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Dying Light: The Beast – Review

Em 2025, Dying Light está comemorando uma década desde seu lançamento. O título de estreia da franquia chegou ao mercado de forma relativamente discreta, mas com o tempo conquistou uma base sólida de fãs apaixonados por jogos de sobrevivência com zumbis. Já sua continuação, Dying Light 2: Stay Human, lançada em 2022, prometia expandir e refinar a fórmula do original. No entanto, acabou decepcionando parte do público por trazer mudanças que simplificaram excessivamente a jogabilidade.

Ciente das críticas e da recepção morna de Dying Light 2, a Techland tomou uma decisão: o que inicialmente seria apenas uma expansão para o game foi reimaginado para o formato standalone, desta vez focado no protagonista do primeiro jogo. A proposta era clara — resgatar a fórmula que consagrou a franquia e reconquistar os fãs de longa data. Assim nasceu Dying Light: The Beast, um título que não hesita em dar alguns passos para trás em termos de design, mas que também deixa pistas de que algo muito maior pode estar sendo preparado para o futuro da série.

The Beast coloca o jogador de volta no papel de Kyle Crane, cerca de treze anos após sua captura pela EGS. Levado a um laboratório secreto comandado por um homem conhecido apenas como “o Barão”, Crane é submetido a torturas e usado como cobaia em experimentos envolvendo variações do DNA do vírus zumbi. Após um acidente nas instalações, ele consegue escapar com a ajuda de uma voz misteriosa que se comunica via rádio. Consumido pelo desejo de vingança, ele precisa se fortalecer e forjar alianças com a comunidade local de Castor Woods para conseguir enfrentar o exército liderado por seu maior inimigo.

Dying Light: The Beast

A narrativa de The Beast adota um tom mais sombrio do que os títulos anteriores da franquia. A escolha do personagem principal é um grande acerto. Além de ser um protagonista bem melhor que Aiden Caldwell, Kyle Crane retorna não apenas como um sobrevivente, mas como um homem marcado física e psicologicamente pelas experiências traumáticas nas mãos da EGS e do Barão. Longe de ser o herói de Harran que conhecemos no primeiro Dying Light, Crane agora carrega um peso emocional mais denso, impulsionado por raiva, arrependimento e sede de vingança.

A profundidade nas mudanças comportamentais de Crane são muito bem representadas tanto na versão original em Inglês, com Roger Craig Smith assumindo o papel do protagonista, quanto na dublagem em português brasileiro. Por sinal, o trabalho feito na localização para nosso idioma é excelente, com as vozes dos principais personagens muito bem caracterizadas, ótimas adaptações dos diálogos em uma sincronia labial de qualidade.

Dying Light: The Beast

Já a região de Castor Woods se destaca por suas paisagens esverdeadas e vilas com ruas estreitas. Situada em algum ponto remoto dos Alpes europeus, a mudança para um cenário natural anteriormente turístico oferece diversas oportunidades para manobras de parkour, escaladas em encostas e exploração de casas abandonadas.

O mapa, com tamanho similar ao de Harran, pode não apresentar grande variedade de biomas, mas compensa isso com áreas bem definidas. Florestas densas, pântanos sombrios, uma vila infestada por zumbis e até um distrito industrial compõem os principais cenários da região, mantendo a exploração interessante, mesmo que a verticalidade não esteja no mesmo nível dos jogos anteriores.

À medida que o jogador explora a região, encontrará muitas atividades já familiares aos fãs da série, como o resgate de sobreviventes, captura de comboios, tomada de pontos de controle e, claro, as sempre tensas zonas escuras.

Dying Light: The Beast

Por mais que não haja grandes novidades em termos de design nessas atividades, as recompensas influenciam diretamente a progressão do jogador com recursos essenciais para a sobrevivência. Os prêmios vão desde peças de vestuário, que afetam não apenas o visual mas também atributos passivos, até planos de melhoria para receitas de criação e itens de alto valor para troca ou upgrade de equipamentos.

As missões secundárias em The Beast também oferecem novas ferramentas e equipamentos que podem fazer a diferença na sobrevivência do jogador. Além disso, essas missões apresentam boas histórias paralelas, introduzindo outros personagens da região que ajudam a ampliar e enriquecer o universo de Castor Woods.

Dying Light: The Beast

Explorar as atividades secundárias em busca de itens não só aumenta consideravelmente a longevidade do jogo, como também se torna essencial diante das mudanças significativas no comportamento dos inimigos. Além da introdução de novas variantes de zumbis, criaturas já tradicionais da franquia agora estão mais inteligentes e agressivas, exigindo maior atenção e estratégia do jogador.

Por outro lado, inimigos mais comuns, como os Mordedores, costumam agarrar o jogador com uma frequência acima da média do tolerável. Conforme o tempo de jogo foi aumentando, essa mecânica se mostrou ainda mais frustrante, a ponto de me fazer evitar muitos confrontos como normalmente não faria.

Dying Light: The Beast

Os inimigos humanos também passaram por uma evolução considerável, com uso frequente de armas de fogo aumentando o risco em confrontos abertos. Já os adversários corpo a corpo contam com novas manobras de evasão e padrões de ataque, tornando os combates mais imprevisíveis.

Mesmo jogando no modo Sobrevivente, que corresponde ao modo normal, muitas vezes me vi em situações nas quais precisei recuar para recuperar vida ou lidar com a escassez de recursos. Essas alterações na dificuldade são positivas, pois valorizam ainda mais a exploração e o planejamento cuidadoso. O jogador é incentivado a conhecer melhor o ambiente, buscar suprimentos e aproveitar ao máximo as ferramentas disponíveis, tornando a experiência mais imersiva.

Quando a noite cai, a tensão atinge um novo nível. A sensação de escuridão total é constante, comprometendo a visibilidade e intensificando o medo de ser detectado. Os Voláteis estão ainda mais implacáveis, agora com uma percepção ambiental aprimorada. Eles conseguem detectar sua presença tanto por sons mínimos quanto pela luz da lanterna, o que obriga o jogador a se mover com extrema cautela e repensar a abordagem das missões.

Dying Light: The Beast

Uma forma eficiente de facilitar a fuga e se locomover mais rapidamente pelos cenários de The Beast é através dos veículos. Apenas alguns deles podem ser guiados, e eles precisam ser abastecidos com combustível recolhido de outros carros espalhados pelo mapa. Mesmo não contando com melhorias como o Buggy de The Following, a sensação de condução pelas ruas apertadas da vila e pelas estradas de terra é muito boa, tanto com a câmera em primeira quanto em terceira pessoa. Além disso, atropelar uma fileira de zumbis ainda proporciona ótimas risadas, principalmente no modo cooperativo.

O combate está ainda mais visceral em Dying Light: The Beast. A sensação de distribuir pancadas e esfacelar os zumbis resulta em visuais dos mais impressionantes. Cada região acertada do inimigo causa diferentes efeitos de dilaceração. Seja explodindo cérebros, quebrando mandíbulas, espalhando tripas ou até desmembrando os infelizes, a sensação de liquidar os inimigos e ficar coberto com o sangue deles é brutal.

Dying Light: The Beast

O arsenal também recebeu novas adições de armas corpo a corpo, além de um maior destaque para armamentos de fogo. Disponíveis desde as primeiras horas da campanha, essas armas são especialmente eficazes em combates contra inimigos humanos. No entanto, é preciso usá-las com cautela, já que o barulho dos disparos atrai Corredores com mais facilidade.

Entre as novidades mais interessantes estão o lança-chamas e o lança-granadas, que aliás conta com diferentes tipos de munição. Seus planos de criação são desbloqueados por meio da árvore de habilidades de Crane e não são simples de fabricar. Ainda assim, uma vez em mãos, as vantagens oferecidas por essas armas justificam plenamente o esforço necessário para obtê-las.

Grande componente do combate e da própria narrativa, o modo Fera concede a Crane habilidades sobre-humanas, aumentando sua velocidade, força e agressividade por um período limitado. Essa transformação é especialmente útil para eliminar grupos de inimigos com facilidade e executar finalizações brutais em oponentes normais e especiais, com animações extremamente violentas.

Dying Light: The Beast

Conforme o jogador progride na campanha e desbloqueia mais pontos ligados à Fera, Crane passa a demonstrar maior controle sobre essa condição, permitindo que o estado seja ativado manualmente em momentos estratégicos. Algumas das habilidades do modo Fera incluem uma pancada potente no solo, o arremesso de objetos pesados e até um uso mais rápido do gancho.

Esses pontos são obtidos ao eliminar inimigos específicos que funcionam como boss fights. A maioria dessas lutas oferece um bom desafio, apesar da sensação de se estenderem além do necessário ao introduzir pequenos grupos de inimigos menores. Essas ondas, que teoricamente serviriam para facilitar o preenchimento da barra de Fera, acabam muitas vezes se tornando um obstáculo maior do que o próprio chefe.

Dying Light: The Beast

Além dos pontos ligados ao modo Fera, o jogador também recebe pontos de habilidade padrão ao subir de nível, seja ao concluir missões ou eliminar inimigos. Essas habilidades estão distribuídas em uma árvore que, embora funcional, é relativamente pequena. Os aprimoramentos cobrem aspectos clássicos da série, como parkour, combate e sobrevivência, mas de forma contida quando comparada aos outros jogos.

Outro pilar fundamental da série, o parkour foi ajustado para se aproximar da experiência vista no primeiro jogo. Embora as animações estejam mais polidas, o destaque está na sensação de impacto nas ações, que agora transmitem uma fisicalidade mais realista. Isso fica evidente ao correr, saltar ou realizar manobras em muros, corrimãos e até ao atravessar grupos de zumbis.

Dying Light: The Beast

O sistema de ragdoll também foi aprimorado significativamente. Os inimigos reagem de forma mais natural quando empurrados, atropelados ou pisoteados por Crane, o que também reforça a brutalidade do combate corpo a corpo. Esses detalhes contribuem bastante para a imersão e para o sentimento de que cada movimento tem consequência no mundo ao redor.

A escalada em The Beast apresenta uma sensação mais pesada. Apesar de não haver consumo de estamina durante as subidas, manter-se pendurado em bordas e identificar o próximo ponto de apoio exige mais precisão do jogador. O único porém dessa mudança é que a transição entre as sequências de parkour e escalada pode, por vezes, resultar em uma quebra de ritmo. Isso acontece principalmente durante movimentos involuntários em mudanças de direção nas sequências de ação.

Tecnicamente o jogo se comportou bem durante meus testes no PS5 Pro, ainda que não haja um modo dedicado à ele. Apesar de fazer sacrifícios visuais notáveis no modo desempenho para entregar uma performance consistente, inclusive permitindo desabilitar funções de iluminação e reflexos, o game se manteve estável mesmo em situações mais exigentes, como durante chuvas torrenciais e outras variações de clima dinâmico.

Dying Light: The Beast

De forma geral, Dying Light: The Beast cumpre com competência sua proposta de resgatar o espírito do primeiro jogo da série, apostando em uma abordagem mais contida, porém intensa. O retorno de Kyle Crane como protagonista, aliado a uma ambientação sólida e um combate mais brutal do que nunca, entrega uma experiência que certamente agradará aos fãs da franquia.

Ainda que em alguns momentos fique uma sensação de ser mais uma expansão do que um jogo completo, como na estrutura das missões e atividades ou na limitações na árvore de habilidades, o resultado final é um título que funciona como um passo importante para recolocar a série nos trilhos. The Beast não reinventa Dying Light, mas mostra que a Techland entendeu o que fez essa franquia se tornar tão especial.

Dying Light: The Beast está disponível para PS5, Xbox Series e PC com dublagens e legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 (no PS5 Pro) e foi realizada com um código fornecido pela Techland.

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