Análises

Gex Trilogy – Review

Vivemos uma era curiosa no que diz respeito à indústria do entretenimento. Por um lado, vemos diversos estúdios tentando deslanchar propriedades intelectuais novas, com variáveis níveis de sucesso, e, por outro, vemos como a nostalgia é capitalizada ao máximo com relançamentos de jogos de outrora de tal forma que a prática já se tornou parte de nosso cotidiano.

Nesse sentido, a Limited Run Games vem trazendo às plataformas atualmente disponíveis no mercado coletâneas de jogos de décadas atrás, através de um sistema de emulação que eles denominam como Carbon Engine. Ou seja, são apresentados exatamente como eram, mas com novos recursos como salvamento rápido, filtros, ou a possibilidade de retroceder o gameplay por alguns segundos para tentar uma nova abordagem imediatamente.

A mais recente adição a esse catálogo é Gex Trilogy, composta pelos três jogos da lagartixa tagarela da Crystal Dynamics, originalmente publicados para PlayStation 1 (e seus concorrentes) entre os anos de 1995 e 1999. Considerando-se essas datas, um certo contexto temporal talvez se faça necessário para o leitor.

Na década dos anos 1990, praticamente todas as desenvolvedoras de jogos eletrônicos possuíam seu próprio jogo de plataforma protagonizado por um personagem que viria a ser tratado como mascote do estúdio. Neste caso específico, Gex não foi o primeiro projeto da Crystal Dynamics, mas foi através do qual ele se tornou conhecido.

Gex Trilogy

O protagonista titular é um jovem calango viciado em televisão, e acaba sendo sugado para dentro da mídia por seu antagonista Rez. Uma das características mais marcantes de Gex são seus comentários satíricos incessantes, fazendo referências a filmes e séries de televisão, mas que acabam se repetindo com frequência no decorrer dos jogos. A relativa baixa qualidade das gravações combinada com a falta de legendas (mesmo em inglês) dificulta a nossa apreciação de forma geral, mas uma ou outra referência você certamente vai captar.

O primeiro jogo da série foi um dos poucos títulos a vender um milhão de cópias na fracassada plataforma 3DO, da Panasonic. Ele foi projetado como um jogo de plataforma 2D bastante similar aos jogos que já regiam esse segmento do mercado (leia-se Super Mario Bros. e Sonic The Hedgehog), onde você coleta objetos dourados dispersos pelos cenários para obter vidas extras, elimina oponentes com ataques corporais, e encontra itens que concedem habilidades extras temporariamente, como super velocidade ou poder lançar projéteis de fogo.

Em termos de jogabilidade, porém, o grande diferencial do calango, em comparação ao encanador baixinho e ao ouriço hiperativo, era sua capacidade de aderir em superfícies, não apenas as presentes do plano 2D jogável, como paredes e tetos, mas também no fundo da tela em áreas fechadas. Essa forma de navegação permite que o design de suas fases seja menos linear, com múltiplos caminhos, atribuindo ao jogador a tarefa de encontrar controles remotos para destravar o próximo nível enquanto procura a saída do atual.

Gex Trilogy

Apesar disso, é um jogo curto, que pode ser finalizado em cerca de três ou quatro horas. São cinco mundos distintos (e mais um extra, secreto, que exige performance perfeita nos níveis bônus secretos escondidos em cada um dos mundos anteriores). A versão original era um tanto quanto desafiadora, uma vez que os checkpoints são bem distantes e o design dos níveis pode ser bastante punitivo, mas os recursos de emulação citados no início dessa análise mitigam essa dificuldade artificial e ajudam a tornar essa experiência muito mais agradável de forma geral.

As continuações, Enter the Gecko e Deep Cover Gecko, chegaram ao mundo após a estreia de Super Mario 64, e novamente usam uma estrutura similar aos parâmetros novamente estabelecidos pela referência máxima no gênero: os cenários passaram a ser em 3D, e cada área lista seus respectivos controles remotos em missões separadas, que você deve escolher ao iniciar o nível para que o jogo determine a rota e inimigos que você vai encontrar. É necessário acumular controles remotos suficientes para sucessivamente abrir novas áreas e assim avançar na campanha.

Curiosamente, a principal perda nessa transição de 2D para 3D é a habilidade característica de aderir a superfícies, limitando isso a áreas específicas. Nessa trilogia da Limited Run Games, temos a possibilidade de usar os controles analógicos para uma experiência mais suave e agradável, mas ainda assim não é perfeita pois a tecnologia ainda estava sendo aperfeiçoada e o controle de câmera é rudimentar e bastante restrito (mantenha em mente que ela era originalmente controlada com toques nas teclas L1 e R1, ao passo que o protagonista era controlado apenas com o direcional digital).

Gex Trilogy

Enter the Gecko é mais longo que o jogo original, contando com sete mundos progressivamente destravados conforme você coleta controles remotos. E, seguindo essa mesma estrutura, Deep Cover Gecko traz onze mundos, cada vez mais expansivos e, por vezes, até mesmo cansativos de se explorar. Em ambos os casos, não é necessário obter todos os controles remotos disponíveis para poder finalizar o jogo, e ambos possuem uma série de níveis bônus secretos para os jogadores mais dedicados.

Deep Cover Gecko é um verdadeiro retrato de sua época. Na história, o antagonista Rez sequestrou sua aliada espiã Xtra e a mantém em cativeiro na dimensão televisiva. A garota, interpretada pela atriz Marliece Andrada (que, anos antes, havia participado de uma temporada da série SOS Malibu, além de ter posado para uma certa publicação adulta), surge nas animações entre os níveis em um questionável formato live action mesclado com computação gráfica.

Por se tratar de um simples port, não espere por uma repaginada no visual, mas o upscaling feito pelo emulador da Carbon Engine é aceitável — ao menos para jogadores mais velhos, que vivenciaram a geração PS1 —, e o suporte a widescreen nativo é muito bem-vindo. Apesar de contar com uma narrativa e cenas animadas, a coletânea não conta com legendas e tampouco com qualquer tipo de localização em nosso idioma, mas em se tratando de jogos de plataforma, é seguro afirmar que o seu foco está na jogabilidade acima de qualquer outra coisa. Não é fluído ou dinâmico como jogos modernos, mas talvez o charme esteja justamente nesse aspecto mais rústico.

Gex Trilogy

A coletânea vem munida conta com uma seleção bacana de extras digitais, que incluem entrevistas, galerias de artes e de vídeos (inclusive de um protótipo cancelado de outro jogo da série), manuais de instruções, e trilhas sonoras. As versões dos jogos presentes nessa coletânea são as de PS1, mas o estúdio documentou em vídeos de gameplay os níveis exclusivos existentes nas versões para Nintendo 64.

Gex Trilogy é uma excelente iniciativa para a preservação desses títulos, e jogos de plataforma possuem lugar garantido no mercado, mas nesse caso em específico parece apenas uma forma de agradar aos fãs nostálgicos ao invés de uma tentativa de reinserção da franquia no mercado. Gex surgiu como um cameo em Astro Bot recentemente, então, de certa forma, ele ainda está presente no imaginário dos jogadores, particularmente daqueles que tiveram contato com seus jogos em idos da infância ou adolescência, mas é difícil estimar se voltaremos a vê-lo em ação em novas aventuras.

Gex Trilogy está disponível para PlayStation 5, Xbox Series, Switch e PC via Steam. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Limited Run Games.

Veredito

Gex Trilogy resgata três jogos de moderado sucesso de gerações atrás como parte de iniciativa de preservação da Limited Run Games. A Carbon Engine adiciona alguns recursos que tornam a experiência mais agradável para os dias atuais, mas os jogos por si dificilmente atrairão a atenção de jogadores que não tenham um vínculo nostálgico com a franquia.

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