Analisar um jogo de esportes é sempre um desafio um pouco diferente daquele enfrentado ao se enfrentar um RPG ou um roguelite, por exemplo. Muito pela própria natureza de um título assim, pensar em como o estado do jogo está e o que ele oferece no lançamento é uma proposição complexa por si só quando, ao longo dos meses, o título vai se modificando pelo feedback da comunidade, profundidade do conhecimento com cada mecânica disponível e o simples fato de que, por serem jogos muito mais voltados para um cenário online, talvez alguém lendo o review uma mês depois do lançamento tenha um interesse distinto de quem comprou em pré-lançamento.
E há algo um pouco frustrante nisso. Considerando o quão rápido o tempo entre receber o jogo, tentar conhecer cada detalhe dele e postar um artigo sobre acaba sendo, é difícil saber se o conteúdo ali oferecido realmente será algo que irá nos prender por muito tempo ou se logo retornaremos ao tradicional looping de esquecer dos outros modos e retornar ao grind típico do FUT ou do Clubs. Demorar um pouco mais para falar sobre EA Sports FC 26, um dos títulos mais aguardados do ano,acabou sendo uma escolha muito deliberada até para entender o quão diferente o jogo se tornaria ao longo desse período.
E o impressionante é que, ao contrário do que poderia se esperar, o mesmo sentimento das primeiras impressões lá no alpha não só se mostraram bem reais ao ter a versão final do título em mãos, mas todas as outras novidades que chegaram com cada um dos modos principais de jogo só ajudaram a enriquecer a experiência. Afinal, se a ideia era tentar evitar ficar no marasmo de grindar por cartas progressivamente mais poderosas, a edição deste ano traz tanta coisa que se torna até fácil esquecer um pouco do FUT.
Embora grande parte das novidades deste ano estejam relacionadas ao gameplay, especialmente com a inclusão agora de duas variantes distintas, o Competitivo e o Autêntico, é importante falar primeiro sobre o que os modos de jogo trouxeram de novidade. Surpreendentemente, o FUT talvez seja o que menos traz novidades, com o grande retorno ficando por conta dos torneios, que traz para os jogadores novas formas de ganhar cartas raras, pacotes e dinheiro para gastar comprando mais pacotes ou cartas específicas no mercado.
No mais, você já deve imaginar bem o que encontrará aqui, incluindo toda a dinâmica (bem complicada) envolvendo os elementos pay-to-win, ainda que a EA tenha tentado limitar um pouco o impacto do dinheiro real no jogo, que o modo acaba tendo, principalmente no Rivals e Champions, e o quão difícil é o grind para jogadores que não estão dispostos a investir além do já (bastante alto) custo de entrada do título.
Clubs passaram por uma revisão bem interessante para deixá-lo mais próximo do estilo dos outros modos. Agora, ao invés de ficar preso à sua posição, cada jogador se encaixa dentro de um arquétipo que acaba determinando em quais posições você consegue jogar. É um sistema interessante que tenta recriar o sistema de Estilos de Jogo que domina os demais modos, mas sem travar tanto um modo que é, essencialmente, um grande conglomerado de jogadores tentando se coordenar num campo virtual.
O jogo até te permite trocar de arquétipo ao longo da sua jornada, ainda que com um custo em moedas, algo que é bem-vindo já que cada um deles possui atributos específicos que vão sendo melhorados à medida em que você sobe de nível usando AP. Felizmente a EA resistiu a tentação de incluir a compra de AP aqui, com as microtransações sendo basicamente só estéticas, então é um bom alívio para os jogadores mais dedicados.
Enquanto as melhoras para o Clubs e FUT foi relativamente limitada, o modo Carreira é onde grande parte da energia parece ter sido gasta nesse ciclo de desenvolvimento, especialmente relacionado à carreira de Técnico. A carreira de jogador em si é basicamente a mesma do ano passado, enquanto do ponto de vista do Manager houve um aumento considerável no grau de simulação do título, com as partidas e estatísticas simuladas muito mais realistas e incluindo outras ligas além da sua atual. Isso traz um ar maior de realismo e faz com que os times e ligas ao seu redor cresçam de forma mais orgânica.
Além disso, agora é possível ver outros técnicos perderem seu emprego, se juntarem a outros clubes e abrir espaço para que você possa ter uma carreira que vá pulando de uma liga para outra ou começar, por exemplo, com um time na segunda divisão francesa e ir pulando até alcançar a Premier League (ou La Liga, ou Serie A, como você preferir). Não é o grau de profundidade que você encontraria em um Football Manager, mas, considerando que aqui você tem mais controle sobre o que está acontecendo em campo, é uma troca justa e um grau de controle que faltava há muito tempo à série.
Falando em gameplay, bem, ele realmente entrega tudo aquilo de melhor que se esperaria e foi prometido. Embora ainda tenha algumas pequenas falhas, é surreal o quão mais agradável é de jogar em comparação aos últimos anos, com o modo Autêntico realmente entregando um grau de desafio que eu não esperava encontrar em um FC depois de tantos anos jogando.
O gameplay realmente parece bem mais realista, com a física entregando uma dinâmica de jogo mais próxima do que se veria em uma partida real, tanto na movimentação da bola quanto na interação entre os jogadores, o posicionamento deles na defesa é bem mais funcional, com a IA sendo um bom auxílio mas não a única solução pra tudo (como se tornou no FC 25) e animações mais reais ao invés de cortá-las para entregar o movimento mais rápido dentro do contexto do jogo. A defesa em especial merece elogios aqui. O sistema defensivo realmente parece ser implantado dessa vez, com a equipe defendendo como uma equipe ao invés de um monte de cego correndo atrás da bola. Goleiros também oferecem um impacto maior no jogo, com bons goleiros realmente sendo a solução de alguns dos seus problemas. O timing dos carrinhos e botes também ficou mais refinado, exigindo do jogador maior controle sobre o que está sendo feito pelo seu time.
Por outro lado, o Competitivo é uma boa evolução do que vinha acontecendo nos últimos títulos, refinando tudo para entregar exatamente aquilo que você imagina quando pensa em um título de futebol da EA: correria, agilidade, quase uma partida de pingue-pongue, com os jogadores correndo de uma ponta a outra com uma chuva de gols. Movimentação, defesa, passe, até a lógica dos goleiros passou por uma boa melhoria, mas ainda é um estilo de gameplay que vai do frustrante ao extremamente recompensador bem rápido. Não espere o grau de realismo do modo Autêntico mas, pela primeira vez, isso parece algo proposital e não uma má execução das ideias.
No geral, EA Sports FC 26 é um belíssimo pacote sendo entregue para os jogadores. A própria experiência ao redor do que está acontecendo em campo também recebeu uma bela melhoria, com menus, estádios, gritos de torcida e toda a experiência audiovisual além do gameplay sendo de uma riqueza que a série já vinha caminhando para entregar. Visualmente o jogo também traz modelos bem melhores e mais realistas, por mais que isso acabe sendo chover no molhado e um elogio visto com quase todo jogo de esporte ano após ano, com o ponto negativo ficando pelas cenas em quase todos os modos sendo basicamente idênticas às do ano passado.
Assim, se você é um fã do tradicional esporte bretão, EA Sports FC 26 é mais do que só um gol que garante os três pontos, mas parece muito mais um acerto daqueles que decidem uma boa final de torneio continental. É o tipo de jogo que, quanto mais se joga e mais se consegue se familiarizar com seus detalhes, é possível ver o cuidado dos detalhes e entender como eles vão evoluindo ao longo do tempo e entregam uma incomparável experiência esportiva.
EA Sports FC 26 está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, Switch, Switch 2 e PC com dublagem e legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela EA.