As primeiras gerações de vídeo game cotavam com tecnologias gráficas e sonoras limitadas que procuravam entregar ao público uma experiência que mostrasse que o divertimento ia além de brinquedos à pilha e jogos de tabuleiro. Neste contexto, os vídeo games, até então considerados uma mídia nascente, eram a fonte de diversão de jovens ao redor do mundo que buscavam a cultura pop através de filmes, quadrinhos e consumo de produtos idealizados para um público específico.
As telas carregadas de pixels criavam um mundo à parte fortemente inspirados em heróis do cinema cujo objetivo era transformar a nova arte em um produto de sucesso e que rendesse lucros suficientes para se manter no disputado mercado do entretenimento. As evoluções técnicas permitiram às desenvolvedoras um grau de realismo maior em relação ao visual, ao roteiro e à forma de programar que tornaram os jogos mais interessantes e verossímeis dentro de suas próprias identidades e limitações.
Entretanto, cópias de enredos famosos transportados a um universo digital começaram a não ser mais suficientes para agradar o público que percebia nos vídeo games um mundo particular que demandava por novidades que viriam em forma de personagens originais e histórias exclusivas.
Títulos como The Legend of Zelda e toda uma série de jogos que trouxeram mecânicas exclusivas se tornaram a referência de modelo de gameplay durante toda a era 2D como um padrão de excelência e aceitação por parte dos jogadores. No entanto, quando a terceira dimensão chegou ao universo dos jogos eletrônicos, outras dinâmicas e ideias fizeram parte da estrutura de programação dos estúdios resultando em conceitos e level design mais apurados.
Tendo em mente uma proposta simplista e que preza pelo desafio, a Veewo Games lança Neon Abyss retomando estruturas específicas de maneira pontual convidando o jogador a revisitar um estilo de jogo que resulta em um game prático, porém sem muita diversão. O conceito original está amparado em calabouços dos mais variados designs e dificuldade cujo objetivo é aniquilar todos os oponentes para liberar a passagem.Com uma identidade que mescla uma representação retrogamer com o indie, o título é uma produção artística de caráter quase particular e parece a concretização de um ideal de jogadores/produtores que compreendem em um estilo mais particular a essência do que seja jogar vídeo game.
A composição essencial de Neon Abyss é formada de aspectos técnicos trabalhados de acordo com a natureza do jogo como os cenários de dungeons e um nível de dificuldade relevante que vai fazer os jogadores repensarem seus ataques e estratégias a cada morte acumulada. Ao iniciar um estágio, a frase “A morte é a única saída” faz uma clara referência ao fato de que vencer os desafios será uma tarefa de paciência e habilidade.
A união de fatores como gráficos, som e jogabilidade é um dos pontos fortes do título que tem por objetivo trazer à tona o que o game tem de mais efetivo que é o enfrentamento de inimigos que, apesar de competentes, não seguram o jogo no que diz respeito ao aproveitamento e à diversão.
A narrativa de Neon Abyss é posta como elemento secundário mergulhando o jogador diretamente na ação dentro de calabouços em busca de itens precisos e brigas constantes contra as bizarrices que estão no subsolo.
Participar da história acontece por meio do visual do jogo que possui no pixel art uma extrema qualidade trazendo para tela variedade de formas e cores que compõe os personagens e cenários. Longe das texturas sem definição e quadradas dos pixels do passado, a arte da Veewo Games conta com alta resolução de imagem permitindo um nível de detalhamento de muita beleza e que expressa toda a identidade de seus idealizadores.
De acordo com o enredo, os personagens, que se parecem com vigilantes, buscam vingança e redenção e, para isso, provam uma misteriosa bebida com efeitos potentes que os ajudam em sua jornada pessoal. Nesta perspectiva, o bar da história do jogo é o ponto central onde é possível fazer ajustes, upgrades, e iniciar uma nova fase. O visual do ambiente torna-se convidativo ao transmitir pelas luzes e pelas cores a sensação de se estar em um pub de música eletrônica com os mais variados tipos de pessoas. Mesmo entregando um visual menos realista como os grandes jogos da geração, Neon Abyss é capaz de contar sua própria história através de elementos gráficos caprichados sem perder o charme dos famosos quadradinhos.
Todo o layout do jogo é feito com muita competência aproveitando o máximo do pixel art com cores destacadas e uma iluminação que se sobressai nos diversos ambientes que vão desde os confusos calabouços até as salas de coleta de itens especiais que apresentam cenários detalhistas para além da proposta visual principal.
Cada conjunto de mapas que são explorados nos diferentes níveis possuem cores que produzem a ideia de similaridade, ou seja, todos os espaços por onde os personagens passam são parecidos visualmente para permitir uma sensação de labirinto que promove idas e voltas constantes. Entre as diversas passagens, será necessário que o jogador saiba o caminho que precisa seguir para poder cumprir com os objetivos.
Tanto o visual do game quanto sua trilha sonora são as âncoras técnicas que permitem que o conceito original do jogo aconteça dentro de uma identidade idealizada pela produtora. A união desses dois fatores são um convite para embarcar nas missões que acontece nas profundezas dos mais estranhos calabouços repletos de inimigos.
Sendo muito presente em jogos de categoria indie, a música eletrônica compõe as faixas do jogo ao longo dos estágios que cada personagem deve cumprir. As batidas são poderosas e vão de encontro com a proposta desse gênero musical sendo possível perceber forte inspiração em grandes nomes desse segmento como Daft Punk cuja a música “Harder, Better, Faster, Stronger” pode ser lembrada como uma alusão à postura que deve ser adotada pelos combatentes/jogador.
Um certo grau de estranheza é o elemento de gameplay que sustenta a motivação para que os jogadores se aventurem em espaços fechados que parecem não conter uma saída. Nenhuma informação é dada de imediato colocando quem joga na pele de Wade que com sua arma avança pelos corredores e salas em busca de uma espécie de retaliação. Neste sentindo, mais um fator técnico se soma ao jogo com um pouco menos de destreza e menos apurado que o visual e a sonoridade.
A jogabilidade e a resposta dos controles em Neon Abyss é um aspecto decisivo para o sucesso nos estágios sendo necessário uma adaptação aos comandos que não são fluentes e precisos de imediato. A configuração entregue no início do jogo é confusa e traz um mapeamento do controle que não favorece as ações que precisam ser realizadas como pular e atirar ao mesmo tempo, desviar de inimigos e planejar ataques contra chefes. Apesar de ser possível reconfigurar os botões, a resposta dos comandos possui uma natureza menos eficiente e pouco rápida como os tiros que, sem os upgrades, quase não dão conta de eliminar uma câmara com muitas criaturas resultando em diversas tentativas para alcançar os objetivos. Ao perceber como a reposta do controle se manifesta no jogo, pode-se pensar que toda a programação desse aspecto técnico tenha sido uma proposta de aumentar o desafio fazendo com que os jogadores se empenhem em realizar estratégias melhores. Mesmo assim, comandos mais rápidos e polidos caberiam melhor em um jogo de calabouço.
Além das questões do controle, o fator jogabilidade está “dissolvido” nos desafios encontrados no sistema de eliminação dos inimigos de cada sala e nos próprios chefes que podem oferecer um alto grau de dificuldade se o jogador não dominar as mecânicas essenciais.
Ao escolher entre os personagens principais disponíveis no começo da jornada, o objetivo principal em termos de gameplay é encontrar a câmara dos sub-chefes para derrotá-los e seguir para a próxima fase totalizando cinco estágios e um chefe final. Para realizar essa tarefa, é necessário passar pelas diversas salas que compõe o mapa enfrentando um sistema de trancamento típicos de jogos de RPG. Esse sistema consiste em derrotar todos os oponentes de uma sala para que as portas sejam abertas e a missão principal continue. O desfaio nesse tipo de sistema é conseguir ter a habilidade de enfrentar muitos inimigos ao mesmo tempo considerando questões como vida, munição dos armamentos e estratégia para que o combate seja efetivo. Em Neon Abyss, esses combates acontecem frequentemente e são parte dos principais caminhos que os personagens podem seguir em busca de desafios maiores. A dificuldade varia de acordo com cada mapa podendo ser mais baixa com dois ou três inimigos no ambiente ou mais alta com mais inimigos atacando ao mesmo tempo exigindo do jogador mais destreza no combate e algumas vidas perdias.
Quando um desafio é vencido, o caminho é liberado sendo possível prosseguir para outras áreas do mapa onde santuários com upgrades de armas e lojas de itens podem ser encontrados como um auxílio para as lutas, mas, em alguns casos, esses lugares são o ponto final do mapa fazendo com que o jogado tenha que retornar para explorar outros caminhos que estão disponíveis. Um sistema de teletransporte pode ser acionado após avançar pelo calabouço facilitando a transição entre salas contribuindo para a gerência dos espaços já explorando objetivando dessa forma um caminho até o subchefe.
Os mapas do jogo são dinâmicos e mudam a cada jogada fazendo com que as estratégias para se ter sucesso sobre um determinado inimigo fiquem mais difíceis uma vez que a cada nova partida, uma nova estratégia deverá ser pensada.
Todas as fases e dungeons foram pensados para serem cumpridos com apenas uma vida. Isso significa dizer que o jogador deverá ter uma estratégia eficiente em termos de acúmulo de corações de energia e melhorias de armas para sobreviver durante cinco estágios. Se a energia acabar, o personagem volta ao início sendo necessário repensar todas as fases novamente já que todas terão uma configuração inédita.
Os chefes que guardam o final de cada fase se materializam em formas caricatas e exageradas que possuem os mais diversos tipos de ataque sendo sempre rápidos em surpreender quem os enfrenta. Esses inimigos poderosos recebem o título de Deus de algum segmento específico como Deus do Fast Food, Deus da Pílula e Deus dos Vídeos que se não tivessem um caráter fortemente apelativo seriam no mínimo cômicos e originais.
A execução dos fatores técnicos em Neon Abyss é competente e vai agradar jogadores que apreciam um bom desafio em um sistema que vai sendo dominado conforme se acumula horas de jogo e hábitos de estratégia. O visual gráfico e a trilha sonora se combinam para oferecer um impulso na experiência junto a personagens interessantes, mas a essência do game e seu gênero podem propor uma aventura limitada para uma parcela de jogadores uma vez que as partidas estão amparadas na repetição. Mecânicas como tentativa, erro e acerto são a constante do título que se resume a atirar e eliminar inimigos para encontrar o chefe. Todos os personagens fazem o mesmo trajeto conforme o nível de dificuldade sobe e fazendo com que os desafios sejam mais intensos e manter a vida seja uma necessidade primordial.
Neon Abyss é recomendado para fãs de Rouguelike que são jogos considerados um subgênero do RPG e permitem uma ação mais intensa principalmente quando jogados on-line na interação com outros participantes. Neste sentido, o game pode entregar uma diversão apropriada para aqueles que preferem partidas descompromissadas cujo intuito é repetir as mesmas técnicas enfrentado um mapa novo a cada vida perdida.
Todos os aspectos bem arquitetos pela Veewo Games parecem ser traduzidos em uma ideia muito particular de jogo que privilegia a identidade e a vontade de se criar um título neste estilo, porém será um jogo destinado para quem consegue perceber esses ideais e não procura por uma iteração mais profunda em termos de enredo e personagens como é comum nas produções da atual geração.
Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Team17.
Veredito
Neon Abyss é jogo de dungeon e RPG com elementos de tiro que entrega ação intensa e descomplicada aliados a um visual e trilha sonora que impulsionam a experiência e interação. Com um sistema de gameplay bem definido e personagens interessantes, o título é mais destinado a fãs do gênero que se identificam com a proposta e buscam partidas descompromissadas baseadas na repetição. Com estilo e propostas bem marcados, Neon Abyss agrada a jogadores habituados à estratégia, mas pode afastar uma parcela de jogadores que busca por enredos ou que não dominam um gênero específico como este fazendo com que o jogo se torne cansativo e entediante.
Veredict
Neon Abyss is a dungeon based game with gun elements offering intense action with great pixel art style and a good soundtrack that is a boost to the whole interaction. Providing a defined lockdown system and good characters, this game is dedicated to hardcore fan players who is searching for repetition and absence of elements like story or deep characters. Delivering a well-defined style, Neon Abyss will be a great title for strategic players, but it can push back some other public who is not adapted with the genre making the game a boring experience.