Sim, finalmente os fãs de futebol americano do mundo inteiro estão sendo agraciados com a versão deste ano do maior clássico do gênero nos videogames, o Madden NFL 26. E se para nós, brasileiros, esse esporte está longe de ser popular, e muito menos pode ser chamado de futebol – porque afinal de contas, concordemos, com o pé mesmo joga-se muito pouco – há uma legião de entusiastas que, diante algumas decepções em quesitos de inovação das edições anteriores, seguem fervorosos atrás de um novo Touchdown que, parece, chegou.
Isso porque a EA, ao que tudo indica, finalmente acertou na estratégia de como renovar aquilo que parecia sedimentado e escrito em pedra, se apropriando de dois recursos principais: o primeiro e mais óbvio, claro, que é o feedback do público, que clamava por algumas revisões de conceitos datados, principalmente na jogabilidade. O segundo é poder refinar ideias na bem sucedida e mais recente franquia College Football para, com maturação, implementar no game licenciado pela maior liga do planeta da categoria.
E logo de início fica claro que Madden NFL 26 emprestou um certo frescor de seu irmão mais novo, como se ganhasse um fôlego renovado, mais leve do que em suas aparições anteriores. Toda a apresentação é mais dinâmica e mais ágil. Não necessariamente é um ajuste de velocidade de jogo ou de animações, mas sim uma sensação de que o peso exagerado saiu das costas de jogadores, times, e do game como um todo.
A concorrência colaborativa entre os diferentes grupos de desenvolvimento dentro da EA parece ter criado um espelho onde a comparação interna acaba oferecendo uma perspectiva renovada, praticamente inexistente quando se tem um monopólio estabelecido no mercado. Por esse prisma, pessoalmente, eu gostaria que esses caras pensassem em um jogo de futebol (o de verdade, claro) com novas ideias e de menor escopo, para espelhar a experiência nos próximos EA Sports FC, franquia que parece satisfeita em não arriscar demais por ter um mercado praticamente só dela.
Mas voltando ao football gringo, as melhores características de College Football, principalmente na mais recente iteração, foram importadas com bastante sucesso. A personalização das zonas de defesa e dos movimentos de bloqueio funcionam bem, e aumentam a qualidade de vida na fase defensiva que sempre foi, tradicionalmente, a menos empolgante na comparação com o ataque. Este, por sua vez, também recebeu ajustes importantes, como a opção revamped passing e sua maior diversidade e sofisticação nas opções para as estrelas do time.
Tudo isso depende de uma rápida adaptação em relação às nuances da interface reformada, mas bastam algumas partidas desengonçadas e tudo volta aos trilhos. E se há uma característica que parece não abandonar os primórdios é que Madden se aprende a jogar jogando. Se as regras do esporte em si, baseadas em conquista de território, já deveriam (na cabeça dos desenvolvedores) ser de conhecimento prévio, os controles também recebem bem pouco esforço na explicação, por mais que comandos e menus sempre estejam poluindo as telas dentro e fora das disputas.
Sempre há opções, claro, para treinamento e aprendizagem de conceitos básicos do jogo para quem quiser se introduzir ou reintroduzir à franquia, e a nova versão do Skills Trainer é bem mais generosa que o que era encontrado anteriormente. Ainda assim pode ser um pouco confusa demais com tantas possibilidades, sobretudo para quem tiver dificuldade em compreender o idioma original, já que claramente não há qualquer preocupação em localização para o nosso português.
Os novos incrementos, felizmente, não se limitam às mecânicas dentro de campo, e Madden NFL 26 faz o que o modelo de negócios de espetáculos esportivos na televisão americana faz de melhor, que é valorizar o produto e transformar tudo em um grande show, com direito a bons inserts da torcida e do entorno do estádio, diferenciações entre transmissões dominicais ou de meio de semana, alternância em equipes de narradores e comentaristas, e variações das entradas em campo personalizadas para cada equipe.
Se, por sua vez, é verdade que gráficos e modelagens humanas realistas, para o gênero, parecem ter alcançado o teto desta geração há algum tempo, é no aprofundamento de como cada componente se comporta onde está o espaço para crescer. Confesso ser este o jogo onde eu mais evito pular a cena de abertura (como sempre faço nos demais), já que há sempre algo novo a ser apreciado, seja com mascotes fazendo firulas, enquadramentos ousados e coisas assim.
Jogando no console PS5 padrão, entretanto, notei algumas quedas anormais e bruscas de desempenho em cenas de corte, seja nestas aberturas, seja em passagens de comemorações durante as partidas. Não posso afirmar que é um gargalo do console base ou se é um problema de desempenho do jogo na transição das passagens jogáveis para os floreios visuais, mas é algo frequente que, espero, deve ser resolvido em uma próxima atualização.
Outra boa adição ainda dentro do pacote visual do jogo está nas variações climáticas muito bem implementadas, incluindo a chuva e a neve, que afetam não só o peso do campo, com corridas mais lentas e arrastadas, como também na visibilidade do campo. Aquele passe perfeito de 40 jardas em dias ensolarados pode ser bem mais trabalhoso quando não enxergamos nada além de 5 ou 6 metros a frente, algo que pode mudar os rumos de uma partida. Ainda que a CPU não pareça ser afetada pelo efeito, é uma variável muito bem-vinda de modo geral.
Tudo isso como suporte ao que Madden tem a oferecer de central em sua experiência, dividida em duas fases (talvez três, dependendo do seu perfil) que muito provavelmente serão apreciadas em paralelo pela grande maioria dos fãs, que são o Franchise, o modo mais tradicional de carreira solo, tal como o Superstar, a versão individual da campanha; e o Ultimate Team, termo facilmente reconhecível por quem é experiente da linha FC, que equilibra ações on-line e off-line na montagem de uma equipe basicamente do zero.
Quanto ao primeiro, comandar uma marca bem estabelecida dentro do conceito de franquias da NFL não é tarefa fácil. Aspectos de contratação, gestão de grupo, equilíbrio de investimento e outras burocracias permanecem e dão um charme extra entre uma partida e outra. Frequentemente, me vi investindo mais tempo na análise de desempenho de possíveis reforços ou no planejamento de onde colocar pontos de habilidade em novas melhorias permanentes ou temporárias do que nas partidas em si.
Até mesmo o Training Camp, que encolheu em importância e volume, continua funcionando para desenvolver habilidades e aproximar time e treinador, mesmo com alguns mini-games controversos e irritantes aparecendo de tempos em tempos. Salvo que a personalização não vai muito além das possibilidades mais básicas, com direito a certas bizarrices e poucos ajustes finos, o modo é o melhor lugar para se morar confortavelmente em Madden NFL 26.
Já o modo Superstar, com alguns bons (mas rasos) elementos de RPG na interação e convivência dentro do seu time, parece tão bom como sempre foi. Não é dos meus favoritos por conta da modalidade e da latência da experiência individualizada de um jogador, mas é uma forma muito particular de compreender a dimensão do jogo pela perspectiva pontual tanto das partidas quanto dos bastidores da liga.
Já o Ultimate Team é exatamente aquilo que se espera dele: cartinhas e mais cartinhas para montar um time dos sonhos, investimento de tempo para começar a render melhor a médio prazo, e a possibilidade de se colocar mais alguns dólares no jogo para quem realmente quer se tornar competitivo. Tão viciante quanto abusivo, é um sistema de retroalimentação que tem seus atrativos sedutores, mas depende de um nível de engajamento muito mais elevado do que entusiastas casuais tem a oferecer.
Dito isso, o ciclo de gameplay aqui é tão imersivo quanto possível. Jogar, arrecadar mais uns trocados, abrir um novo pacote de figurinhas, se frustrar com um monte de lixo e, talvez, celebrar uma novidade com um ou dois pontos gerais acima do seu atual titular é estranhamente funcional, e creio ter gasto mais tempo aqui do que me orgulharia em assumir.
Madden NFL 26 é, em resumo, um daqueles raros momentos onde séries esportivas anuais dão um salto um pouco maior do que a esperada atualização de uniformes, elencos e ajustes modestos pouco perceptíveis. Apesar de não renovar a roda nem transformar o conceito de fogo, consegue implementar adições inovadoras (ainda ques testadas em ambiente seguro na sua marca co-irmã), bem como ampliar toda a pirotecnia hipnótica típica da TV estadunidense.
Não espere que, com isso, o jogo se torne algo que vá convencer seus detratores a mudar de opinião, muito menos fazer alguém gostar deste esporte tão divisivo sobretudo aqui, em terras tupiniquins. O futebol digital praticado com mãos, pancadas, capacetes e uma bola esquisita continua sendo exatamente aquilo que, para o bem e para o mal, ele se prestou a ser. Fãs vão adorar, porque é provavelmente o melhor Madden dos últimos tempos. Já os demais, esses possivelmente só vão dar de ombros e ignorar.
Madden NFL 26 está disponível para PS5, Xbox Series e PC, sem áudio ou legendas em português. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Electronic Arts.