Katsuhiro Harada explica por que SoulCalibur “desapareceu”

SoulCalibur VI foi lançado em 2018 e, apesar de ter recebido dois passes de temporada, não tivemos mais novidades da série desde então.

Em uma longa postagem, o chefe de Tekken, Katsuhiro Harada, apontou o dedo para uma série de fatores, incluindo a própria Bandai Namco (via IGN).

Harada respondeu a um tuíte de um usuário que afirmou que se Soul Calibur II tivesse um diretor como o próprio Harada, as vendas daquele jogo e da série teriam crescido ao longo do tempo. O usuário até apontou para mecânicas nos jogos SoulCalibur mais antigos que foram abandonadas pelos títulos mais recentes como uma razão para o declínio da franquia.

Mas Harada insistiu que havia muito mais na queda de SoulCalibur do que a simples remoção de mecânicas de jogo. Ele destacou a saída de funcionários importantes do projeto em meio a problemas estruturais na Bandai Namco que até o afetaram em um ponto. “Posso dizer que as mudanças organizacionais e os tomadores de decisão na Bandai Namco tiveram muito a ver com isso”, disse Harada.

Harada disse que a série SoulCalibur tinha um “líder forte” antes e um grupo de desenvolvedores de “elite”. Nos primeiros dias, houve “atrito” entre as equipes de Tekken e SoulCalibur, pois a rivalidade entre elas se intensificou. O líder forte saiu, mas “Tekken e SC sempre foram rivais dentro da empresa também”, acrescentou Harada. “Mais do que as pessoas podem imaginar.”

Harada revelou que quando o mercado de jogos de luta mudou dos Arcades para os consoles domésticos, SoulCalibur vendeu mais que Tekken na América do Norte, enquanto que Tekken se saiu bem nos Arcades. “SC sempre foi visto como tendo um futuro promissor, mesmo dentro da Namco, e era considerado capaz de se expandir além do reino dos jogos de luta em uma perspectiva bastante global”, disse Harada.

Então chegamos ao cerne da questão do argumento de Harada: que os desenvolvedores de videogames foram confrontados com a possibilidade de se tornarem gerentes à medida que progrediam em suas carreiras, em vez de se tornarem grandes desenvolvedores de videogames. “Na verdade, na época, a única maneira de progredir na carreira era sob tal sistema”, disse Harada. Como resultado, os principais desenvolvedores seriam “arrancados” dos projetos para trabalhar em outras coisas, e isso teve um efeito negativo em SoulCalibur.

“O Project Soul estava lutando para sobreviver (ou assim me pareceu), especialmente entre seus membros mais jovens”, disse Harada. “No entanto, parece que era difícil para eles manterem sua visão, vontade e estrutura organizacional agora que não estão mais no mundo centrado no desenvolvimento de jogos do passado, mas sim ‘uma equipe de desenvolvimento de jogos que é apenas um de todos os negócios nas empresas do grupo’”.

Harada então discutiu sua própria experiência nisso, onde se tornou o chefe de um novo departamento chamado Desenvolvimento de Negócios Globais, “que não tinha nada a ver com desenvolvimento de jogos”. “Isso significava que, do ponto de vista organizacional da empresa, eu estava fora do Tekken Project, tanto em termos da empresa em si, suas divisões e departamentos, quanto em sua gestão orçamentária”, explicou Harada.

“Isso não foi ideia minha, é claro, mas foi decidido pela gerência na época de acordo com a política da empresa que mencionei anteriormente”. Em resposta, Harada assumiu a responsabilidade de liderar o Tekken Project, apesar de ter um trabalho completamente diferente. Em suma, ele continuou a fazer o trabalho do qual havia sido “arrancado” à força.

“E nós, do Tekken Project, sempre dissemos que ‘os direitos do título pertencem à empresa, mas a comunidade de fãs só pode contar com a equipe que tem a vontade de fazer o jogo’. Então, desde o começo, decidi quebrar completamente a ‘regra do entendimento tácito em uma empresa’”.

A equipe do Tekken Project efetivamente se tornou independente, como uma empresa separada, um movimento que Harada disse ter sido mal visto internamente. A equipe de Tekken foi descrita como um grupo de foras da lei, pois era o único grupo dentro da Bandai Namco capaz de tomar decisões independentes.

Essa, então, foi a chave para a sobrevivência do Tekken e o fim de SoulCalibur, pelo menos do ponto de vista de Harada. “Então, nunca fomos obedientes, mas sempre um grupo perverso com uma forte vontade (percebi por meio dessas experiências que, infelizmente, provavelmente tenho uma personalidade ruim)”, disse ele.

“Acho que essa foi a única diferença entre o Tekken Project e o Project Soul. Acho que o fato de o número de membros que tinham o impulso de manter o título vivo, mesmo que tivessem que passar por todos os tipos de pressão, diminuiu conforme a organização mudou, e esse é um dos aspectos que enfraqueceu o Project Soul aos poucos. Não estou dizendo que é tudo, mas foi um grande fator. Aconteceu devido à política organizacional, não a problemas individuais”.

Sobre o futuro, Harada disse que “mas, do meu ponto de vista, não acho que o fogo do Projeto Soul tenha sido extinto”. “Ainda há algumas pessoas na empresa que têm vontade de fazer isso. Gostaria de acreditar que elas simplesmente não estão unidas agora”.