Dungeons & Dragons Neverwinter Nights 2: Enhanced Edition – Review

Não parece que foi a tanto tempo atrás que o lançamento de Diablo III nos consoles mostrou para uma geração inteira que o impossível de fato era possível: jogos comumente considerados como “de computador” podiam chegar nos consoles e serem tão divertidos quanto em sua plataforma original.

Desde então, vários desenvolvedores acabaram não só portando alguns dos títulos mais famosos do gênero, mas também desenvolver novos jogos tendo um controle em mente, removendo uma barreira que por muito tempo não deixava que possíveis novos fãs desfrutassem de excelentes RPGs.

Apesar de todo o seu legado, Neverwinter Nights 2 finalmente chegou aos consoles e agora precisa passar pelos mesmos desafios que muitos de seus contemporâneos (e prequela) precisaram superar.

Como é que se traduz um jogo de “mouse e teclado” para um controle?

O maior problema que esse gênero acaba precisando passar é justamente essa “tradução” de inputs, e isso fica ainda mais complicado quando se trata de um jogo antigo, onde a equipe original jamais pensou que um dia o jogo seria lançado para outras plataformas além do PC.

Apesar da Enhanced Edition começar bem, apresentando novos tipos de câmera (original ou em terceira pessoa) as primeiras impressões infelizmente se tornam enganosas.

Tudo que envolve desde o controle de câmera até o uso dos menus em Neverwinter Nights 2 é incrivelmente travado.

A câmera em terceira pessoa simplesmente não consegue se alinhar direito com a mira do jogador, que apesar de ter um sistema de lock-in, acaba sempre se confundindo com o que de fato você quer interagir no mundo.

Foram inúmeras vezes onde eu precisava ficar movendo meu personagem de um lado para o outro só para tentar falar com algum NPC que por algum motivo não era detectado por nenhum membro da minha party.

Falando em grupo, é simplesmente impossível fazer qualquer coisa com a party sem que algum membro fique preso numa cerca, bugue alguma cutscene ou simplesmente comece a lutar contra algum inimigo atrás da parede.

Piorando ainda mais a situação, por algum motivo que eu ainda não sei explicar, a câmera é forçada a entrar em modo terceira pessoa toda vez que o jogador entra em local fechado, como cavernas e outros calabouços.

O que acontece é que fica drasticamente mais difícil conseguir entender o que tá acontecendo e formar estratégias quando você acaba sendo forçado a ficar com a vista colada em algum personagem.

Inclusive é nesse modo que o jogo começa a sofrer quedas de FPS. Um jogo de 2006, tendo dificuldades rodando em um PS5.

O combate também foi outro pilar do jogo que infelizmente não sobreviveu a implementação ruim dos novos controles.

Por mais que esse gênero nunca tenha sido conhecido por ser necessariamente “fluido”, Neverwinter Nights sempre foi aclamado pela complexidade e a customização presentes no combate de D&D 3.5. Infelizmente, a nova adaptação também não foi das melhores.

A barra de ações onde ficam as habilidades é ridiculamente travada. É preciso passar por dezenas de passos até finalmente conseguir configurar uma habilidade, e isso fica ainda pior quando você lembra que precisa arrumar as magias de cada membro da party.

Você precisa primeiro apertar L2, abrir o menu principal, ir até o painel de habilidades, navegar por todo inventário e achar o feitiço correspondente, voltar para o campo, selecionar cima do D-pad, desbloquear a aba de ações, ir para um slot vazio e só aí confirmar o quer configurar.

Se você ficou sem ar só de ler todo esse tutorial imagina o cansaço que dá ter que refazer tudo isso toda vez que passar de nível ou aprender alguma coisa nova.

Todo tipo de interação nesse port parece que precisa passar por centenas de passos adicionais sem nenhum motivo aparente. Todo esse trabalho que eu descrevi era feito com o simples ato de arrastar um ícone no PC.

Como eu disse antes, adaptar um RPG desse tipo deve ser incrivelmente trabalhoso, e o simples fato de o jogo funcionar deve ser bem trabalhoso.

Acontece que também vivemos em uma época onde MMORPGs funcionam sem um terço dessa dificuldade toda, é bem evidente que dava para todo esse processo ser mais simples.

É uma pena que existam tantos problemas técnicos com essa versão já que o combate e história de Neverwinter Nights 2 são excelentes.

Não vou fingir que dá para explicar cada detalhe minucioso do combate de D&D 3.5, mas a melhor parte desse título é que você justamente não precisa ser nenhum tipo de bruxo para conseguir progredir no combate.

Claro que sendo um jogo antigo, você não vai ter tudo explicado de mão beijada logo de cara…. a experiência vai ser a extrema oposta nesse caso.

Mas existe um certo charme quando as coisas começam a clicar seus personagens vão ficando cada vez mais independentes.

Quando todos os checks de dado começam a acertar você começar a não só derrotar qualquer tipo de inimigo, mas também mudar o modo como a narrativa é construída, a ficha cai e dá para ver o nível do escopo que os títulos dessa época e gênero tinham mesmo em um cenário onde a tecnologia era mais limitada.

Tudo isso também é acompanhado de um grupo de personagens que, apesar de terem uma dublagem meio esquisita ali e aqui, são cheios de personalidade e carisma.

Tem o típico anão cervejeiro que adora uma briga, a maga arrogante, mas que lá no fundo tem um bom coração, o bardo que acaba servindo como uma espécie de alívio cômico.

São todos estereótipos bem comuns e claramente inspirados em trabalhos como Senhor do Anéis, e é justamente devido a essas inspirações que o jogo brilha não só nos seus personagens, mas também na sua história.

A jornada do herói começa de forma bem simples, depois de um dia de diversão no festival, a vila do protagonista é atacada por goblins que jogam fogo em tudo e todos com a desculpa de que eles precisam encontrar algo precioso.

Como de praxe, cabe ao protagonista lidar com todo o problema.

Mais tarde você acaba aprendendo que o pai do seu personagem tinha escondido o tesouro que os vilões procuravam e que seu dever agora é chegar a cidade de Neverwinter em busca de respostas.

Seja do momento que você sai da vila ou até depois dezenas de side quests mais tarde, a quantidade de personagens que se juntam ao seu bando de aventureiros cresce numa velocidade tão grande que fica difícil não querer saber qual nova história o jogo vai resolver te contar.

Seja o Kaelgar querendo se tornar um monge ou Qara sendo expulsa da academia de magia, Neverwinter faz um trabalho fenomenal em fazer com que todos os personagens de fato existiram com ou sem a presença do protagonista (mesmo que todos eles adorem te chamar de líder).

É por motivos como esse que Neverwinter Nights 2 fez tanto sucesso na época e acabou servindo como molde para muito RPGs que vieram depois como Mass Effect e Dragon Age.

Infelizmente, é por isso também que chega a ser triste não poder recomendar a Enhanced Edition de Neverwinter Nights 2.

Não vou dizer que a versão é injogavel ou algo do tipo, se o console é sua única ferramenta de jogatina então pode ir em frente já que o título é uma excelente pedida! Acontece que é difícil justificar pagar preço cheio em um remaster que além de rodar pior um jogo de 2006, te faz ter mais trabalho para executar tarefas que até então deveriam ser simples.

Apesar da fama de que cRPGs são difíceis para quem está chegando pela primeira vez, o maior desafio dessa versão é ter a paciência necessária com todos os problemas que vieram com ela.

Em um mundo onde Pathfinder, Baldurs Gate III, Pillars of Eternity e até mesmo Path of Exile (é um pouco diferente dos demais, mas o ponto ainda continua) conseguiram ser bem tratados quando chegaram nos consoles, é triste que a Aspyr mais uma vez acabaram deixando a bola cair quando o assunto é preservar um título que digno de tantos elogios.

Dungeons & Dragons Neverwinter Nights 2: Enhanced Edition está disponível para PS5, Xbox Series, Switch e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Aspyr Media.