Metal Gear Solid 3: Snake Eater é um dos melhores jogos de todos os tempos. Sua história, chefes, personagens, mecânicas e músicas são lembradas por todos os fãs até hoje.
Na época em que lançou para o PS2, infelizmente, não tinha acesso ao console e só podia ver em revistas e em fóruns da internet as impressões das pessoas. Alguns anos mais tarde, um amigo emprestou o PS2 com o jogo e finalmente pude jogá-lo. A experiência ainda continuou fantástica, mesmo que “tardia”. Já era fã da série (comecei por Twin Snakes por ter um GameCube) e, inclusive, foi Metal Gear Solid 4 que me fez comprar um PS3.
Mais de 20 anos se passaram desde que vimos os primeiros passos de Big Boss como Naked Snake. Quando a Konami anunciou um remake desse jogo que marcou história, achei algo arriscado (ainda mais com a ausência do criador Hideo Kojima e do artista Yoji Shinkawa). Mas ficou claro com os anúncios e agora com este review que a intenção era mais de preservar o legado da série do que renovar.
O que quero dizer com isso é que Metal Gear Solid Delta: Snake Eater não é um remake como a Capcom fez com Resident Evil 2, por exemplo. É muito mais o que vimos acontecer com Crash Bandicoot N. Sane Trilogy – é o “mesmo jogo” mas com uma camada de tinta por cima.
Primeiramente, precisamos falar sobre o jogo original para, então conversar sobre o que há de realmente novo nesta versão.
Se você esteve numa caverna nos últimos anos e nunca ouviu falar de Metal Gear Solid 3, Delta é a forma perfeita de começar a série. Cronologicamente, de todos os vários títulos que foram lançados, é o primeiro do enredo e, mesmo sendo “3”, não há necessidade alguma de ter jogado os outros. É claro, há referências – inúmeras, na verdade – sejam elas sutis ou óbvias, que vão desde elementos da história (tudo que envolve Ocelot, os primeiros indícios dos Metal Gears como REX, Donald Anderson, etc) até como cutucadas nos fãs (o visual de Raikov e o provável descendente de Johnny). Mas são menções ou easter eggs que podem ser ignorados sem problema algum e que você vai entender perfeitamente caso jogue os outros títulos da série posteriormente.
Snake Eater é um jogo de ação e furtividade (stealth). Você controla um personagem chamado Naked Snake e o básico do gameplay é não ser visto de forma alguma pelos soldados e usar de diversos artifícios para isso, como desde eliminá-los ou nocauteá-los, ou simplesmente distraí-los ou passar despercebido na clássica caixa de papelão ou revista com mulheres sensuais.
Algo diferente dos outros jogos é o sistema de stamina. Basicamente, a barra dela cai com qualquer ação física que você fizer (mesmo parado ela cai lentamente). Snake precisa se alimentar constantemente para mantê-la alta e, no processo, recuperar a sua vida principal também. O barulho do estômago vazio de Snake também pode alertar os soldados.
Para se alimentar, Snake deve caçar na selva os vários animais como cobras e peixes, ou comer alguns frutos ou cogumelos, por exemplo. Parece algo complexo, mas na prática é bem simples. Os mapas do jogo são bastante lineares e basta caçar o que estiver em seu caminho.
O arsenal de Snake é bastante variado, contando com pistolas, metralhadoras e até um lançador de foguetes. Ao mesmo tempo, há diversos acessórios que também ajudam no seu progresso, como uma bússola ou visor térmico.
Outro ponto importante do gameplay é o sistema de camuflagem. Snake pode trocar o seu traje a qualquer momento, assim como a pintura facial, para que se adeque ao ambiente em que está. Uma % na tela indica o quão camuflado você está – quanto maior, mais dificilmente os inimigos o avistarão.
Quando Snake recebe dano dos inimigos, ele pode ter uma fratura ou perfuração (como uma bala). É necessário gastar recursos e realizar os reparos adequados, como costurar uma ferida ou remover uma bala com a faca, para poder voltar a recuperar a vida.
Por fim, temos o clássico CQC. Utilizando a pistola, faca ou apenas os punhos, você pode se aproximar de um inimigo distraído e iniciar o processo do CQC. Basicamente, Snake faz o inimigo se render e pode realizar ações como pedir por informações ou simplesmente matá-lo. O CQC também é usado para atacar o inimigo no corpo-a-corpo, causando um nocaute instantâneo.
Algo marcante em todo Metal Gear Solid são os chefes e Snake Eater não é diferente. Os chefes da série são marcantes porque os duelos sempre apresentam mecânicas variadas. Isso significa que não é sempre “mirar, atirar e se esconder”. O duelo com o The End (que é um sniper) é sensacional, por exemplo. Todos possuem uma forma única de duelar e muitos, se não todos, oferecem uma forma diferente de abordagem que você normalmente ignoraria.
Snake Eater não é um jogo muito longo. A campanha dura em torno de 12 a 15 horas, dependendo de como você resolver abordar a furtividade, além do nível de dificuldade escolhido. O que torna Snake Eater um jogo dessa duração são as suas cutscenes enormes – característica de Hideo Kojima. E, como este aqui em específico tem uma das melhores tramas da série, é difícil se importar com a duração delas.
A história é um ponto extremamente importante não só aqui, mas em toda a série. É simplesmente impressionante o nível de detalhe e “lore” que MGS possui, portanto discutir isso nesta análise a tornaria uma bíblia. O que importa para você saber é que, caso não conheça a série, pode começar a jogar por aqui como foi dito anteriormente. Mas, o enredo básico é que em 1964, 31 anos antes dos eventos do Metal Gear original, o agente da FOX de codinome Naked Snake precisa resgatar o cientista de foguetes russo Nikolai Stepanovich Sokolov, sabotar uma superarma experimental e assassinar sua antiga mentora desertora.
As músicas de Snake Eater são clássicas e nesta nova versão continua, a princípio, sendo as mesmas. Não fiz uma comparação detalhada, mas parecem ser exatamente as mesmas do original.
E isso nos leva a Metal Gear Solid Delta: Snake Eater. MGS3 já viu diversos relançamentos: depois do jogo original em 2004, tivemos o Subsistance ainda no PS2, as versões HD na geração do PS3, a Legacy Collection há pouco tempo e até mesmo uma em 3D para o Nintendo 3DS. Mas de todas essas novas versões, Delta é a mais ousada – mas nem tanto.
Esse é o maior problema – para mim – neste remake. A Konami respeitou a obra original o máximo possível, mas ao mesmo tempo perdeu a oportunidade de aprimorar diversos pontos que poderiam sofrer alterações.
Metal Gear Solid Delta: Snake Eater oferece o seguinte de diferente e que merece destaque:
- Gráficos: parece óbvio, mas é importante ressaltar este ponto. O jogo inteiro continua 1:1 igual ao original, mas todos os gráficos foram atualizados. É como se um grande filtro tivesse sido aplicado. Isso funciona porque MGS3, apesar de ter 20 anos, possuía boas movimentações de personagens. Mas algumas coisas continuam estranhas, como as cenas que envolvem beijos;
- Taxa de quadros: o gameplay pode ser jogado a 30 ou 60 fps, dependendo do modo escolhido. As cutscenes, porém, parece que ficam travadas a 30 independente da escolha. Como é algo que você acaba se acostumando, não é algo tão ruim assim priorizar os gráficos nelas;
- Legendas em português do Brasil: após todos esses anos, finalmente MGS3 encontra-se legendado de forma oficial;
- Snake vs Monkey: disponível somente no original do PS2, o minigame com os macacos de Ape Escape finalmente retorna e possui até mesmo a aparição de um novo mascote da Sony;
- Um minigame (Guy Savage) que aparece quando você salva na cena da tortura está de volta;
- Modos extras que já tinham nas outras versões, como o Secret Theater, continuam presentes aqui. No entanto, muitas cutscenes desse modo (que faziam paródias utilizando cutscenes do próprio jogo, mas alterando seus modelos) são, bizarramente, gravações com os gráficos do PS2.
- E, finalmente, o “novo modo” de gameplay.
Metal Gear Solid Delta: Snake Eater tem duas opções de escolha ao iniciar: o clássico ou o novo. O clássico é basicamente a versão original, com uma visão superior, enquanto que o estilo “novo” traz uma câmera em terceira pessoa, com uma mira por trás do ombro.
O jogador é capaz de andar agachado como um meio mais rápido de travessia e evitar ser detectado – uma mecânica herdada de Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots e Metal Gear Solid: Peace Walker; além de já estar presente na versão de 3DS. Como um meio adicional de evasão, Snake também é capaz de mergulhar em um rolamento como um meio de se proteger de forma mais eficiente sem ser avistado durante o movimento, um refinamento de mecânicas separadas presentes em MGS4 e MGSV.
O remake também mantém uma câmera controlável semelhante a Metal Gear Solid 3 Subsistence e os vários outros relançamentos do título. Esses sistemas de jogabilidade recém-adicionados são parte do “Estilo Moderno” padrão do jogo, que introduz um esquema de controle renovado e vários ajustes de qualidade de vida que se adaptam às sensibilidades de jogos modernos, bem como refletem os estilos de ação contemporâneos presentes em títulos Metal Gear subsequentes. Como alternativa, os jogadores podem ativar o “Modo Legado”, que reproduz fielmente os controles e a apresentação do lançamento original para PS2 de Metal Gear Solid 3: Snake Eater, incluindo a restauração da visão aérea do jogo, câmera fixa e filtragem de cores.
Honestamente, considerando que mexer numa obra tão importante quanto Snake Eater era arriscado, já esperava que este remake seria pouco ousado. E as mudanças listadas acima são válidas e deixam o jogo um pouco mais moderno. Mas havia ainda muitos elementos a serem aprimorados.
A seleção de itens durante o gameplay continua sendo aquela tortura de rolar num menu aberto pelo D-Pad. E se ele não está lá, precisa deixar neste menu através de outro menu do Pause. A camuflagem precisa ser alterada várias vezes e sempre por um menu – há um “quick menu” pelo D-Pad, mas sinceramente não achei muito útil. Todas essas opções eram facilmente resolvidas com uma roda de itens, algo oferecido por diversos jogos modernos. Quer o jeito original? Era só mantê-lo ali e oferecer as duas opções.
Mas acho que minha maior decepção é que MGS Delta oferece muito pouco para quem já conhece Snake Eater. Como é um jogo 1:1 com novos gráficos (muito bons, diga-se de passagem), é uma ótima forma de relembrá-lo. Mas é só isso. É o mesmo jogo que você já conhece há 20 anos por trás desses gráficos. O gameplay “novo” entrega alguma experiência diferente, mas como os objetivos, fases, inimigos, chefes e todo o restante é a mesma coisa, não parece ser tão novo assim no fim das contas.
Posso estar mal acostumado com os remakes que a Capcom fez com Resident Evil, por exemplo, ou até mesmo Silent Hill 2 da própria Konami (mas de outra desenvolvedora, é claro, a Bloober Team), mas esperava mais de MGS Delta.
No fim, MGS Delta é um jogo obrigatório porque o original continua sendo. E, mesmo que modifique pouca coisa (além dos gráficos), acaba se tornando a melhor forma de jogar Snake Eater. Dito isso, se você nunca jogou, é um título extremamente obrigatório. Caso tenha jogado e é um fã normal da série, talvez seja melhor esperar uma promoção. Os fãs hardcore sabemos que vão comprá-lo na pré-venda.
Metal Gear Solid Delta: Snake Eater está disponível para PS5, Xbox Series e PC com legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Konami.