Mais difícil do que reiniciar uma franquia tão querida, seria dar sequência a um título tão bem recebido dentro de uma franquia que sempre foi lembrada com muito carinho e admiração por aqueles que tiveram contato com ela. Era justamente esse o desafio à frente da EA Orlando, o estúdio interno da EA Sports que assumiu o desenvolvimento do revival dos jogos de futebol americano universitário. E, se esse retorno já foi o suficiente para até mesmo reviver uma franquia adjacente, ele se sustentaria um ano após seu retorno, sem tanta boa vontade e tantos fãs prontos para passar pano?
O fato é que, como um bom aluno que sabe que vai precisar lidar com matérias ainda mais difíceis para seguir passando de semestre, EA Sports College Football 26 é um título que não se apoia nos louros das conquistas do ano anterior, mas se esforça bastante para entregar uma experiência ainda maior e mais completa. Ele traz uma grande quantidade de novidades em sua apresentação, necessárias revisões de gameplay e um pacote que, como um todo, agradará aos aficionados pelo esporte, mesmo tão longe da cultura que o originou.
Tal qual no título do ano passado, algo fica bem claro aqui desde o começo: a quantidade de amor posto no jogo para trazer a experiência mais autêntica possível para os gramados, incluindo ouvir o feedback da comunidade para entregar aquilo que os jogadores realmente querem. Isso vem na forma da inclusão da engine de física visto no Madden NFL, ajudando a remodelar o funcionamento do gameplay em alguns aspectos importantes.
É claro, todo o ajuste no gameplay tem um pacto relativamente limitado dado o quanto o ciclo de desenvolvimento mais curto do jogo, agora anualizado ao contrário do longo tempo antes da chegada do CFB25, limita o processo criativo. Ainda assim, é possível notar melhorias consideráveis para o funcionamento de sistemas importantes da franquia, como o Home Field Advantage, que impacta bastante o planejamento das jogadas e, principalmente, sua execução, tornando mais difícil jogar fora de casa.
Embora seja algo que é uma constante na vida real, ao longo do ano foi possível notar o quanto o jogo terrestre era desproporcionalmente impactante em CFB25. Não espere que isso mude aqui, já que o jogo trouxe uma série de novas animações para dribles de corpo e giros, aumentando ainda mais o seu arsenal para fugir de tackles dos adversários.Nessa mesma pegada, o jogo segue em sua missão de adicionar o maior número possível de elementos reais a ele, trazendo agora 300 técnicos da vida real para o título e, com eles, um arsenal de mais de 2.800 jogadas para dar ao jogador maiores possibilidades de customizar os seus sistemas ofensivos e defensivos.
O grande foco nos ajustes, no entanto, ficou por conta do jogo defensivo. Por um lado, o jogador agora tem mais opções para lidar com as tão variadas ameaças ofensivas vistas no jogo universitário, com o jogo trazendo substituições contextuais (incluindo a possibilidade de trocar jogadores no meio de uma jogada) e a customização das áreas de cobertura, caso o jogador perceba algum ajuste adversário e queira adaptar isso na hora.
Outra adição bem necessária é que o jogo nas trincheiras, especialmente ao se jogar com Defensive Tackles, recebeu algumas melhorias necessárias. Stunts agora podem ser realizadas em qualquer jogada ao invés de depender exclusivamente da chamada, Agora a linha ofensiva pode ser empurrada em uma direção específica com o Block Steering para colapsar o pocket ou bloquear a linha de visão, tirando aquela sensação de que ou você quebra o block e faz um hurry/sack ou falhou, trazendo muito mais profundidade para um dos aspectos do gameplay mais abandonados tanto aqui quanto no Madden.
Nem tudo são flores para o jogo defensivo, no entanto. Quem jogou o título do ano passado deve ter percebido que, como uma forma de representar o nível relativamente mais inconsistente dos quarterbacks no college, era muito mais fácil ser interceptado ao lançar um passe, muitas vezes sem o defensor sequer precisar rastrear a bola. Esse é um problema que parece ter sido minimizado esse ano, com os defensores precisando olhar para a bola para conseguir intercepta-la, fazendo com que quebras de passe sejam mais comuns (mesmo que a frequência em que caiam no colo de outros defensores ainda seja irritantemente alta).
Outro sistema que foi bem modificado foi o Wear and Tear 2.0 (que pode ser ativado ou não a depender da vontade do jogador). Agora, não só é possível ajustar o quanto um jogador sofre de dano ao longo de uma temporada, mas o impacto é muito maior, com alguns atributos chegando a sofrer reduções de -10 ou -15 a depender do dano. Isso força o jogador a manejar melhor o tempo de jogo dos seus titulares ao longo dos jogos, afinal, é fundamental que seus melhores jogadores cheguem o mais inteiro possível quando os Playoffs começarem.
O lado negativo das mudanças de gameplay fica um pouco por conta da nova engine. Por um lado, ela traz melhorias bem claras para o sistema de animações, com tudo sendo visualmente muito mais prático e fluido, trazendo um realismo que não estava presente no jogo anterior e muito melhor implantado do que o que vinha sendo visto no Madden.
O lado negativo é que, diferente do seu irmão de futebol americano profissional, CFB 26 deveria ser um jogo menos “simulador” e mais acelerado, fazendo com que esse apego ao realismo e às animações tirem a responsividade tão presente no título do ano passado e que capturava exatamente o que os jogadores imaginavam nesse aspecto (e com essa mudança também veio uma considerável dose de bugs que incomodam nesse período de lançamento). Por outro lado, também isso deixa mais claro a diferença de qualidade entre times no topo da pirâmide e os times no Group of Five, por exemplo, algo que acaba ajudando a enriquecer o modo Dynasty.
No tocante à apresentação em campo, o jogo traz um show à parte. Não só a já espetacular trilha sonora retorna, mas o jogo fez questão de trazer algumas das músicas mais icônicas do esporte para a entrada dos times em seus estádios específicos. E, se muito do college football é sobre show, poucas coisas capturam tanto a sensação que o esporte passa quanto jogar uma partida em Blacksburg e ver os Virginia Tech Hokies entrando no estádio ao som de Enter Sandman do Metallica.
Em relação aos modos de jogo, você já deve saber bem o que esperar. O College Ultimate Team retorna, agora com a inclusão do passe de temporada premium, mas sem grandes novidades relacionadas aos modos de jogo. Dynasty também segue basicamente intocado, só alguns pequenos ajustes no processo de identificação de jogadores, recrutamento e construção do seu time, com uma interface muito mais funcional. Além disso, seu técnico agora tem um level cap de 100, te permitindo ganhar ainda mais habilidades e focar em recompensas melhores em um arquétipo só.
Já o Road to Glory também retorna com a possibilidade de iniciar sua carreira no ensino médio, algo que tinha sido muito requisitado pelos fãs. Durante sua temporada por lá, você irá cumprir objetivos e ganhar pontos no processo de recrutamento e receber cada vez mais propostas de bolsa de estudos de diferentes times ao redor do país. Ao chegar na faculdade, você precisará equilibrar treinos, estudos e outras atividades extracurriculares para melhorar a cada semana e ganhar mais moral com o treinador para garantir seu espaço no time. É claro, há um limite da quantidade de ações que você pode fazer aqui (como também há no Dynasty), então cada escolha trará algum grau de sacrifício para a sua evolução, mas o jogador tem bastante liberdade para lidar com seu tempo como quiser.
No geral, a combinação desses dois modos em especial, Dynasty e Road to Glory, entregam um par dos dois melhores modos de jogo singleplayer entre todos os títulos de esporte disponíveis no mercado, entregando uma dezenas de horas entrei si e um grau de imersão raramente visto por aí. É justamente essa combinação, as muito bem-vindas adições ao gameplay e chamada de jogadas e a experiência ainda mais rica e imersiva nos gramados ao redor dos EUA que fazem desse título uma verdadeira aula de como entregar uma boa experiência esportiva nos consoles.
EA Sports College Football 26 está disponível para PS5, Xbox Series e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Electronic Arts.