PGA Tour 2K21 – Review

Simular um esporte em campos e quadras virtuais tem sido um dos esforços mais primordiais da indústria dos jogos, desde que Pong se tornou um dos seus primeiros fenômenos, algo compreensível quando poucas sensações conseguem ser tão empolgantes quanto o êxtase que o sucesso do seu time ou jogador preferido e a ideia de te colocar no controle da ação e te dar a responsabilidade pelo sucesso é uma das formas mais efetivas de se recriar esse sentimento.

Para isso, uma miríade de esportes foram adaptados de todas as formas possíveis para os jogos. Enquanto os jogos arcade tentam tirar todos os “excessos” e focam na forma mais pura e destilada da diversão, os simuladores tem sido o caminho mais comum nas últimas duas gerações, com o avanço da tecnologia proporcionando aos desenvolvedores tentar recriar minuciosamente o que torna cada esporte tão divertido e amado.

Era de se esperar então que um dos esportes individuais mais conhecidos e populares do mundo, o golfe, também recebesse esse tratamento, ainda que a licença da sua principal organização, o PGA Tour, tenha ficado em uma espécie de limbo ao longo dos últimos anos, em parte graças a relativa queda de popularidade do esporte após os escândalos do seu nome mais popular e reconhecível em Tiger Woods (e a mudança de nome do jogo para Rory McIlroy), em parte pelos esforços medíocres da EA Sports ao longo da geração atual.

Felizmente, os desenvolvedores independentes da canadense HB Studios (que, curiosamente, trabalharam como estúdio de suporte em vários jogos da EA Sports) resolveram realizar a sua própria tentativa de criar um bom simulador de golfe com a série então conhecida como The Golf Club, deixando um pouco de lado questões de licença e focando na essência do esporte e em recriá-la meticulosamente.

Curiosamente, com o surpreendente sucesso de The Golf Club, a franquia eventualmente passou a contar com a licença oficial do PGA Tour em 2018 e a trabalhar em parceria com a 2K Sports e agora assume oficialmente o nome de PGA Tour 2K21 (alinhando-o com o nome dos outros jogos da empresa), com um foco renovado no modo carreira, nos modos de jogo online e no sistema de criação de campos.

Enquanto a inclusão de um modo carreira não é uma novidade completa para os jogos da HB Studios, já que havia um pequeno esqueleto disso no jogo anterior, o foco renovado é algo bem perceptível logo de cara, com a primeira coisa que o jogo pede de você é a criação do seu próprio golfista personalizado, dando uma quantidade surpreendente de opções para o jogador tentar se recriar nos mínimos detalhes virtuais.

Daí, o jogador é apresentando a um curto tutorial do jogo e incentivado a pular de cabeça na simulação da sua carreira no modo PGA Tour Career. A estrutura do modo é bem simples, mas muito intuitiva, com o jogador podendo escolher uma de quatro circuitos distintos que vão de começar em circuitos de acesso como a Q-School, Korn Ferry Tour, Korn Ferry Tour Championship ou pular direto pras Majors e ir para o PGA Tour.

O objetivo do modo é, novamente, bem direto, com o jogador focando em vencer as diferentes etapas da FedEX Cup, acumulando pontos ao longo das várias etapas e tendo o FedEx Playoffs no final da temporada até diminuir o campo de competidores para o Tour Championship que irá decidir o campeão da temporada (o golfista que tiver mais pontos ao fim da temporada).

Assim que você se junta ao circuito do PGA Tour o jogo começa a te apresentar com patrocinadores, os quais vão te recompensando a medida que você completa objetivos do contrato com novos itens e mais prêmios em dinheiro pelo seu sucesso, com cada patrocinador tendo múltiplos níveis que destravam recompensas cada vez melhores.

Além disso, a medida que o jogador vai avançando e subindo nos rankings do PGA Tour, rivalidades vão começando a surgir com outros jogadores, com o jogo implantando um sistema de recompensas que te incentivam não só a ir bem nas partidas, mas a jogar melhor que seus rivais para ganhar mais pontos de experiência, mais itens de customização e mais dinheiro para tornar o seu golfista visualmente mais interessante.

Um dos grandes focos do jogo, como se pode perceber, é em desbloquear itens para customização e dinheiro para comprar itens de customização. Esses itens são tanto objetos cosméticos para tornar o seu golfista mais próximo do que você quer (a quantidade de roupas, bonés e demais itens é bem limitada no começo, mas alcança uma quantidade interessante a medida que você avança), mas, principalmente, novos tacos de marcas distintas.

Algo que precisa ser apontado é que, enquanto o jogo conta com vários nomes famosos entre os seus patrocinadores como Adidas e Taylormade, por exemplo, a quantidade de itens não é exatamente a maior já vista, especialmente quando você compara o rol de opções presente aqui com o de outros jogos da própria 2K Sports como o NBA 2K21. Ainda assim, é importante apontar que, enquanto as roupas são meramente mudanças visuais, existe o fato de cada taco ter propriedades distintas e isso influenciar as suas rebatidas é algo bem-vindo, o que acaba tornando a personalização algo além de apenas cosmético.

Um outro problema do jogo é que, enquanto existe uma quantidade considerável de campos licenciados (15 no total), os campos que estão ausentes talvez sejam mais notórios para os jogadores mais casuais, com a falta de Augusta talvez sendo o mais gritante (ainda que outros como Pinehurst também façam).

A presença de um riquíssimo sistema de criação de pistas deve remediar um pouco isso, ainda mais com o fato do jogo te permitir importar os campos criados nos dois jogos anteriores, mas a falta de campos importantes de forma oficial é algo que chama a atenção, ainda mais quando a desenvolvedora conta com o apoio financeiro da 2K.

Um outro problema em termos de licenciamento também está na falta de golfistas profissionais oficialmente no jogo, com a baixa quantidade de 12 golfistas estando de forma licenciada aqui. A lista é liderada pelo atleta de capa e atual líder da FedEx Cup, Justin Thomas, e conta com nomes de peso como Matt Kuchar e Jim Furyk, mas a ausência de outros nomes mais conhecidos dos fãs casuais como Tiger Woods, Phil Mickelson e Rory McIlroy chama a atenção, algo ainda mais notório quando o jogo conta com os nomes (mas não com a aparência) de golfistas famosos como Bubba Watson e Jordan Spieth aparecendo nos rankings oficiais dentro do modo carreira.

Felizmente, onde o jogo mais parece ter gasto sua energia é no mais importante: a ação dentro dos campos. Golfe é o esporte mais individual possível, com a sua atuação sendo o principal fator determinante do seu sucesso e PGA Tour 2K21 consegue recriar isso maravilhosamente bem, dando ferramentas tanto para os jogadores mais hardcore quanto os iniciantes se divertirem por horas à fio.

Primeiro, a má notícia: o jogo limita bastante o uso dos jogadores profissionais nos gramados, sendo impossível jogar com eles offline e até mesmo partidas multiplayer exigindo a criação de jogadores “convidados” para que seus amigos possam duelar contigo, o que acaba tornando praticamente inúteis as licenças em torno de atletas famosos se você não pode jogar com eles quando quiser (fora do modo carreira).

O lado positivo é que o jogo conta com uma vasta quantidade de modos de jogo e tipos de partida offline para até 4 jogadores distintos, com Stroke, Stableford, Match Play, Skins, Four Ball, Alternate Shot e Scramble sendo opções. O modo online é estranhamente limitado, com apenas 1v1, Teams (2v2) ou Wagers (para até 4 jogadores, todos contra todos) e com lobbies privados sendo limitados a seus amigos.

Felizmente, o netcode do jogo é bom e as partidas online costumam funcionar bem, ainda que o fato dos jogadores serem obrigados a assistir as rebatidas de todos os jogadores (com um timer servindo para agilizar a ação) ao invés da opção de todos rebaterem ao mesmo tempo como no jogo anterior acaba tornando as partidas mais longas do que o necessário, fazendo com que o uso das Online Societies, ligas na qual os jogadores competem entre si mas podem participar das partidas no seu tempo, muito mais indicada.

Jogar essas partidas é que é o ponto mais alto de PGA Tour 2K21. Mecanicamente, a estrutura de um jogo de golfe é bem simples e tem sido bem realizada há anos, inclusive por jogos menos focados na simulação (como em Everybody’s Golf), com o timing e precisão necessários para o jogo na vida real sendo facilmente transportados para a sua versão digitalizada.

Naturalmente, o jogo se utiliza do analógico esquerdo para posicionamento do golfista em relação a bola e o analógico direito para simular o mesmo movimento da tacada, com o jogador puxando o analógico para baixo e empurrando para cima no timing correto apontado por uma barra na tela. Qualquer erro no timing ou qualquer movimento fora de uma linha reta é reproduzido no swing do seu personagem no jogo e afeta o resultado daquela tacada, dando maior peso as ações do jogador.

Para auxiliar os jogadores, o jogo coloca várias ferramentas à sua disposição. Como vários fatores influenciam a trajetória da bola, como a força e direção do vento ou a inclinação dos montes onde a bola parou, o jogo não só conta com uma HUD bem intuitiva e clara com todas as informações que você pode desejar e todos os tipos de opção à sua disposição com o simples toque de um botão.

Trocar de taco é algo que pode ser feito meramente tocando um dos botões direcionais, com cima e baixo mudando o tipo de taco e direita/esquerda mudando o tipo de rebatida que você irá realizar. Pode parecer bastante para um novato, mas o jogo conta com uma quantidade impressionante de sistemas e auxílios que vão te aclimatando melhor ao jogo e te fazendo entender bem o funcionamento de cada detalhe do jogo.

Entre as várias opções que o jogo coloca nas suas mãos estão a Scout Camera, que te permite ver exatamente onde a rebatida está prevista para cair e ajustar a sua “mira”, a opção de ver o mapa da pista, a possibilidade de prever através de uma linha a rota dos putts e a possibilidade de ajustar o ângulo e o ponto da bola em que o taco irá conectar com a bola, todas elas mudando completamente a forma como o jogo e a física das suas tacadas funciona, dando uma sensação bem recompensadora ao ir se aprofundando no funcionamento mecânico do jogo e um verdadeiro ar de recompensa no êxito das suas ações.

Isso não quer dizer que o jogo funcione perfeitamente, uma vez que existem algumas inconsistências na física da bola, em especial no que diz respeito aos efeitos de rolagem causadas pelo ângulo da tacada ou em questões como fade e draws, além de algumas tacadas que deveriam ser mais complexas sendo realizadas com relativa facilidade. São problemas menores, mas que podem acabar afetando o resultado de torneios inteiros nas dificuldades mais altas.

Por último, é importante apontar que a apresentação do jogo não é das mais primorosas, com uma narração e comentários bem feitos e enriquecedores e que ajudam bastante na atmosfera, algo que acaba sendo ajudado pela necessidade dela de ser rara e pontual,  mas que acabam caindo nas armadilhas de diálogos repetitivos, algo que acaba se acumulando problemas na apresentação visual do jogo, com algumas transições entre buracos ficando levemente pobre pela falta de gráficos que estariam presentes nas transmissões reais.

Os modelos dos jogadores também não são dos mais bonitos já vistos e o jogo conta com um certo serrilhado, com objetos beirando o aspecto de pixelado em certos pontos, mas existe um cuidado nas animações que são bem naturais e nos campos em si que são surpreendentemente bonitos e realistas e, no geral, o jogo consegue capturar o ar de se estar em uma partida de golfe real.

Ainda assim, PGA Tour 2K21 é uma considerável evolução na fórmula dos jogos anteriores da então chamada série The Golf Club e mostra a evolução da HB Studios ao longo dos últimos seis anos. Muito dos problemas apontados podem ser facilmente resolvidos no próximo jogo, dado que a 2K invista nisso, e o mais importante, que é a simulação do esporte em si, já é excelente e só tende a melhorar nos próximos jogos.

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela 2K Games.