Análises

Gloomy Eyes – Review

Em um mundo mergulhado na escuridão, onde o Sol se recusa a nascer após se decepcionar com o comportamento patético dos humanos, duas crianças de realidades opostas iniciam uma jornada tocante e repleta de mistérios. Gloomy Eyes combina uma atmosfera sombria e, ao mesmo tempo, curiosamente acolhedora, para oferecer uma experiência narrativa única, onde o amor e a esperança florescem em meio à obscuridade.

De um lado desta história está Gloomy, um garoto zumbi solitário que sonha em poder brincar com as outras crianças da vila. No entanto, ele vive à margem da sociedade, sendo constantemente evitado por quem o teme e caçado por membros de um culto fanático que culpa os mortos-vivos pela permanência da escuridão.

Gloomy Eyes

A outra personagem central é Nena, uma curiosa e determinada menina humana que acredita ser capaz de descobrir o paradeiro do Sol. Ela é sobrinha do sinistro homem que se autointitula “o Padre” — o líder do culto responsável por aprisionar e torturar zumbis, muitas vezes apenas por diversão.

Em uma noite em que Nena e Gloomy saem para perseguir vagalumes sob a luz da lua cheia, um encontro fortuito faz com que seus olhares se cruzem. Na fração de um instante, o brilho alaranjado nos olhos de Gloomy desperta em Nena uma conexão profunda, criando um vínculo afetivo que os une em uma jornada corajosa em busca do Sol.

Gloomy Eyes

Embora seja uma aventura cooperativa em essência, Gloomy Eyes é focado no modo single player, no qual o jogador alterna entre os dois protagonistas constantemente para realizar ações exclusivas e avançar pelos cenários. Ao longo do caminho, é preciso solucionar quebra-cabeças e evitar ameaças que vão desde confrontos com monstros e cultistas fanáticos até armadilhas.

A jogabilidade, no geral, não é difícil, mas ganha complexidade à medida que mais mecânicas são introduzidas. De um lado, Gloomy sofre dano ao entrar em contato com a luz, é capaz de arremessar pequenos objetos e mover itens pesados. Já Nena, pode ser capturada por zumbis, consegue subir escadas e saltar pequenas distâncias, além de possuir a habilidade de acionar dispositivos mecânicos e elétricos.

Gloomy Eyes

Essa variação de habilidades entre os personagens gera situações bastante intrigantes ao longo da campanha, que tem duração média de cerca de cinco horas, divididas entre 14 capítulos. Embora os cenários não sejam extensos, seu design muitas vezes em espiral favorece a exploração. Frequentemente, é necessário retornar a salas anteriores para ativar mecanismos, compartilhar objetos ou abrir passagens que permitam o avanço do parceiro.

O jogo conta com uma mecânica que permite acionar uma visão mais ampla dos mapas, possibilitando o controle livre da câmera. Essa funcionalidade é especialmente útil para observar os cenários de diferentes ângulos e planejar melhor a solução dos quebra-cabeças.

Gloomy Eyes

A narrativa é conduzida pelo Coveiro, que assume o papel de narrador em um estilo que remete aos contos de fadas clássicos, mas com uma abordagem estética e temática claramente inspirada na obra de Tim Burton. Os cenários transitam entre vilas, uma escola abandonada, cemitérios, um parque de diversões e até uma mansão mal-assombrada, compondo um universo típico de horror, mas permeado por um tom leve e bem-humorado.

Vale destacar que Gloomy Eyes conta com legendas em português brasileiro, o que é sempre um ponto positivo. No entanto, a localização parece ter sido feita por alguém com pouca familiaridade com o idioma falado no dia a dia. Embora não haja erros evidentes na tradução, o uso de sentenças e palavras mais formais contrasta com o tom descontraído do game, quebrando um pouco a proposta da narrativa.

A trilha sonora cumpre bem seu papel ao inserir elementos de mistério que reforçam a atmosfera do jogo, embora possa se tornar um pouco repetitiva quando o tempo para resolver um quebra-cabeça se estende além do esperado. Além disso, alguns problemas técnicos no áudio foram percebidos ao longo da campanha, com pequenos estouros e interrupções repentinas que comprometem momentaneamente a imersão.

Gloomy Eyes

Outros erros pontuais também foram percebidos. Um deles ocorre quando o jogador entra no raio de captura de um zumbi ou na luz, mas consegue escapar antes de ser derrotado. Nessas situações, pode se tornar impossível acionar a função de alternar entre os personagens. Embora o problema seja facilmente resolvido ao recarregar o último checkpoint, ele pode gerar confusão até que o jogador perceba o que está acontecendo.

Além disso, problemas de colisão com objetos do cenário dificultam a locomoção em alguns momentos. Isso pode gerar situações frustrantes, em que, mesmo sendo evidente qual é o caminho correto, a movimentação travada leva o jogador a pensar que está cometendo algum erro ou que precisa buscar outra solução.

Gloomy Eyes

A inteligência artificial dos inimigos, tanto nas sequências de stealth quanto nas de combate, está longe do ideal, o que contribui para que esses trechos, embora curtos, se tornem muito simples. Embora a proposta não seja oferecer um desafio elevado, os puzzles conseguem ser suficientemente inteligentes, o que evidencia a necessidade de um melhor equilíbrio entre as diferentes mecânicas para proporcionar uma experiência mais consistente.

Ainda assim, Gloomy Eyes entrega uma narrativa que, mesmo não sendo das mais longas, consegue ser cativante. As mecânicas de alternância entre os personagens na resolução dos puzzles valorizam a criatividade e mantêm a gameplay interessante. Para aqueles que se encantam por fantasias sombrias com leveza e bom humor, o jogo certamente se apresenta como uma boa opção.

Gloomy Eyes está disponível para PS5, Xbox Series, Switch e PC com legendas em português de Portugal. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Untold Tales.

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