Apesar de nunca ter sido um sucesso enorme, a franquia Mafia sempre teve seu apreço e diversas qualidades. Enquanto o primeiro jogo ficou ofuscado numa época da explosão dos GTA’s no PS2 e novos títulos surgiram um em cada geração posterior, mas nunca tendo uma recepção explosiva, a série continuou sempre acertando em pontos principais daquilo que seus desenvolvedores colocaram como primordial e entregando sua proposta quase que única em alguns aspectos.
Apresentando histórias diversas de mafiosos e criminosos ao longo de décadas iniciais do século XX, a franquia mostrava personagens se envolvendo com diversas famílias e ações criminosas em locais baseados em cidades icônicas, como Empire Bay e sua inspiração em New York. Ao longo da jornada de cada protagonista, o jogador era apresentado ao estilo peculiar do “trabalho” de cada família do ambiente do crime, como dos italianos e norte americanos.
Apesar de ser o lançamento mais recente agora em 2025, Mafia: The Old Country é justamente o que apresenta a história mais longínqua na franquia, indo aos primórdios e origens dos mafiosos italianos inspirados na clássica Sicília, na primeira década do século passado. Mostrando o jovem Enzo Favara como protagonista, o jogador adentra em mais uma história de superação e de um anti-herói que vê sua vida mudar quase ao acaso de se esbarrar com uma família com grande poder local, passando a mover seu futuro em prol dessa ligação.
Mafia: The Old Country segue o padrão da franquia em ter grande foco na narrativa, personagens e na história como um todo. Apesar de entregar um mundo aberto e interação com NPCs, veículos, locais e mais, o título continua usando isso principalmente como completo à ambientação. Em suma, o mundo aberto existe mas não de forma tradicional como em outros jogos, repletos de atividades por fazer. Mafia sempre usou isso para criar e apresentar uma estrutura e ambiente que dê mais credibilidade para o mundo e a história apresentada, praticamente não investindo em atividades secundárias de peso como visto em outros jogos, mas enxugando tudo em reforço da sua história principal.
Além disso, boa parte da estrutura de jogabilidade segue o padrão da série também. A ação em terceira pessoa com armas de fogo, combate direto à curta distância com armas brancas e até mesmo sessões de stealth e mais sorrateiras continuam fazendo parte do pilar principal. The Old Country adiciona um foco maior aos duelos de facas, quase como uma boss fight em diversas partes e com uma boa variedade de opções, mesmo que no fim sempre vá ser apenas um duelo de facas de forma mais cinematográfica.
Por fim, parte da jogabilidade ainda fica a cargo da transição pelo mapa com veículos, principalmente os clássicos de suas épocas e, agora adicionado aqui, cavalos. Infelizmente o rádio não havia sido adicionado aos veículos ainda e por isso uma das partes magistrais da franquia acabou ficando de fora. De toda forma e assim como tudo já mencionado, o fator histórico para a ambientação está presente de forma incrível aqui e mantém a tradição do bom uso disso.
Se você jogou qualquer outro título da franquia antes, principalmente o excelente Mafia: Definitive Edition e Mafia 2, já tem uma grande ideia da estrutura de jogo. Não há muita reinvenção e novidades aqui, já que com o preço reduzido para venda e um escopo já anunciado ser mais centrado na história e menor em quantidade indicava um mais do mesmo. No fim, a jogabilidade vai focar nas partes já ditas e nada mais, com o jogador passando de capítulo em capítulo até concluir a história, brincando levemente com customização de veículos, algumas habilidades disponíveis e outras opções menores.
De toda forma, a grande crítica aqui, e talvez o maior problema que impede o jogo de ser uma grande história com ótimos personagens, é exatamente o trato que a história e narrativa recebe. Ainda que seja mais uma história sobre família e máfia, ao jogar e avançar até terminar o ato 1, o jogador já tem quase que antecipação de todos os eventos futuros e mostra a previsibilidade do roteiro. Guerras, intrigas, traições, grandes viradas na trama, eventos dramáticos e mais, tão clichês, são usados a esmo pra entregar a jornada de Enzo e sua ascensão numa família de negócios ilegais enquanto começa a viver um amor proibido e a aspiração futura de uma vida melhor.
Além disso, há um certo descompasso em entregar uma linha narrativa crescente e acertada, com o título apelando mais para os diversos momentos épicos que vão brilhar aos olhos dos jogadores, como perseguições, tiroteios e outros. Há diversos momentos de altos e baixos em toda essa entrega e, principalmente na última sessão jogável da campanha, alguns chegam a ser deploráveis.
Para se ter uma ideia, as melhores partes da campanha aparentemente foram colocadas para serem exatamente explosivas, mas ao tentar encaixar na narrativa apresentada e na construção dos personagens fica difícil encontrar algum elo. O capítulo da corrida de carros é excelente e cativante, mas não se enquadra quase em nada com a motivação dos envolvidos. Isso também acontece com uma certa perseguição no fim do jogo que quase só mostra os momentos explosivos para deleite visual, sendo que o impacto maior deveria ser uma grande perda para o protagonista.
A Hangar 13 já teve suas diversas lições a aprender com seus trabalho, mais recentemente nos diversos problemas em Mafia 3 e logo após com o remake bem sucedido do primeiro jogo, mas aparentemente não foi o suficiente para que The Old Country se sobressaísse dentro da própria franquia. Apesar de manter um excepcional trabalho histórico, trato impecável na ambientação e uma direção de arte e visuais exuberantes, ainda que a Unreal Engine 5 continue mostrando suas falhas em cada novo projeto, não foi em 2025 que um título Máfia ganhou o destaque que realmente merecia.
Mafia: The Old Country está disponível para PS5, Xbox Series e PC com legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 (no PS5 Pro) e foi realizada com um código fornecido pela 2K.