O texto abaixo foi publicado no PlayStation.Blog brasileiro.
Se tivesse falado para uma versão mais jovem de mim mesma que algum dia eu estaria lançando um jogo de PlayStation VR, nunca teria acreditado. Fui uma gamer minha vida toda, mas nunca tinha me tocado que games eram algo que uma pessoa normal pudesse criar. Para mim, eram essas coisas mágicas que vinham de lugares do outro lado do mundo, como o Japão.
Crescendo no nordeste do Brasil nos anos 80 e 90, acho que minha habilidade com games veio do meu irmão inicialmente. TInha que jogar no pouco tempo que tinha enquanto ele estava no curso de Inglês, então aprendi a jogar o mais rápido possível, coletando tudo que podia numa fase do Sonic antes que ele voltasse.
Mas a idéia de Pixel Ripped 1989 me veio num sonho: sonhei que estava no meu quarto, jogando num console de 16 bits. Conforme jogava, os gráficos do jogo evoluíam, e conforme isso acontecia, o meu quarto se tornava mais parecido com o game.
Então percebi o quão forte e estranho era a sensação de estar dentro de um mundo pixelado. Quando acordei, soube logo de cara que tinha que usar essa idéia, e que VR era a única maneira de viver o que tinha sonhado. Na época, estava estudando game design e desenvolvimento numa universidade em Londres, e decidi que minha tese seria sobre jogar um game clássico dentro de um jogo em VR, uma possibilidade de reviver meu passado crescendo com estes títulos.
Baseei minha primeira idéia no final dos anos 80, na era dos consoles portáteis de 8 bits, e você teria que jogar o game na aula, escondido da professora. Mesmo sendo uma idéia legal, estava com dificuldade para fechar a história na minha cabeça. Automaticamente fiz a associação “gamer jovem nos anos 80 = menino” e fiz o personagem principal ser um menino.
Quando mudei o personagem do jogo e o humano que a controlava para Dot e Nicola, as histórias e idéias fluíram, já que era a minha história. Eu era a criança que cresceu tentando jogar tudo e com todos a minha volta tentando evitar que eu o fizesse. Na verdade estava fazendo exatamente o que seria preciso para embarcar nesta jornada e criar Pixel Ripped 1989.
A idéia pode ter vindo num sonho, mas foi um bug que acabou colocando a melhor coisa no jogo. Um dia estava trabalhando numa fase e o jogo renderizou Dot, a personagem principal em 2D, em cima de sua mesa na classe, no mundo em 3D. Eu podia movê-la pelo mundo real, e era estranho e surpreendente.
Soube na hora que isto era incrível. Agora todas as fases do jogo, na verdade a própria narrativa do jogo, é sobre esta experiência. O malígno Cyblin Lord rouba a Pixel Stone que o permite fazer os mundos 2D e 3D entrarem em colisão, com plataformas físicas para personagens 2D, e personagens 2D invadindo o mundo real. Esta colisão também só é possível em realidade virtual.
Quando decidimos lançar no PS VR, o game mudou mais uma vez. Um controle em VR foi uma ajuda e tanto para o jogo já que é um jogo sobre segurar um console portátil nas suas mãos. Acabou sendo imersivo e nostálgico ao mesmo tempo.
O jogo passou por uma longa e dura jornada até chegar aqui, de um projeto de estudante até um jogo completo para PS VR. Foram quatro anos da minha vida, com tantas mudanças e desafios. Comecei trabalhando quase sozinha como meu primeiro jogo, e prossegui com a ajuda de grandes amigos. Eventualmente se tornou um projeto profissional e me juntei à equipe da Árvore para terminar o game.
Este processo teve muitos desafios, mas também trouxe coisas boas, aprendi muito e conheci muita gente. Houve muita pressão e chances para desistir, mas nunca passou pela minha cabeça parar. Não vejo a hora de convidá-los para o mundo de Pixel Ripped, o mundo da minha infância, que tenho certeza ser o mesmo de muitos de vocês. Espero que se divirtam tanto jogando quanto eu me diverti completando essa jornada.