Quando realizei a análise de Lies of P, uma das qualidades que fiz questão de exaltar foi a dedicação que a equipe de desenvolvimento teve em preservar — e até replicar fielmente — muitas características positivas dos jogos da FromSoftware. Esse comprometimento rendeu grandes elogios por parte da comunidade de fãs de soulslike e fez com que o título do estúdio Round 8 e da NEOWIZ entrasse rapidamente para a lista dos favoritos da maioria dos jogadores do subgênero de RPGs de ação.
Com o lançamento de Overture, o primeiro DLC pago do jogo, a desenvolvedora coreana aproveitou sua experiência acumulada para introduzir novas ideias, especialmente voltadas ao combate. Embora a expansão não revolucione o game, ela oferece motivos suficientes para que os jogadores retornem ao sombrio mundo de Krat por mais algumas boas horas de desafios brutais.
A história leva Pinóquio e seu fiel companheiro Gemini de volta ao passado, para um período anterior ao frenesi que tomou os títeres e mergulhou a cidade no caos. Os personagens seguem os passos de Lea Florence, a famosa Espreitadora Lendária, que parte em busca de seu aprendiz, desaparecido misteriosamente durante uma missão.
Ao longo da jornada, o jogador terá acesso a informações importantes sobre a origem da doença da petrificação e a influência dos alquimistas nos eventos que condenaram Krat. Também serão revelados segredos envolvendo personagens marcantes do jogo base. A narrativa mantém o tom melancólico característico do game, ainda com uma abordagem mais direta. Também é possível descobrir detalhes adicionais por meio de diálogos com um bom elenco de novos NPCs, além de missões secundárias e itens colecionáveis.
Entre os novos itens, destacam-se os discos que podem ser tocados no Hotel, adicionando ótimas canções a uma trilha sonora que já estava entre as melhores dos últimos anos. Além deles, há uma boa variedade de trajes, gestos, armas e amuletos, que expandem significativamente o inventário tanto cosmético quanto de combate.
O design dos novos mapas segue majoritariamente linear, com áreas sendo desbloqueadas à medida que avançamos e derrotamos os chefes principais. Uma das boas novidades é o uso evidente de uma paleta mais variada de cores nos cenários. Embora os tons escuros ainda prevaleçam em alguns mapas, a neve e outros efeitos climáticos em locais como o zoológico, o circo e a região costeira ajudam a tornar esses ambientes alguns dos mais memoráveis de todo o jogo.
Outra característica marcante dos cenários da expansão é a presença de ambientes mais fechados. Mapas como o laboratório, a mansão e as cavernas trazem corredores estreitos, ocupados por um maior número de inimigos — o que resulta em combates intensos contra grupos que exigem boas estratégias e paciência para serem superados.
A presença de mais inimigos também aparece em áreas mais abertas, mas não chega a representar um problema para quem souber tirar proveito das novas ferramentas introduzidas em Overture. Entre elas, destaca-se o Arco de Chifre Régio. Apesar do alcance limitado a médias distâncias, sua munição infinita, a possibilidade de usar rebolos para disparar flechas elementais e os ataques de fábula fazem dele uma das armas mais interessantes da expansão.
As demais armas também apresentam combinações de ataque bastante satisfatórias. Fica evidente a preocupação da Round 8 em tornar cada item ainda mais único. Muitas delas contam com ataques exclusivos de fábula, o que amplia consideravelmente as possibilidades de combinação entre punhos e lâminas para criar novas armas.
Entre as armas mais divertidas estão o Punho do Catavento do Maníaco, que acumula energia conforme o jogador corre pelo cenário, e o Sabre da Rosa de Monad, capaz de desferir uma série de ataques cortantes que causam bastante dano e ainda podem atordoar os inimigos. No entanto, a arma que melhor se encaixou na minha build e estilo de jogo foi a Cavaleiro Pálido — uma lâmina acoplada a um cartucho de munição de ergo, que dispara tiros poderosos para finalizar os combos.
Os novos braços legionários são apenas dois, mas se destacam pela alta eficiência no controle de grupos de inimigos, um dos principais desafios da expansão, como mencionado anteriormente. O mais relevante é o Cataclismo, uma espécie de escopeta que pode ser carregada previamente para disparar um potente tiro. Essa saraivada de chumbo não só empurra os inimigos como também pode deixá-los vulneráveis a um ataque crítico.
O outro braço é o Ícaro. Ele dispara lâminas circulares que ficam rodeando e causando dano ao oponente por um breve período. Além de ser uma boa opção para finalizar uma luta a média distância, também é uma forma de distrair o inimigo para ganhar um pouco de tempo para recuperar vida ou consertar a arma.
Esse recurso pode ser um diferencial na hora de vencer um confronto, já que inimigos básicos, elites e chefes são mais ágeis e conseguem reduzir rapidamente a distância para o jogador. Essas mecânicas fazem com que a experiência acumulada ao longo da campanha principal, tanto em táticas de defesa quanto de esquiva, seja constantemente colocada à prova.
A expansão traz uma boa quantidade de novos inimigos, e mesmo os que retornam do jogo base foram levemente modificados para incluir novos padrões de ataque. Uma das minhas partes favoritas é o zoológico, onde enfrentamos carcaças reanimadas de animais extremamente vorazes, como lobos, gorilas, elefantes, cangurus e até um jacaré gigante.
Um dos conceitos introduzidos em Overture foi a presença de inimigos maiores e mais agressivos em comparação ao jogo base. Isso tornou a expansão mais desafiadora, mas também trouxe problemas com a câmera. Em algumas dessas batalhas, foi complicado perceber com precisão o posicionamento e os ataques dos inimigos, dificultando a reação a tempo para uma defesa perfeita ou a fuga de ataques de agarrão.
A curva de desafio da expansão é bastante alta. Vale ressaltar que parte do conteúdo gratuito lançado junto com o DLC incluiu a implementação de modos de dificuldade. Nesta análise, porém, todas as minhas impressões se baseiam na dificuldade padrão e no ciclo do Novo Jogo+.
Como era necessário avançar até o final do capítulo 9 para acessar o conteúdo adicional, optei por continuar minha campanha no Novo Jogo+, já que havia progredido bastante nesse ciclo. Logo no início, percebi que, mesmo com meu personagem em nível alto, fui surpreendido diversas vezes ao morrer com apenas três ataques de inimigos até mesmo básicos. Parte dessa dificuldade pode ser explicada pelo tempo que fiquei afastado de Lies of P, tanto que, conforme avançava pelos cenários e adquiria novos itens, a situação foi ficando mais administrável.
Isso não significa que a expansão tenha se tornado fácil. No entanto, minhas reações melhoradas com a prática e os novos recursos — tanto de combate quanto de progressão, como a possibilidade de evoluir os aprimoramentos do Órgão P — aumentaram significativamente minhas chances de sucesso contra o que considero os chefes mais insanos do game.
Outra função incluída gratuitamente na atualização de Overture é o modo revanche contra chefes. As Memórias de Batalha permitem enfrentar novamente todos os chefes do jogo base e da expansão sem precisar iniciar um novo ciclo para jogar a campanha inteira novamente. Além do modo revanche individual, há também a opção Marcha Mortal, que permite ao jogador criar uma sequência personalizada dos principais inimigos para enfrentar em uma boss rush.
Com todas essas adições, posso concluir que Overture é uma expansão que valoriza ainda mais o excelente trabalho da Round 8 em Lies of P. As novas armas e braços legionários oferecem diversas alternativas no combate, a história aprofunda pontos importantes sobre personagens do jogo base, e as novas batalhas contra chefes são ainda mais emocionantes. Por mais que não apresente uma grande revolução para a fórmula, a expansão é obrigatória para os fãs do jogo.
Lies of P: Overture está disponível para PS5, PS4, Xbox Series, Xbox One e PC. Esta análise é do DLC da versão de PS5 e foi realizada com um código fornecido pela NEOWIZ.
