O texto abaixo foi publicado no PlayStation.Blog brasileiro.
Chad Cannon (esquerda) Bill Hemstapat (direita) imagem de Justin Fields
Foi um imenso prazer encontrar Chad Cannon novamente para compor a música nova para a ilha de iki, o novo território incluído em Ghost of Tsushima: Versão do Diretor. Chad e eu trabalhamos juntos no arranjo e na orquestragem das “Tsushima Suites” de Shigeru Umebayashi para o lançamento do game original, e realmente curtimos a nossa colaboração. Assim como na trilha sonora original, tivemos muita sorte de ter a contribuição de alguns dos melhores músicos do Japão, China, Nashville, e Los Angeles nessas novas peças. Muitos destes indivíduos talentosos participam deste blog, falando sobre sua performance e instrumentos usados nas gravações. Esperamos que aproveitem este passeio pelos bastidores da música.
Analisando Jin Sakai
A história da ilha de Iki é pessoal, focada em um capítulo traumático do passado de Jin Sakai. Com isso em mente, queremos garantir que a música refletisse o coração e a alma do personagem, Jin, em pessoa.
Ilan Eshkeri compôs um tema incrivelmente emocional e icônico para Jin. A obra serve como um “chamado para a aventura” para os jogadores do jogo original mergulharem no mundo, e para Jin iniciar sua jornada para se tornar o Ghost. Na história da ilha de Iki, tanto Chad quanto eu sentimos uma oportunidade de adicionar uma dimensão maior a Jin Sakai, explorando maneiras diferentes de adaptar e expandir o brilhante tema de Ilan.
O resultado desta exploração é a peça “The Tale of Clan Sakai”, que representa Jin, seu pai, e outros Samurai de nome Sakai. Ela explora o coração e a alma da bagagem emocional que Jin carrega; não só como o último samurai em Tsushima, mas também como o último membro do clã Sakai.
A peça utiliza o Biwa, um instrumento usado por Ilan em “Heart of the Jito” no jogo original. Embora, nesta nova versão do tema de Jin, usamos o Chikuzen-Biwa em vez do mais conhecido Satsuma-Biwa. O Chikuzen-Biwa era usado tradicionalmente por monges budistas em vez de samurai. Os monges o usavam para contar histórias e cerimônias em vez de praticar disciplina.
Segundo Chad:
“Bill e eu ficamos super animados em envolver uma artista de Chikuzen-Biwa de Fukuoka chamada Cyouka Ogata. Ogata Sensei ficou extremamente feliz de poder participar da trilha de Tsushima, já que cresceu em torno dos locais da invasão Mongol. Ela apresentou Bill e eu aos seus instrumentos pelo Zoom e depois trabalhou conosco por alguns meses, enviando amostras de ideias diferentes, testando coisas, etc. Assista o seu vídeo! Ela tocou o tema de Jin Sakai nas praias de Hakata, local de algumas das batalhas contra os Mongóis!”
Uma Abordagem Rústica para a Música
A versão fictícia da ilha de Iki feudal em Ghost of Tsushima é um lugar selvagem, sem lei, cheio de criminosos. O povo da ilha é uma mistura de pescadores, piratas e viajantes que governam a si mesmos. A desordem foi algo que inspirou Chad e eu, e queremos que a música reflita a terra rústica. Portanto, usamos mais composições inspiradas pela música tradicional japonesa. Essencialmente, queríamos algo mais – por falta de um termo melhor – “selvagem” que a versão original de Ghost of Tsushima.
Lightning in the Storm e Eternal Blue Sky, duas peças que tocam por toda a ilha de Iki, ilustram bem esta abordagem rústica. Nelas, você pode ouvir os instrumentos folclóricos japoneses tocados por Kinya Sogawa, Yutaka Oyama, e Akemi Yamada usando o Shakuhachi, o Tsugaru-Shamisen, e o Koto, respectivamente.
O Shakuhachi, como podem conhecer do jogo original, é um dos sons mais icônicos da música tradicional japonesa.
As performances de Oyama-san com o Tsugaru-Shamisen são usadas na área de Fune’s Refuge, onde você passa bastante tempo formando um elo com o povo de Iki.
Por último, a parte inicial de “Lightning in the Storm” possui um solo de Koto que serve como o tema da ilha de Iki.
Foi uma honra trabalhar com esses incríveis artistas na “Tsuhima Suites” de Shigeru Umebayashi, e ficamos felizes em tê-los de volta para a expansão da ilha de Iki. Infelizmente, entretanto, a pandemia global nos apresentou um desafio para gravar remotamente pelo Oceano Pacífico, com uma diferença de 16 horas de fuso. Por isso, o nosso processo de gravação se tornou um esforço colaborativo entre os engenheiros de Tóquio, Mary Shinohara e Yuhi Kawamura (ambos também trabalharam no jogo original), Rio Sato da Plugnote (providenciando serviços de tradução e conferência), e os nossos engenheiros de som do PlayStation Studios, Kellogg Boynton e James Probel. Graças a eles, fizemos as colaborações de maneira segura e eficiente.
A Nova Vilã Misteriosa
Com a nova história chega uma nova vilã: Ankhsar Khatun, ou “a Águia.” Chad criou uma identidade musical para ela que pode ser ouvida em “Ankhsar Khatun, The Eagle,” “Face the Judgment of Your Ancestors,” e “Sacred Medicine.”
Segundo Chad:
“A Águia é misteriosa e sinistra, usando seus poderes místicos na mente de seus seguidores. Na trilha original de Ghost of Tsushima, usamos um incrível cantor de Tuvan chamado Radik Tyulyush, cuja voz você pode ouvir por toda a ilha de Tsushima quando você está próximo dos acampamentos invasores, etc. Quando Radik visitou LA para a gravação, me lembro dele dizendo que as cantoras de Tuvan são uma minoria, e mesmo havendo exceções, historicamente era algo considerado tabu para mulheres. Aparentemente, acreditavam até que uma mulher cantando assim poderia causar mal aos seus parentes homens. Ele também mencionou que a música xamanística é algo fora do limite para a maioria dos cantores como ele. Então, embora seja culturalmente errado de algumas maneiras combinar esses dois mundos de uma mulher cantando e o xamanismo, achamos que isso ajudaria o tema da Águia, a tornando uma espécie de “hereje”.
Através da minha gerente Lei Zhang em Beijing, encontramos uma cantora da Mongólia chamada Talin Tuya. Além de seu canto, ela também toca o khomus, que você pode ouvir durante algumas das sequências mais alucinadas quando a Águia está por perto. Eu adoro a voz dela e espero que vocês também curtam! É de outro mundo e poderosa.
Também gravamos um artista de rabeca chamado Zhang Duo, destacado em algumas das faixas da Águia. A minha parte favorita é durante algumas sequências de combate montado, onde Bill e eu colocamos aquele efeito de “relincho de cavalo” que imita algo que os cantores Mongóis fazem às vezes, imitando os cavalos da estepe asiática.
Fico satisfeito que gravamos este material em Beijing, já que a cidade ganhou importância pela primeira vez quando Kublai Khan a tornou sua capital de inverno, e na época, 1271, era chamada Dadu. As ordens para invadir o Japão foram dadas em Dadu e executada pelos exércitos da Mongólia, Coréia e China, cujos recrutas partiram da Coreia e de Ningbo, na costa central da China. Ent~ço, com artistas de Beijing, Fukuoka, Tokyo, etc., a jornada musical que tivemos tem raízes na história, geografia e culturas envolvidas.”
O Conflito e a Infusão de Duas Culturas
No momento climático da história da ilha de Iki, unimos instrumentos japoneses e mongóis, com artistas solo do Japão e da China dividindo os holofotes com texturas orquestrais caóticas e ritmos que providenciaram a âncora musical. Podemos ouvir esta batalha musical em “The Battle for Iki Island” e “The Eagle’s Curse.”
E claro, nenhuma sequência de batalha de Ghost of Tsushima estaria completa sem o majestoso som do conjunto de Taiko. Infelizmente, as restrições da pandemia ainda estão em efeito, e onúmero de músicos permitidos no mesmo local pelo estúdio era limitado. Entretanto, Isaku Kageyama, o líder de um conjunto Taiko de Los Angeles que também participou da expansão Lendas de Ghost of Tsushima, aceitou o desafio. Criamos um conjunto de três pessoas, junto com Kaz Mogi e Blaine O’Brien nos Capitol Studios em Hollywood, com um enorme conjunto de percussão Taiko. E com a magia do overdubbing combinada com as habilidades de mixagem de Kellogg Boynton, fomos capazes de ampliar a performance destes três músicos incríveis, criando um fundo musical épico para as batalhas na ilha de Iki.
Da esquerda para a direita – Chad Cannon, Bill Hemstapat, Isaku Kageyama, Kazunori Mogi, Blaine O’Brien
Pensamentos Finais
Segundo Chad:
“Acho SUPER legal que o jogo teve um impacto positivo no mundo real para a ilha de Tsushima, com um projeto de restauração de um templo Shinto criado pelos fãs, por exemplo, e adoro que Jason Connell e Nate Fox foram nomeados como embaixadores de turismo oficiais para a ilha de Tsushima. É difícil exagerar quando falo sobre o senso de relevância que este tipo de coisa tem para locais remotos, rurais e pequenos como Tsushima no Japão. Estas pequenas comunidades estão envelhecendo rapidamente, com os jovens se mudando para cidades grandes e nunca mais voltando. A cultura, os dialetos locais, e até o estilo musical deles estão desaparecendo. Mas um fenômeno como Ghost of Tsushima pode ajudar a dar uma nova vida para estas áreas. Então, na verdade, agradecemos aos fãs e aos criadores do jogo por isso! “
Ghost of Tsushima: Versão do Diretor não teria sido possível sem um incrível esforço de equipe. Então, gostaria de agradecer algumas pessoas que tornaram isso possível:
O nosso produtor de trilha sonora e meu mentor no trabalho, Peter Scaturro, por nos incentivar a mergulhar mais ainda na música tradicional japonesa e expandir o terreno musical de Ghost of Tsushima.
O nosso chefe musical nos PlayStation Studios em Ghost of Tsushima, Andrew Buresh, meus colegas editores musicais Sonia Coronado e Adam Kallibjian, e os nossos engenheiros Kellogg Boynton e James Probel por sua dedicação total ao projeto. Sem eles, a visão que tínhamos como compositores nunca teria sido completada no game para os jogadores.
Por último, Nate Fox, Jason Connell, Brad Meyer, e todos no Sucker Punch pelo seu apoio contínuo, por deixarem a música ter um papel tão grande em sua história.
Espero que todos os jogadores curtam este game e sua música tanto quanto nós curtimos criá-los. Obrigado por lerem, e continuem seguros!