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Elden Ring Nightreign – Review

Ao longo dos últimos 15 anos, desde o lançamento do clássico Demon’s Souls para o PS3, a FromSoftware não apenas se consolidou como uma das maiores desenvolvedoras da indústria, como também deixou, de certa forma, seus fãs bastante mal acostumados. Afinal, mesmo persistindo em sua fórmula consagrada, a empresa japonesa procurou investir em novas ambientações e evoluir suas mecânicas de jogabilidade para entregar jogos cada vez melhores. Toda essa trajetória de excelência culminou com o lançamento de Elden Ring e, mais recentemente, da aclamada expansão Shadow of the Erdtree.

Apesar de todo o sucesso alcançado, ainda havia quem cobrasse que a desenvolvedora saísse de sua zona de conforto e se arriscasse mais. Elden Ring Nightreign, embora não represente uma ruptura drástica com a fórmula soulslike, possivelmente deva ser tratado dessa maneira. Mais do que isso, o jogo pode ser encarado como uma oportunidade para a FromSoftware começar a investir com mais frequência em projetos paralelos e ampliar seu repertório criativo.

A proposta de Nightreign é apresentar uma experiência cooperativa para três jogadores que se passa em uma versão paralela do mundo de Elden Ring, servindo como base para a introdução de mecânicas do gênero roguelike. O resultado é um jogo brutal de sobrevivência, marcado por uma constante sensação de urgência em uma corrida desenfreada contra o tempo, para fortalecer seu personagem antes da luta contra o chefe final do cenário.

Elden Ring Nightreign

A história, no geral, não pode ser vista como um grande destaque. Basicamente, há muito tempo, as Terras Intermédias foram acometidas por um guerra de enorme proporção. O resultado deste embate criou um fenômeno que ficou conhecido como a Fissura. Desta abertura surgiu um ser sombrio que trouxe consigo a Noite, uma força obscura capaz de gerar chuvas desoladoras e corromper os que ficassem em seu caminho.

Para enfrentar essa nova ameaça, a Mesa-redonda convocou os Notívagos, guerreiros sem qualquer vínculo entre si, mas unidos pela disposição de lutar para salvar o mundo do temido Lorde da Noite Primordial.

Embora a história de Nightreign seja relativamente superficial, o jogo acerta ao aprofundar a origem de seus personagens. Cada Notívago possui memórias que podem ser revisitadas conforme o jogador derrota os chefes principais de cada cenário. Essas narrativas são apresentadas por meio de textos, mas também ganham vida através de missões específicas, tanto na Mesa-redonda quanto no mapa da região de Limveld.

Elden Ring Nightreign

Como o foco principal está no gameplay, é melhor irmos direto ao ponto. As bases do combate de Elden Ring foram, em grande parte, preservadas. A principal mudança está na movimentação do personagem: agora ele corre muito mais rápido, pode tomar impulso em paredes e não sofre dano por quedas. Essas alterações são necessárias para equilibrar a nova limitação de tempo imposta pelo Cerco da Noite, que se fecha após um período como nos jogos battle royale. No entanto, também podem gerar momentos de frustração, especialmente devido a problemas de colisão ao tentar escalar superfícies ou pular sobre certos objetos.

Durante os combates, ainda é necessário gerenciar a barra de estamina, mas agora o jogador pode se mover com muito mais agilidade pelas arenas e reagir com mais rapidez aos ataques dos inimigos. A maioria desses oponentes já é familiar para quem passou dezenas de horas em Elden Ring — o que pode ser encarado como um ponto negativo. No entanto, muitos dos chefes que retornam tiveram suas movimentações ajustadas e trazem novos padrões de ataque, oferecendo bons desafios até mesmo para veteranos.

Elden Ring Nightreign

Outra grande novidade em Nightreign é a inclusão de classes fixas. Quem participou do teste de rede há alguns meses já teve um primeiro contato com o Guardião, o Selvagem, a Reclusa e a Duquesa. Todas elas foram mantidas praticamente sem alterações na versão final do jogo. Além delas, chega também o Corsário, um tanque que ganha força à medida que sofre dano e que pode fincar um enorme totem de pedra no solo. Já a Espectro é uma espécie de necromante capaz de trazer companheiros derrotados de volta à luta e invocar espíritos para ajudá-la em combate.

Mas, sem dúvidas, as melhores adições em termos de classes são o Olho-de-Ferro e o Executor. O Olho-de-Ferro representa a melhor abordagem já feita pela FromSoftware para uma classe de arco e flechas, enquanto o Executor conta com uma katana que pode defletir golpes inimigos, no mais puro estilo Sekiro: Shadows Die Twice.

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Cada classe possui estatísticas básicas e habilidades únicas, além de boa sinergia entre si. Subir de nível durante as corridas vai distribuir os pontos de atributo automaticamente de acordo com as características de cada personagem. Embora não haja muitas restrições além do nível necessário para equipar cada item, saber explorar sua classe e montar a equipe ideal para cada missão pode ser fundamental para garantir a vitória.

Além disso, o jogo traz uma espécie de progressão permanente: algumas relíquias são concedidas ao final de cada expedição e podem ser equipadas em recipientes, organizados de acordo com suas cores. Novos recipientes podem ser desbloqueados completando missões dos personagens ou adquiridos na loja do Jarro, localizada na Mesa-redonda.

Aqui surge um dos problemas que percebi durante minha experiência, pois muitos dos bônus oferecidos pelas relíquias dependem de circunstâncias específicas para serem aproveitados. No final das contas, é bem provável que você encontre as melhores relíquias para cada personagem e acabe nunca mais mexendo nisso.

Elden Ring Nightreign

Após escolherem seus Notívagos, os jogadores são transportados para o mapa onde iniciarão a missão de caçar o chefe final. Cada expedição se desenrola em um ciclo de três dias, com o tempo de conclusão estimado de 45 minutos. Embora o jogo conte com um único mapa geral, a disposição dos pontos-chave e o local onde os jogadores começam cada partida são gerados aleatoriamente.

Cada ponto de interesse possui características próprias. Eles podem ser igrejas, acampamentos, ruínas, cavernas ou até fortalezas. Saber identificar cada benefício adquirido desses locais leva tempo, mas, à medida que mais partidas forem jogadas, será possível reconhecer alguns padrões para que cada corrida seja mais eficiente.

Elden Ring Nightreing

Uma boa sacada são os eventos que ocorrem de forma aleatória no mapa. Às vezes um chefe ou uma horda de inimigos pode invadir de surpresa, exigindo uma adaptação rápida do grupo para superá-los. Essas incursões normalmente resultam em recompensas únicas, capazes de mudar sua sorte durante a corrida.

Outra mecânica interessante envolve alterações no mapa que geram áreas completamente novas. Essas transformações podem se manifestar como uma cratera de lava, uma montanha congelada, uma floresta corrompida pela podridão escarlate ou até mesmo uma cidade inteira. Cada um desses cenários oferece mecânicas, encontros e recompensas exclusivas, geralmente exigindo um dia inteiro dentro do ciclo para serem explorados de forma adequada.

Elden Ring Nightreign

Concluir a missão inicial e derrotar Gladius, a Fera da Noite, é apenas o primeiro passo para desbloquear novos chefes e avançar rumo ao final do jogo. Nightreign introduz oito chefes inéditos, cada um com características únicas e claramente pensados para o modo cooperativo como elemento central. Isso se reflete em confrontos contra inimigos que se movem com extrema velocidade pela arena final, atravessando grandes distâncias em segundos e executando alguns dos ataques em área mais devastadores já criados pela FromSoftware.

Já o caminho para as lutas finais podem incluir chefes dos mais variados, com destaque para inimigos clássicos que retornam da franquia Dark Souls. Confesso que reviver esses encontros é bastante nostálgico, mas fiquei decepcionado ao ver poucos desses inimigos durante as mais de 60 horas que passei com Nightreign. Espero que algumas atualizações possam trazer boas novidades para o jogo nesse sentido, pois ficou claro o grande potencial que essas memórias proporcionam, o que, até aqui, deixou uma sensação de ter sido desperdiçado.

Devido à aleatoriedade na definição desses encontros, é possível que, mesmo eu tendo passado muitas horas repetindo as expedições, ainda não me deparei com todos os chefes disponíveis. Por outro lado, algumas lutas parecem ter uma probabilidade maior de aparecer, o que acentua ainda mais a sensação de repetição.

Elden Ring Nightreign

A aleatoriedade também exerce um papel fundamental durante as corridas, algo típico do gênero roguelike, mas que, em Elden Ring Nightreign, pode se tornar um problema em determinadas situações. Assim como algumas relíquias oferecem bônus pouco relevantes, a geração de recompensas ao derrotar chefes ou concluir encontros pode resultar em itens e habilidades passivas que não se encaixam no estilo do seu personagem ou que oferecem vantagens praticamente insignificantes.

Um bom exemplo é um consumível de raridade lendária que funciona como uma espécie de segunda chance, mas que só é ativado quando toda a equipe é eliminada, muitas vezes não dando nenhum tipo de vantagem para que você consiga reviver seu companheiro ou finalizar a luta. Claro que esse tipo de situação é compreensível dado à falta de experiência da FromSoftware com esse tipo de jogo. Por isso, acredito que muitos ajustes serão implementados para equilibrar melhor o sistema de recompensas.

Já os bônus das armas encontradas funcionam de forma curiosa: a maioria de suas habilidades passivas pode ser ativada mesmo quando a arma está apenas guardada no inventário. Isso pode gerar certa confusão — e até situações engraçadas nas quais você se vê obrigado a carregar um item só por conta desse efeito passivo, mesmo sem qualquer intenção de usá-lo em combate.

Elden Ring Nightreign

Uma boa comunicação entre os jogadores pode fazer toda a diferença, especialmente na hora de definir a distribuição de itens que podem ser mais úteis para um companheiro de equipe. Embora o jogo conte com um sistema de marcação bastante intuitivo, a ausência de um canal de voz integrado evidencia que Nightreign funciona melhor quando jogado em grupo com amigos.

É claro que, com o tempo, a experiência adquirida facilita vencer partidas mesmo com times aleatórios. No entanto, ao longo das muitas sessões que joguei durante o período de análise, ficou óbvio como tudo flui muito melhor quando a equipe está bem organizada e se comunicando por voz. Isso pode representar uma barreira para muitos jogadores, resultando em uma experiência frustrante após diversas tentativas malsucedidas em sequência.

Elden Ring Nightreign

Para os que não quiserem depender do matchmaking ou não tiverem um time de amigos, ainda há a possibilidade de enfrentar todos os desafios no modo solo. Das tentativas que fiz nessa modalidade, observei que foi feito um bom ajuste na quantidade de vida e do dano causado pelos inimigos. No entanto, as mecânicas de alguns chefes que atacam em grupos se mostraram um desafio bastante alto.

No lado técnico, não encontrei muitos problemas que pudessem prejudicar minha experiência. Algumas oscilações na taxa de quadros no modo desempenho são perceptíveis, mas não chegam a atrapalhar o combate. Ainda notei alguns atrasos na renderização e pop in de objetos, principalmente ao avançar rapidamente pelo mapa. Já em termos de conexão, tudo fluiu muito bem durante todo o período de jogo, mas vale lembrar que o número de usuários no servidor era bastante limitado.

Por fim, como gosto sempre de enfatizar em minhas análises de jogos que possuem mecânicas roguelike, o fator replay é um critério essencial para minha avaliação. Elden Ring Nightreing exigiu cerca de 30 horas para que eu conseguisse entender todas suas funcionalidades, a melhor ordem para explorar os cenários e vencer os principais chefes. Acredito que esse seja um tempo bom para a campanha de um game do gênero.

Elden Ring Nightreign

Só que, ao longo dessa experiência, por mais que a jogabilidade ainda seja sustentada pela base do combate viciante de Elden Ring, e que ainda proporcione a satisfatória sensação de vitória tradicional dos games da FromSoftware, ele também pode se tornar repetitivo com certa rapidez. Após superar o chefe final pela primeira vez, não há mais muito o que se fazer além de enfrentar novamente os mesmos chefes, testar as outras classes e completar as memórias que tiver interesse.

Sendo assim, ainda posso dizer que o resultado final de Elden Ring Nightreign é de um título com bastante potencial, mas que necessita de algumas atualizações em seu sistema de recompensas, além de novidades que garantam uma rejogabilidade melhor a médio prazo. Caso a FromSoftware continue empenhada em adicionar conteúdo ao jogo, ele pode se tornar excelente no futuro.

Elden Ring Nightreign está disponível para PS5, PS4, Xbox Series, Xbox One e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Bandai Namco.

Veredito

Elden Ring Nightreign apresenta uma proposta interessante ao mesclar a fórmula soulslike com elementos roguelike, resultando em desafios intensos e uma experiência cooperativa envolvente, especialmente ao lado de amigos. Embora conte com mecânicas de combate sólidas e uma boa variedade de classes, o jogo também sofre com a repetitividade. Com atualizações futuras e os ajustes necessários, Nightreign tem potencial para se consolidar como uma excelente expansão dentro do universo da FromSoftware.

80

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