Análises

Infernax – Review

Projetado inicialmente por meio de uma campanha no Kickstarter, Infernax é mais um jogo que busca resgatar as melhores características de uma geração específica. Nele, os desenvolvedores da Berzerk Studio trazem de volta os elementos estéticos e o gameplay típico da era 8 Bits, apelando para um sentimento de nostalgia dessa época. Mas dentre a vasta oferta de produtos similares no mercado, o que distingue Infernax dos demais?

Divulgado anteriormente como aspecto diferencial do jogo, o sistema de escolhas morais é interessante e funciona bem, ainda que traga algumas inconsistências com a narrativa do jogo. O modo mais fácil de descrever Infernax é; um RPG-ação 2D com tomada de decisões, composto principalmente pelo DNA de Castlevania II: Simon’s Quest e Zelda II: The Adventure of Link. A influência destes dois clássicos do NES é cristalina, mas Infernax traz um estilo próprio a esse sub-gênero, ao aplicar um sistema de escolha e consequência que pode ditar a progressão do jogo e seu final.

É uma pena que a dicotomia do bem x mal quase sempre prepondere neste sistema, visto que na maior parte das escolhas existem apenas duas opções completamente opostas, do ponto-de-vista moral. De todo modo, as repercussões da agência do jogador são bastante visíveis no jogo, liberando sidequests específicas ou magias exclusivas.

Em Infernax o jogador assume o papel de um cavaleiro que, após as cruzadas, volta para seu lar e se depara com diversas manifestações de magia negra e uma seita misteriosa. Diante de tal situação, o usuário do game terá liberdade de confrontar o mal que assola sua terra ou se aliar aos inimigos da igreja.

Apesar dos esforços para trazer novas experiências a um jogo que simula o acervo da era 8 Bits, o gameplay de Infernax é um pouco datado e está enraizado demais aos clássicos dos quais tem como inspiração. Sua jogabilidade é bastante simples e o combate podia ser mais variado. São poucos os modos de ataque e locomoção, o que resulta em batalhas muito simplórias, especialmente pelo fato da inteligência artificial dos inimigos ser limitadíssima.

Inicialmente o deslocamento pelo mapa e em dungeons pode ser bastante lenta e frustrante. A locomoção também não agrada pela limitação no comando do pulo, visto que possui uma altura fixa e não permite o jogador manipular a mesma pelo aperto do botão. As lutas, na maior parte dos casos, se resumem ao repetido pressionar do quadrado – desferindo sempre a mesma animação de ataque. São detalhes assim que demonstram o quão vinculado o gameplay de Infernax está aos jogos antigos.

Com o avanço na jornada, o jogador terá acesso à algumas novas habilidades e magias, mas que são executadas com comandos simples. Os puzzles são raros e a maior parte do desafio são nos segmentos de plataforma, em virtude da morte imediata ao cair em uma lava ou precipício.

O jogador não terá grandes problemas nos confrontos contra inimigos e chefes em Infernax, visto que há itens de apoio e um sistema de progressão de níveis/status que amenizam bastante tais obstáculos. Contudo, em algumas dungeons, os desafios de plataforma podem frustrar alguns pela precisão demandada ou pelo esbarrar de um inimigo que lhe empurra para o buraco, especialmente no modo clássico (em que o game over resulta em perda de progresso). Apesar do anteriormente mencionado, Infernax não é um jogo difícil – aspecto que o distingue das suas fontes de inspiração.

A estrutura de Infernax confere certa liberdade ao jogador, especialmente por meio de missões e exploração opcional. Há um considerável conteúdo extra no jogo, sendo que seu cumprimento é requisito para se alcançar os finais secretos do jogo. É importante ressaltar que Infernax só é plenamente apreciado se for jogado no mínimo duas vezes, devido ao sistema de escolhas. Trilhar o caminho do mal é especialmente divertido.

Um aspecto que traz maior variedade ao gameplay é a transição do tempo; que funciona exatamente como em Castlevania II. Ou seja, depois de um determinado tempo, há a mudança do dia pra noite e vice-versa, alterando os tipos de inimigos que aparecem no mapa e a rotina dos moradores dos vilarejos. Algumas sidequests, por exemplo, só podem ser cumpridas na calada da noite.

Quanto a apresentação visual, esta possui uma qualidade variável, mesmo para aqueles acostumados ao padrão gráfico de jogos 8 bits. Embora alguns cenários tenham certa qualidade na sua composição, a repetição é notada com frequência. Os personagens humanos também não são muito detalhados e a animação é bem limitada neste aspecto. O destaque está na pixelart empregada no design dos monstros e chefes de Infernax. As cutscenes são permeadas de conteúdo violento e são especialmente bem construídas – em questão de qualidade, representam o ponto mais alto do visual do game.

Já os efeitos sonoros são simples, mas colaboram para a atmosfera de opressão e terror que a narrativa transmite. A trilha sonora é surpreendentemente boa e caracteriza bem cada “atmosfera” do jogo. As chiptunes são ótimas, com destaque especial para as músicas das dungeons.

O aspecto mais interessante em Infernax é a distinção na história e nas missões secundárias, dependendo da rota escolhida. Portanto, o fator replay do jogo é satisfatório, ainda mais considerando os códigos (liberando cheats bem humorados e até personagens novos) e o final secreto que o jogo esconde: uma agradável e inesperada surpresa que provavelmente vai arrancar alguns risos de jogadores old-school. Vale muito a pena jogar de novo, aliás, a segunda jornada é essencial. Por fim, convém mencionar que o jogo possui localização para o Português do Brasil, embora algumas traduções sejam um pouco imprecisas.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela The Arcade Crew.

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