Diablo

Quando nos pegamos diante do quarto jogo (numerado) de uma franquia de sucesso, com décadas de desenvolvimento e cujo universo cobre uma lore com milhares de anos, pegar o bonde andando pode nos dar uma sensação de estarmos perdidos, de não sabermos bem quais os eventos que nos trouxeram até esse ponto. Se esse é o seu caso antes de começar uma jornada pelas terras de Santuário em Diablo IV, seus problemas acabaram! Faremos aqui um apanhado geral dos principais eventos que se passam antes mesmo dos games anteriores, como algumas pinceladas sobre narrativas encontradas nos livros canônicos mais recentes da franquia.

O princípio dos tempos

Antes do princípio, havia Anu, uma existência para além da nossa compreensão, etéreo e amoral, cuja essência abarcava os conceitos de bondade, maldade antes mesmo de se definir o que seriam essas duas coisas. Era o tudo e o nada, praticamente o sentido da existência. Mas isso não lhe bastava, e na perspectiva de se tornar uma entidade ainda mais pura, decidiu remover todas as trevas que havia em si. Aquilo que foi arrancado de Anu se tornou a besta Tathamet, que em nossa pequenez de entendimento do universo, seria compreendido como um Dragão de sete cabeças.

Dois seres diametralmente opostos em um conflito colossal criaram uma explosão que daria início ao universo e que acabaria por destruí-los quase que por completo. Do que restou, vieram o Paraíso Celestial e o Inferno Ardente, bem como novos seres, os anjos e os demônios, que herdaram a antítese de Anu e Tathamet em uma batalha eterna que seria conhecida como o Conflito Eterno. Nem todos os que estavam de um lado ou do outro deste conflito concordavam com ele, porém, e houve um momento onde Inarius, um anjo renegado pelos Altos Céus, e Lilith, também chamada de Rainha dos Súcubos, advinda do inferno ardente, decidiram criar algo novo onde poderiam viver em relativa harmonia. Este mundo seria chamado de Santuário.

Para garantir que este lugar não seria corrompido pela guerra de seus irmãos, Lilith e Inarius utilizaram um fragmento do corpo de Anu chamado de Pedra do Mundo para criar uma barreira de proteção que os esconderia eternamente da barbárie. E por um tempo, houve paz, ao menos neste cantinho do universo. Da união destas entidades, surgiram os híbridos Nefalem (também chamados de Nefilins em algumas traduções), uma raça de criaturas que, na reunião da essência de ambos os lados, poderiam superar seus criadores.

Diante o perigo de ver tais seres tendendo uma vez mais à violência e no potencial disso destruir Santuário, Inarius decide que eles não deveriam mais existir, iniciando assim uma perseguição com o apoio de um exército de anjos e demônios renegados. O problema é que Lilith discordava dele e eliminou, sem qualquer vestígio de piedade, todos aqueles que haviam se aliado ao seu antigo companheiro. Ambos, agora em lados opostos, acabam entrando em uma nova batalha onde o bem e o mal já não parecem mais tão evidentes. Em desvantagem, a mãe de Santuário é banida para um lugar de não-existência chamado simplesmente de Vácuo (ou Vazio), e sem sua última defesa, os Nefalem são aniquilados pelas forças de Inarius. De seus restos, porém, levantou-se uma nova espécie derivada, que a cada nova geração se tornava mais fraca e vulnerável: a Raça Humana, tal como a conhecemos atualmente.

Enquanto isso, o Inferno se organizava em duas grandes facções lideradas por grupos com entidades que eram conhecidos como os Males, todos resquícios das setes cabeças de Tathamet. De um lado, os supremos (ou superiores) Diablo, O Senhor do Medo; Mephisto, O Senhor do Ódio e também pai de Lilith; e Baal, O Senhor da Destruição, e, do outro, os inferiores Azmodan, Senhor do Pecado; Andariel, Senhora da Angústia; Duriel, Senhor da Dor; e Belial, Senhor da Mentira. Com o banimento de Lilith, as proteções de Santuário acabaram cedendo e os males supremos descobriram a existência de Santuário, bem como a facilidade de influência que aquela espécie que ali habitava se sujeitava. Como estratégia de guerra, ao invés de atacar o lugar, eles conspiraram para que os humanos criassem uma religião que os adorasse, o Templo do Triuno, que referencia, claro, a trindade em sua forma como os humanos a conhecia: Mefis, Dialon e Bala.

Como resposta, Inarius assume a persona de um profeta e cria a Catedral da Luz, uma vez mais estabelecendo um modelo de conflito cuja dualidade dividiu o mundo em duas partes igualmente avessas uma à outra, algo que resultou na chamada Guerra dos Pecados (ou Guerra Pecaminosa). Lilith, ressurgindo de seu exílio, consegue reunir forças para enfraquecer a Pedra do Mundo, o que traz como consequência o restabelecimento do poder dos Nefalem nos humanos. Uma terceira parte, liderada por Uldyssian ul-Diomed e seus recém-despertos novos poderes, emerge para a guerra de uma forma devastadora. Inarius envia Lilith para o Vácuo novamente, e o conflito foge completamente do controle, forçando Uldyssian a um último sacrifício para acabar com os poderes da Pedra do Mundo, atitude heróica que teve como consequência o banimento de anjos e demônios das terras de Santuário.

Tudo isso preocupou as autoridades do Céu, agora liderado pelo Conselho Angiris, formado por Tyrael, Arcanjo da Justiça; Auriel, Arcanjo da Esperança; Imperius, Arcanjo da Bravura; Malthael, Ancanjo da Sabedoria; e Itherael, Arcanjo do Destino, que consideraram a possibilidade de extinguir a raça dos humanos e o próprio Santuário, mas que decidiram, em um acordo inimaginável com Mephisto, para evitar repetir os feitos drásticos de Inarius, prendê-lo no Inferno e permitir que tudo no mundo mortal permanecesse existindo, com a única condição de que todas as memórias daquilo que havia se passado seriam permanentemente apagadas, já que a única forma desta comunidade continuar existindo seria ficarem alheios ao conflito do qual eles não faziam parte.

Por outro lado, Diablo, Baal e Mephisto ainda tinham seus próprios planos para aquele mundo tão adepto a se corromper, e seu domínio poderia ser o fiel da balança para que finalmente pudessem superar seus inimigos. Eles só não contavam que suas atenções voltadas a Santuário seria a brecha perfeita para o fortalecimento de seus inimigos internos, os males inferiores que, descontentes com uma aparente fraqueza de Mephisto em ter negociado com o outro lado do conflito, acabaram utilizando a fascinação de seus desafetos para tomar o controle do inferno, mandando-os em exílio para o lar do humanos.

Sem a memória de tudo o que veio antes e sem quaisquer recursos para combater aquelas entidades demoníacas, os humanos se tornaram presas fáceis e Santuário quase entrou em colapso. Tyrael interfere uma vez mais, agora fomentando a criação de uma nova organização de magos dedicados a defender suas terras, que foram chamados de A Ordem dos Horadrim. Em um movimento ousado, eles conseguiram aprisionar os males supremos em Pedras da Alma, livrando mais uma vez a humanidade da aflição. Ao menos, pelo tempo suficiente para que nossa espécie se esquecesse de tudo isso novamente. Pegando algumas palavras de Tolkien emprestadas, as historias viraram lendas, as lendas viraram mitos e deram lugar a outras preocupações mais, digamos, mundanas. Santuário se organizou, evoluiu enquanto sociedade, com suas vantagens e todas as demais consequências menos honrosas. Entretanto, o selo dos Horadrim, por mais poderoso que seja, não é inviolável, algo que a humanidade está para descobrir.

O curta-metragem animado Wrath, de forma bastante breve, ilustra o eterno conflito entre os Céus e o Inferno, e mesmo que seja destinado a apresentar parte do plot narrativo do terceiro game da franquia, vale a pena ser conferido. Assista abaixo, e não esqueça de ativar as legendas em português:

Este, contudo, é só o começo, e nem arranhamos a trama dos jogos em si, tema que será desenvolvido em uma próxima oportunidade. Não obstante, vale dizer que toda essa narrativa de origem do universo é a base onde se fundamenta o novo Diablo IV, que narra os eventos oriundos do retorno de Lilith e as intenções nem sempre puras de Inarius em pará-la uma vez mais.