. Na segunda edição do projeto da Cellar Door Games, as armas de cada classe trazem um gameplay bastante diversificado – podendo ser um machado eficaz no solo e impreciso no ar, uma lança que permite ataques aéreos ou um arco e flecha útil apenas à distância. As possibilidades são vastas, de forma que cada jornada é usualmente bem diferente da anterior.
São mais de 15 classes disponíveis e, no geral, são bem balanceadas (embora eu não tenha encontrado muita utilidade nos arqueiros). Rogue Legacy 2 também introduz novos inimigos e variantes, de forma que a jornada procedural traz desafios ainda mais randomizados.
Ao longo da campanha, existem também alguns upgrades permanentes que são destravados após superar um teste. Há o manjado pulo duplo, mas existem outros movimentos úteis como dashs aéreos. É recomendável que se destrave tais melhorias o quanto antes, não só pelo acesso a mais áreas, mas pelo fato de trazer mais qualidade ao gameplay do jogo.
Há uma história contada primariamente por meio de logs de texto e as informações são coletadas aos poucos. É preciso visitar a mesma área diversas vezes para entender todo o contexto. Cada região possui um boss e a narrativa referente aos acontecimentos da área são contados pela perspectiva de cada um desses chefes.
O game se passa dentro de um castelo dividido em seis áreas diferentes. A localização das salas e regiões sempre variam a cada aventura – uma característica típica do gênero. A jornada procedural é ainda mais enriquecida pela diversidade de relíquias que podem ser encontradas nas salas do castelo e suas adjacências. As relíquias geralmente conferem vantagens para o jogador, podem ser buffs de força ou vida, assim como algumas barganhas mais perigosas.
Após a morte na aventura, o jogador escolhe outro herdeiro como de costume e volta para um castelo próprio, ao lado de uma cidade portuária. Nessa parte do game é que o usuário faz upgrades permanentes para seu personagem, constrói e melhora equipamentos, além de poder desempenhar outras atividades. A esse ponto, dá pra notar que há muito o que se fazer em Rogue Legacy 2.
O maior mérito do jogo é a variedade que cada aventura proporciona, dada as diferentes combinações de ataques e atributos existentes. Convém destacar que muitas classes são liberadas com um certo tempo de jogo, necessitando comprá-las com moedas coletadas nas jornadas pelo castelo.
Todos os upgrades permanentes feitos em Rogue legacy 2 exigem tais moedas. O interessante é que há tantas melhorias disponíveis, que mesmo ao chegar no new game+, haverá conteúdo de sobra para investir.
No departamento visual, Rogue Legacy 2 descarta a pixelart do primeiro e introduz uma arte mais cartunesca, similar a desenhos feitos a mão, misturando elementos 2D e 3D na sua composição. O resultado dessa escolha são gráficos muito limpos e agradáveis, especialmente quando se usufrui do jogo em displays de 4K – resolução nativa da versão PS5.
Não é fácil tecer críticas sobre Rogue Legacy 2, até porque o jogo evoluiu significativamente vários quesitos do primeiro, que já era muito bom! Dois aspectos, no entanto, poderiam ser ajustados – a trilha sonora e o conteúdo que fica restrito ao New Game +.
A trilha sonora é ok, mas como o jogador está fadado a repetir a aventura por diversas vezes, inevitavelmente ouvirá as mesmas músicas sempre. Nesse ponto, seria bom ter mais variações para cada região da dungeon. Já o conteúdo reservado para o game+ é bem significativa, contudo, poucos jogadores terão disposição para repetir a campanha novamente. Deste modo, seria preferível introduzir diversas das variações e novidades ainda na primeira campanha.
O jogo conta com suporte ao Português do Brasil e traz uma localização muito bem-humorada, adaptando muito bem peculiaridades do nosso idioma e incorporando memes locais. Cabe destacar que há muitas opções de ajustes e customização, inclusive diversas medidas de “acessibilidade” que foram incorporadas no game para facilitar a vida dos jogadores sem muita paciência para dificuldades elevadas.
Jogo analisado no PlayStation 5 com código fornecido pela Cellar Door Games.