Análises

Fast & Furious: Arcade Edition – Review

Eu sou um absoluto apaixonado por jogos de corrida no melhor estilo arcade, cujo compromisso com a emulação dos sistemas de customização de componentes, física precisa de aceleração e frenagem, modelo de colisão realista,bem como outros preciosismos ficam em segundo plano, em detrimento à diversão descompromissada e uma certa dose de irresponsabilidade com o lado sério da coisa.

Isso não significa, claro, que jogos mais dedicados à simulação não sejam de meu interesse, e alguns dos meus jogos favoritos do gênero são realmente mais dedicados a buscar a aproximação com a versão real do nobre esporte a motor. Ainda assim, quando é para ser nonsense, não pode haver vergonha ou receio de apostar na insanidade como componente da experiência.

Fast & Furious: Arcade Edition, mais nova tentativa de entrada da aclamada franquia cinematográfica para os videogames, que carrega consigo a herança das origens nos arcades de verdade, é uma destas propostas bastante dedicadas a uma diversão sem quaisquer amarras ou limitações, que se dedica só (e somente só) à boa bagunça em tela cuja única motivação é oferecer uma disputa alucinante até a linha de chegada.

E para ser sincero, este é o primeiro jogo de corrida que me fez refletir, entre uma curva impossível e outra, o quão longe esse princípio pode ir, porque se houver algum limite, este jogo chega perto dele ou, possivelmente, o ultrapassa. A cinessérie que lhe empresta o nome (e não muito mais do que isso) é uma referência no quesito da verossimilhança sendo desafiada, mas nada comparado com o que temos aqui.

A proposta não poderia ser mais direta: no comando de uma das poderosas máquinas disponíveis, sendo sete delas no total, entramos na ação direta em uma das seis pistas disponíveis ao redor do mundo contra adversários controlados ela IA ou por um segundo jogador em modo local e, claro, precisamos chegar na frente para cumprir a pseudo-tarefa apresentada na tela de carregamento, como destruir um míssel ou chegar ao cofre roubado pelos bandidos.

Não espere, em qualquer aspecto ou dimensão, qualquer fio narrativo ou um arremedo qualquer de contexto, porque estas missões não significam absolutamente nada. Estes itens são só uma desculpa esfarrapada para trocar a linha de chegada por um elemento que, por ventura, já tenha aparecido em um ou outro dos filmes estrealdos pela família Toretto. Uma tentativa de âncora para justificar a marca.

Na prática, portanto, são seis corridas disputadas, em linha, no modo single player. E só. Não há qualquer outro modo, nem mesmo a de corridas separadas ou time attack, nem torneios juntando duas ou três delas, nada. E isso reflete o maior e mais lamentável problema de Fast & Furious: Arcade Edition: seu conteúdo bizarramente curto. O vídeo da primeira meia hora do jogo mostra tudo o que o jogo oferece, duas vezes.

Para ser justo, o que vem depois disso é basicamente poder correr nas mesmas pistas com os mesmos carros, do mesmíssimo modo, só que em uma dificuldade um pouco mais elevada. Isso porque vencer as seis competições em seu modo padrão libera a forma “furiosa” do veículo, que é basicamente o carro tem mais unidades de nitro e a IA ser um pouco mais agressiva.

Em resumo, toda a experiência solo do jogo se resume a ganhar as corridas disponíveis com o mesmo carro em uma run, para liberar uma versão um pouquinho mais desafiadora da mesma coisa. Depois disso, resta fazer tudo de novo, com outro dos carros. E assim sucessivamente até a platina com 19 troféus que basicamente premiam a repetição até não se aguentar mais.

O game tem o DNA óbvio dos arcades, cuja objetividade é o segredo para que o jogador possa ir direto ao ponto, sem passar por menus, narrativa, ajustes, nada disso. É ligar, escolher o carro e o circuito por onde começar, e só. O maior problema é que, considerando que é uma versão para consoles, isso não é suficiente sequer para se começar a gostar da coisa. Antes de respirarmos duas vezes, tudo o que Fast & Furious: Arcade Edition tem passa a 200 quilômetros por hora na nossa cara, em um espetáculo de luzes, cores e ultrapassagens insanas.

A jogabilidade, aliás, seguindo a linha do que fora citado no início do texto, é simples ao extremo. Há o botão de acelerar, e outro que seria o de freio que isso fosse necessário em algum momento, o que não é. Você vai esgotar o jogo até o fim e não vai encostar no L2, a não ser por curiosidade. Não há curva, não há traçado, não há nada nesse jogo que exija que tiremos o pé. Muro? Curva fechada? Obstáculo? Outros carros? É só acelerar e passar por cima sem dó nem piedade.

A única coisa que nos faz levantar o dedo do acelerador é acionar de drift, desajeitado que só ele, mas que serve exatamente como em um jogo barato de kart, ajudando a acumular uma energia a ser solta na reta seguinte. Só que se você esperar uma gradação precisa como em Mario Kart ou Sonic Racing, vai acabar se decepcionando. Tudo é muito mais bobo e descartável, e serve mais como um apelo estético do que uma ação estratégica para adquirir vantagem.

 

Se usado em retas, ultrapassagens ou outras peripécias, esta função (que é acionada ao se pressionar o acelerador duas vezes rápidas) ainda pode gerar um malabarismo, como giros aéreos em rampas e outros desníveis; ou no carro andar sobre duas rodas laterais ou traseiras, lembrando o famoso arranque da cena final do primeiro filme. Uma bobeirinha que vai arrancar um sorriso de canto de boca dos fãs mais emocionados.

No mais, há o nitro (são três cargas na configuração padrão e dez quando liberamos o modo agressivo), além de alguns power-ups espalhados pelo cenário tanto para ganhar velocidade quanto para atacar os inimigos com eletricidade, coisas que não poderiam ser mais cafonas (no bom sentido) e que oferecem ao menos um pouco de dinamismo e variedade durante as corridas.

Os traçados não oferecem desafio real, e mesmo aqueles classificados dentre os difíceis, sair da pista é praticamente impossível, salvo enroscar em alguma cerca ou quina, porque os limites não permitem sequer que erremos a tomada de curva ou salto; e as colisões são feitas para o nosso prazer sádico, porque elas são exatamente o contrário de jogos como Top Gear, por exemplo, pois aqui somos premiados por tocar o terror contra os adversários.

Isso porque o confronto é sempre algo a nosso favor. Jogar o carro no inimigo o leva até a parede como se fosse um carrinho de rolimã contra uma carreta. Não há peso, não há resistência, não há força contrária. Enfrentar os adversários é um passeio tão inconsequente quanto irrelevante, porque cada nova explosão é um retorno imediato. Seu inimigo pode literalmente explodir ao seu lado e em meio segundo já estar disputando a curva de novo.

O que compensa o modo simplório de se jogar é a dinamicidade do entorno, que sabe emular um filme de ação absurdo com explosões, confrontos, acidentes e uma série de eventos roteirizados que não oferecerem nenhum perigo para a corrida em si, mas que plasticamente trazem uma dose interessante de adrenalina. Lembrou, de longe (e guardadas as devidas proporções) os eventos catastróficos do saudoso MotorStorm: Apocalypse, só que sem o efeito prático, a gravidade e a qualidade deste clássico esquecido da geração PS3.

Ainda assim, não deixa de ser um aceno ao que se tornou a franquia Velozes e Furiosos desde sua estréia, décadas atrás, onde as corridas são só uma parte da loucura desvairada, cujas cenas de ação escalonam a cada nova entrada. Cada salto de centenas de metros traz aquela sensação alucinada, mas como é virtualmente impossível cair fora da pista ou errar as manobras aéreas porque o jogo simplesmente não deixa que cometamos erros, bastam algumas repetições para que o impacto de um evento cataclísmico seja quase nulo.

Esta balbúrdia em tela ganha algumas horinhas a mais de validade quando em tela dividida com aquele amigo que não tem mais que 15 minutos a oferecer. Ainda assim, o problema do conteúdo ridículo em quantidade vai nos encarar muito rapidamente, não importa estarmos sozinhos ou acompanhados. Não há como realmente se apegar a um jogo que não tem mais do que meia hora de oferta.

Os visuais extravagantes não vão muito além do que qualquer outro jogo similar da geração pode ofertar, e mesmo o ótimo free-to-play Asphalt Legends Unite de 2024, bem como o clássico eterno Burnout Paradise com seus 17 anos de idade, já o superam em muitos níveis. A jogabilidade, por sua vez, é quase uma caricatura dos mais descompromissados games arcade do mercado, enquanto a coreografia contra adversários e sua dificuldade medida não pela competência, mas por testar como lidamos com a confusão nas pistas, ajuda a manter a atenção, mas claramente não preza por valorizar a competência.

Porém, nada disso seria um defeito ou problema se houvesse aqui algo onde nos apegar. É até difícil gostar ou não de Fast & Furious: Arcade Edition quando não há tempo ou espaço para termos a afinidade suficiente para nos importar – ou não – com ele.

Este jogo seria uma ótima demo de algo realmente completo, mas tal como está, é só uma proposta. Leve, objetiva, divertida para quem compra a ideia, mas ainda assim, uma hipótese que jamais se desenvolve. Ironicamente, é um conteúdo que passa pelo jogador com a velocidade pregada pelo nome, mas infelizmente não é pelo jeito bom.

Fast & Furious: Arcade Edition está disponível para Switch, PlayStation 5 e Xbox Series X|S sem localização nas legendas ou menus para o português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela GameMill Entertainment.

Veredito

Como uma sombra desbotada dos bons jogos do gênero e da franquia cinematográfica que lhe dá um nome, Fast & Furious: Arcade Edition pode até valer duas ou três fichas nas máquinas empoeiradas de uma área de diversão no shopping center, mas seus conceitos rasos e o seu conteúdo parco são absolutamente insuficientes para uma proposta minimamente significativa para qualquer coisa além disso.

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