Após diversas versões, rebalanceamentos e campeonatos, o cenário competitivo de Street Fighter IV está chegando a um fim. Street Fighter V será o novo foco da Capcom Pro Tour e provavelmente o jogo que tomará o lugar de SFIV em diversos eventos. Durante a era SFIV, diversos jogadores profissionais se consagraram, especialmente os japoneses.
O Brasil também teve sua parcela de bons competidores, como ChuChu e Breno Fighters. Mas foi com Keoma M. Pacheco que pudemos testemunhar um brasileiro com potencial para derrubar qualquer um dos grandes nomes desse meio. Campeão do torneio da BGS 2015 e qualificado pela etapa brasileira da Capcom Pro Tour, Keoma teve sua vaga garantida para a Capcom Cup 2015 em São Francisco, nos Estados Unidos – que possivelmente foi o último torneio oficial da série Street Fighter IV.
Sua participação na Capcom Cup 2015 surpreendeu o público e seus competidores, ao conquistar uma posição no Top 8 com seu destemido Abel em meio aos 32 melhores jogadores do mundo de USFIV. O competidor brasileiro já venceu grandes nomes como Haitani (BGS 2015), Luffy (SGB 2015) e Gamerbee (CC 2015). Também participou de diversos torneios nacionais e internacionais, como a Dreamhack deste ano, figurando no Top 8 do evento.
Conversamos com o Keoma a fim de conhecer um pouco mais de seu trajeto como competidor, sua preparação para grandes campeonatos e planos para o futuro. Ele também nos conta sobre seu contato inicial com Street Fighter V e outras curiosidades. Confira!
PSXBrasil: Quando começou a se dedicar aos jogos de luta de forma mais comprometida? Foi com o Street Fighter IV ou com algum outro jogo de luta?
Keoma: Eu sempre fui meio "tryhard", sabe. Sempre me esforcei em tudo que joguei. Mas com foco competitivo, Street Fighter IV foi o primeiro.
PSXBrasil: Você trabalha/estuda ou se dedica integralmente aos jogos? O que muda na sua rotina em épocas que antecedem campeonatos? Há algum problema ao dividir o tempo entre trabalho/estudo, treino, família e lazer?
Keoma: Atualmente venho trabalhando junto com meu pai por meio período, então isso não me atrapalhou muito nos treinos. Foi razoavelmente fácil conciliar.
PSXBrasil: Como você pratica o USFIV? Acha que jogar online cria certos vícios no jogador ou é uma forma legítima de se aprender o jogo?
Keoma: O online tem um limite. Você pode aprender o jogo, mas apenas até certo ponto, já que tomadas de decisão que precisam de um certo tempo de resposta não podem ser executadas com facilidade (isso quando são possíveis). A parte de execução, punições, setplay (jogadas ensaiadas) é possível, mas para evoluir online é necessário ter uma mentalidade diferente de apenas jogar em cima do que parece funcionar para vencer.
PSXBrasil: Como foi a preparação para a Capcom Cup 2015? Treinou matchups específicas? Imaginamos que tenha treinado bastante para enfrentar o Gen do Xian, pois é um personagem complicado de se lidar.
Keoma: A preparação para a Capcom Cup foi um pouco turbulenta, admito. Graças à correria para resolver a burocracia do visto, não consegui me organizar corretamente para treinar da maneira que gostaria. Meu foco principal foi o Zangief do Snake Eyez e sequer cheguei a treinar o matchup contra Gen, mas pela natureza da partida contra Zangief, fortaleci bastante meu jogo no processo.
PSXBrasil: Algumas de suas jogadas deixaram vários espectadores boquiabertos, como o Ultra 1 que você acertou no backdash do Gamerbee. Curiosidade nossa – foi uma leitura (intencional) ou você arriscou por já conhecer o estilo do adversário?
Keoma: A jogada em questão, na verdade, é uma sequência de dois movimentos calculados – O primeiro sendo um Safe Jump (que é um pulo que acerta o oponente, mas que recupera a tempo de defender um reversal caso seja executado) e o segundo sendo um Option Select (Que é uma sequência de movimentos que varia de acordo com a reação do oponente). Naquele caso, o Ultra 1 como comando de cobertura para o OS só sairia caso o Gamerbee fizesse um backdash, então não chega a ter o fator de leitura ou risco se executado corretamente.
PSXBrasil: É comum entre os jogadores de Ultra Street Fighter IV ter uma "carta na manga", um personagem secundário para lidar com matchups complicadas. No entanto, você permanece fiel ao seu Abel. O próprio Snake Eyez adotou o Evil Ryu para substituir o Zangief em algumas ocasiões. Você possui alguma carta na manga também ou não vê necessidade?
Keoma: De fato, Abel tem matchups ruins o bastante para que um personagem secundário seja levado em consideração. Porém, recorrer a tais recursos na minha opinião seria apenas aceitar e ceder aos meus limites como especialista de personagem. Acredito que essa teimosia deu certo e me fez pensar com cada vez mais profundidade sobre o jogo em geral assim como meu próprio estilo.
PSXBrasil: Você já teve a oportunidade de jogar o Street Fighter V em eventos ou pelo Beta? O que achou do jogo? Já pensou em se dedicar a algum personagem?
Keoma: Até o momento eu não me interessei por muitos dos personagens do SFV, mas os que me chamaram atenção até agora foram Necalli, Nash, Laura e Karin. Com o terceiro beta, pretendo usar o máximo de tempo possível para determinar qual personagem funciona melhor com meu estilo de jogo.
PSXBrasil: Em 2016 teremos uma boa gama de novos jogos do gênero luta. Além do SFV, chegam ao mercado o novo King of Fighters XIV, Guilty Gear Xrd -Revelator-, além de atualizações para jogos de luta já existentes. Pretende se dedicar a outro jogo de luta?
Keoma: Recentemente comecei a jogar Guilty Gear Xrd e talvez tente algo quanto ao competitivo do jogo, mas ainda é incerto. Consegui jogar KOFXIV na PSX e gostei bastante do jogo. Seria interessante focar nele caso o ambiente online (algo extremamente necessário no Brasil) fosse bom o bastante para isso. Esta, inclusive, foi uma das razões de não ter tentado o XIII quando saiu.
PSXBrasil: Além de "Fighting Games", quais outros tipos de jogos você gosta? Aliás, quais são seus jogos preferidos?
Keoma: Meus jogos favoritos envolvem a série Megaman X, Castlevania, shooters como Ikaruga, DoDonPachi, Espgaluda, Blazing Star e Gradius, Jogos de música como Dance Dance Revolution, Pump It Up, Beatmania IIDX e Jubeat, FPS (Quake e Unreal Tournament) e JRPGs como Final Fantasy.
PSXBrasil: Sem dúvida alguma, em 2015 você se consolidou como a maior referência nacional em jogos de luta. Para os que estão começando se dedicar ao gênero, qual o seu conselho? Um Arcade Stick ou controle próprio (fighting pad) oferecem alguma vantagem na sua opinião?
Keoma: Para mim, que fiquei muito tempo em um fliperama, com certeza um Arcade Stick dá mais liberdade de movimentação, mas acredito que jogadores de pad não tenham desvantagens significativas quando comparados a jogadores de Stick. Como exemplo de grandes jogadores de pad temos o campeão da EVO 2014, Luffy, e jogadores extremamente fortes como Nuckledu e Snake Eyez.
PSXBrasil: Como você enxerga a situação atual dos jogadores profissionais brasileiros? É um cenário promissor ou ainda está engatinhando? Os outros jogadores da FGC brasileira contribuíram de alguma forma para o seu crescimento no jogo?
Keoma: Creio que o cenário competitivo nacional não está mais engatinhando, mas dando seus primeiros passos. Acredito que estamos à beira do começo de algo grande para os jogadores de Fighting Games no Brasil. Sim, eu não posso tirar a importância de todos que enfrentei e que me fizeram obter a motivação e força de vontade necessária para seguir evoluindo.
PSXBrasil: Sabemos que é difícil competir em pé de igualdade contra outros jogadores de fora, que possuem amplo suporte e patrocínio. Por meio do Kickante, muitos brasileiros contribuíram para financiar suas viagens à campeonatos estrangeiros, mas é algo que nem sempre é garantido. Mesmo sem suporte, pretende continuar se dedicando aos campeonatos de jogos de luta? Já possui planos para o próximo ano (EVO, campeonatos locais, etc.)?
Keoma: Sim, apesar da dificuldade (especialmente sem patrocínio), é bastante seguro dizer que estarei na EVO do ano que vem, mas ainda há muito trabalho a ser feito para apresentar nível competitivo internacional. Com SFV sendo um recomeço praticamente do zero, pode levar algum tempo para que eu tenha confiança suficiente no meu jogo para competir.
* Nota: A entrevista foi concedida no início da semana passada. Desde o último final de semana, Keoma é integrante do Team Innova – uma organização de e-sports de origem brasileira.