Entrevista: Kazuhiro Igarashi – Produtor de Brigandine: The Legend of Runersia

Brigandine: The Legend of Runersia

Quando o lançamento de um novo Brigandine foi anunciado no final de 2019 pela Happinet, mais conhecida pelo seu trabalho na produção e distribuição de animes do que por jogos, vários jogadores foram pegos de surpresa.

O primeiro título era um pequeno RPG de Estratégia desenvolvimento pelo pequeno estúdio Hearty Robin e lançado para o PS1 em 1998 que chegou ao ocidente pelas mãos da Atlus sob o nome de Brigandine: The Legend of Forsena.

Ao longo dos anos, o título foi recebendo um status de cult pelas interessantes novidades que o mesmo trazia para o gênero, como a possibilidade de recrutar monstros, o mapa dividido em hexágonos e os vários elementos de gerenciamento do seu próprio reino, como a possibilidade de relocar tropas para se preparar para a próxima campanha e recrutar o auxílio de nações aliadas em combate.

Brigandine The Legend of Runersia

Ainda assim, era difícil de se imaginar que tudo era fruto do longo e árduo trabalho de um homem que sonhava em poder criar um novo título para a série e que tinha ambiciosos planos para isso.

Pelo menos foi isso que descobrimos quando tivemos a oportunidade de conversar com Kazuhiro Igarashi, Produtor e Game Designer de Brigandine: The Legend of Runersia, título que chegará agora em dezembro ao PS4. Igarashi-san se juntou à Happinet no mesmo ano em que Brigandine foi lançado, mas, após anos trabalhando em seu departamento de animes, teve a oportunidade de liderar a equipe de desenvolvimento nesse revival da franquia.

Sem mais delongas, vamos lá saber um pouco mais sobre o que Igarashi-san teve a dizer sobre o promissor título de Estratégia que em breve estará em nossas mãos.

Brigandine The Legend of Runersia

PSX Brasil: Brigandine é uma série com suas raízes nos primeiros dias da plataforma PlayStation, fazendo sua estreia no console original há mais de 20 anos. Qual foi o processo por trás de trazer a série de volta? E o que a torna tão especial que você gostaria que uma nova geração de jogadores pudesse conhecê-la?

Kazuhiro Igarashi: O primeiro título, Brigandine: The Legend of Forsena foi lançado há 22 anos em 1998 pela Hearty Robin e E3 STAFF, uma subsidiária da Happinet. Esse foi o mesmo ano em que eu me juntei a Happinet. Eu torci para que um dia pudesse me juntar ao time de desenvolvimento, mas infelizmente a equipe da E3 STAFF foi desmontada antes do meu sonho se tornar realidade.

Desde então, eu tenho tentado trazer Brigandine: The Legend of Forsena para os consoles mais recentes, mas os planos sempre eram cancelados por uma razão ou outra.

Até que há cerca de 10 anos nós fomos capazes de reabrir o departamento de desenvolvimento de jogos e, uma vez que nós conseguimos alguma experiência como desenvolvedores, nós decidimos criar uma nova adição à franquia Brigandine.

Foi um caminho longo e difícil, mas você pode dizer que esses últimos 20 anos foram necessários para começar do zero. As últimas duas décadas não trouxeram muitas mudanças no gênero dos jogos de estratégia de conquista de nações. Ao contrário, ele se tornou mais de nicho, mas isso é uma das razões principais pelas quais eu senti que um novo título seria significativo. Existia uma coisa da qual eu tinha certeza.

Eu tinha certeza que a originalidade que Brigandine tinha tanto como um simulador de conquista de países de fantasia e como um jogo de estratégia hexagonal por turnos apelaria para várias pessoas até mesmo hoje.

Brigandine The Legend of Runersia

PSX Brasil: Você optou por fazer uma sequência para o jogo original ao invés de lançar um remake, ao que parece estar sendo bem comum hoje em dia. Quais desafios essa escolhe te trouxe, já que você tanto precisa aclimatar novos jogadores quanto apelar para aqueles que tenham jogado o primeiro, considerando o seu status como “cult”?

Igarashi: Do ponto de vista negocial e de desenvolvimento, um remake certamente teria sido uma opção mais segura. Mas a franquia Brigandine tem estado em hiato pelos últimos 20 anos.

Se nós fossemos reiniciá-la, nós queríamos que fosse uma experiência completamente nova para aqueles que estiveram esperando pacientemente por todo esse tempo. (Provavelmente é melhor pensar sobre expandir as coisas com remakes apenas depois de ter um calendário de lançamento sólido estabelecido para novos títulos.)

Também era Seguro assumir que a base de consumidores teria mudado drasticamente nas duas décadas desde que o último título foi lançado. Pela situação particular na qual essa franquia estava, também era importante apelar para os jogadores que nunca tiveram experiência com Brigandine ou um jogo de estratégia de conquista de nações.

Por essa razão, nós decidimos gerar interesse usando frases simples como “um jogo de conquista continental em um mundo de fantasia” e “um jogo de estratégia em turnos ambientado em um mundo de espada, magia e monstros!”

O resultado foi que a maior parte dos jogadores que compraram o jogo no Switch [nota do editor: Brigandine foi lançado para Switch em 25 de junho de 2020] são aqueles que nunca tiveram experiências com os títulos anteriores e estão se divertindo com a franquia pela primeira vez.

PSX Brasil: Um dos aspectos mais interessantes de Brigandine é a história, com os diferentes pontos de vista de cada nação e a intriga política que vem com isso, algo que o diferencia de histórias tradicionais de espada e magia. Qual foi a ideia por trás da história e dos personagens do jogo? Haviam elementos específicos do original que você queria trazer para The Legend of Runersia?

Igarashi: Esse jogo é recheado com um charme totalmente novo graças a ajuda de alguns criadores realmente fantásticos.

Roteirista: Kenji Terada (trabalhos anteriores: Final Fantasy, Final Fantasy II e Final Fantasy III). A sua escrita levou a uma construção de mundo fantasticamente profunda. Terada tem escrito histórias que são fáceis de se investir e que se adequam ao gênero. Os cenários são tanto emocionantes quanto cheios de humor.

À medida que você progride pelo jogo, o mundo é desenhado para envolver os jogadores mais fundo na história de Runersia, as naturezas escondidas dos personagens e temas que os ligam ao mundo real.

Nós esperamos que você possa experimentar o mundo de fantasia do jogo!

Essa história dramática envolve seis nações, seis chefes-de-estado e mais de 100 Rune Knights. Cada uma das seis nações tem suas próprias ideologias e história e cabe ao jogador escolher com qual delas ele irá querer lutar.

Quem exatamente é o personagem principal? Quais nações estão certas e quais estão erradas? Isso tudo cabe ao jogador. Não são só os chefes-de-estado; a personalidade real de cada cavaleiro também estará livre para interpretação.

Brigandine The Legend of Runersia

PSX Brasil: Dada a quantidade de nações distintas de presents no jogo, como vocês fizeram para tornar cada uma delas diferentes entre si? Alguma delas te chamou mais a atenção?

Igarashi: Em Runersia, existem cinco pedaços de armadura encravadas com Mana Stones especiais conhecidas como “Brigandines”.

Cada uma delas tem um nome secundário. A Brigandine of Justice, Glory, Freedom, Sanctity e Ego cada existe como um símbolo das ideologias das nações que as possuem. A falta de uma Brigandine na última nação é meio que um símbolo da ideologia dela também. Em outras palavras, a Guerra se passando em Runersia é uma guerra entre ideologias.

O jogo explora temas do mundo real como os conflitos que surgem a partir da nossa natureza humana fundamental, mas por se passar em um mundo de fantasia, eu espero que pessoas de todo o mundo possam aproveitá-la.

Nenhuma nação no jogo foi feita para ser mais importante que as outras. Qual nação se tornará o poder dominante? Quem será o protagonista do jogo? Essas são questões feitas para serem subjetivas, para serem respondidas por cada jogador.

Dependendo da situação, você pode até mesmo decidir que um dos cavaleiros é o personagem principal ao invés do monarca no comando. Os jogadores terão a habilidade de nomear monstros. Se um jogador quiser, ele pode nomear um dragão com seu próprio nome e usá-lo para proteger as unidades de cura de ataques inimigos. Tudo é possível.

PSX Brasil: Um elemento muito importante de Brigandine é, naturalmente, o seu gameplay. Uma vez que o gênero tem se tornado mais popular e mais desenvolvedores tem testado suas habilidades com jogos de estratégia, havia algo em específico que vocês queriam trazer de volta ou novos elementos que você sabia que poderiam ser implantados para que os jogadores tivessem uma experiência única com o jogo?

Igarashi: Um dos melhores feedbacks que nós recebemos dos jogadores foi sobre o quão viciante o jogo é. Muitos disseram que, uma vez que eles ficaram confortáveis com os sistemas do jogo e progrediram até certo ponto, fica difícil encontrar um lugar para parar de jogar. Nós vimos vários comentários na linha de “isso é horrível! Eu tenho que trabalhar amanhã!”

Jogos de estratégia evoluíram ao longo dos anos, tomando uma série de diferentes formas e estilos. Dentro deles, entretanto, Brigandine se mantém fiel à sua identidade de oferecer altos níveis de liberdade quando você faz suas escolhas. Por exemplo, o jogo tem um ritmo único dele, criado com o foco em batalhas e aumento de nível das unidades ao invés de questões internas. Também há a liberdade em como os jogadores irão lutar e subir de nível. Cada jogador pode encontrar seu próprio ritmo enquanto eles se movem entre as fases de organização e ataque. Como eu mencionei no começo, os jogadores podem ficar totalmente absorvidos por esses elementos do jogo.

Nosso objetivo é garantir que essa identidade se manifestasse nesse jogo também.

Brigandine The Legend of Runersia

PSX Brasil: A evolução de personagem é outro element que precisa ser considerado. Como vocês decidiram no caminho a ser seguido por cada classe? E como isso se aplica a evolução dos monstrous e Rune Knights?

Igarashi: Um dos elementos-chave para esse título é o grau de Liberdade e profundidade ao qual os jogadores são capazes de desenvolver suas unidades. Todos os personagens e unidades podem passar por uma vasta série de caminhos de evolução.

Para começar, existem mais de 100 diferentes cavaleiros, todos os quais podem se tornar mais poderosos a medida que ganham experiência no campo de batalha. E uma vez que certas condições são alcançadas, as mudanças de classe também se tornam possíveis, com mais de 60 para se escolher.

Existem 18 diferentes raças e mais de 50 classes diferentes de monstros. Monstros também são capazes de evoluir e mudar de classe uma vez que tenham adquirido experiência de batalha.

Além disso, existem mais de 500 tipos de equipamentos e itens que podem ser adquiridos em missões e eles todos podem ser usados para melhorar suas unidades. Entretanto, esses elementos representam apenas um pedaço das possiblidades do jogo.

Existe uma razão pela qual nós decidimos adicionar tantas classes e opções de evolução ao jogo: Para dar aos jogadores a habilidade de comandar seu exército da maneira que ele escolher.

– Você irá focar em desenvolver um cavaleiro que começa em nível alto? Ou você irá escolher um jovem soldado com grande potencial futuro?

– E que tal um cavaleiro com alto poder de combate, mas incapaz de comandar vários monstros? Ou talvez seja melhor um cavaleiro com baixo poder de combate que é capaz de comandar um número maior de monstros?

– Você pode ter até nove elementos de ataque e defesa, mas qual combinação você irá escolher?

– Para qual classe você irá adquirir experiência e quais magias e habilidades você irá levar contigo quando mudar?

– Quais vão ser as suas táticas comuns no campo de batalha? Realizar um ataque frontal? Organizar suas tropas para um ataque em pinça? Que tipo de monstros você irá usar para realizar as manobras?

Eu acredito que parte do apelo de Brigandine é que não existe uma forma certa ou errada de jogar, apenas diferentes estilos que os jogadores podem descobrir por si mesmos.

PSX Brasil: The Legend of Runersia será lançado para o PS4 logo após o lançamento do PlayStation 5. Naturalmente, com novo hardware saindo, as ferramentas e opções ao seu disport também vão mudar. Como você se sente sobre os novos consoles saindo esse mês? Você já tem ideias sobre como um novo Brigandine poderia ser na próxima geração?

Igarashi: Como um jogador, eu estou animado para o lançamento do PlayStation 5. E nós temos ótimas notícias! Apesar do título ter sido desenvolvido para o PS4, ele também pode ser jogado no PS5 através da retrocompatibilidade!

Eu adoraria desenvolver uma versão oficial para o PS5 em algum ponto, mas por agora nós ainda estamos discutindo possíveis atualizações futuras e ports para outras plataformas.

Brigandine The Legend of Runersia

PSX Brasil: O lançamento da versão de PS4 está sendo próximo, mas um pouco após o lançamento para Nintendo Switch. O fato do jogo já estar no Mercado e nas mãos dos jogadores permitiu que vocês fizessem alguma mudança ou ajustes para essa versão?

Igarashi: Absolutamente. Nós recebemos uma boa quantidade de feedback, o que nos ensinou muito. Nós estamos atualmente trabalhando em uma série de atualizações, desde grandes atualizações para o jogo até pequenas melhorias.

Faz menos de seis meses desde que a versão de Switch foi lançada e implementar essas mudanças apenas para a versão de PS4 não seria justo, especialmente para os jogadores que chegaram ao ponto de comprar um Switch apenas para jogar Brigandine.

É por isso que as atualizações atualmente em desenvolvimento estão planejadas para serem lançadas para a versão de Switch assim que a versão de PS4 for lançada.

PSX Brasil: E, só para podermos encerrar, tem algo que você gostaria de dizer para os jogadores que estão esperando ansiosamente para jogar Brigandine: The Legend of Runersia?

Igarashi: Eu estou orgulho em dizer que a nossa equipe passou inúmeras horas criando esse jogo para vocês aproveitarem. Nós também fazemos o nosso absoluto melhor para ler todas as mensagens enviadas para o suporte ao consumidor, em tweets e posts de discussão em fóruns de comunidade. Por favor acreditem que nós ouvimos e apreciamos todas as suas opiniões.

Eu vou fazer o melhor para alcançar as expectativas daqui pra frente.

Eu também gostaria de agradecer ao PSX Brasil por organizar essa entrevista e me dar a oportunidade de falar mais sobre o jogo. Como alguém que também escreve como profissão, eu posso dizer que o PSX Brasil é uma fantástica fonte de notícias assim que eu recebi as perguntas da entrevista. Eu espero poder produzir mais conteúdo com eles no futuro.

Muito obrigado por todo o seu suporte.