Análises

Disney Illusion Island Starring Mickey and Friends – Review

Após ter sido lançado exclusivamente para Switch em 2023, Disney Illusion Island agora está disponível para PC e consoles, o que inclui o PS5 (mas não o PS4, infelizmente). Com o relançamento, o jogo ganhou um título mais longo e um tanto desengonçado: Disney Illusion Island Starring Mickey and Friends. Chamarei apenas de Illusion Island.

Trata-se de um metroidvania sem combate desenvolvido pela inglesa Dlala Studios, que talvez você conheça por ter feito o revival de Battletoads em 2020 (apenas para PC e Xbox).

O principal elemento de destaque em Illusion Island é o multijogador cooperativo de até quatro pessoas, algo muito raro no gênero (apenas os dois jogos de Guacamelee! e Curse of the Sea Rats oferecem essa possibilidade). Se você tem mais de uma pessoa com quem jogar plataforma 2D, isso já é motivo o bastante para entrar na brincadeira e se divertir em dupla, trio ou quarteto com Mickey, Minnie, Donald e Pateta.

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Como a gameplay é pacífica, sem ter que bater, o foco mesmo está na plataforma de travessia dos cenários, com mecânicas já conhecidas de metroidvania, como o pulo na parede e o dash no ar. É simples, mas feito com muito charme, pois, ainda que todos os personagens tenham as mesmas habilidades, o que os distingue é o visual de cada um.

Por exemplo, o dash de Mickey é provido por um jetpack, enquanto Minnie usa um grande avião de papel, Pateta cavalga uma pimenta gigante e Donald corre riscos com um foguete de artifício. A execução das animações é instantânea, sem interromper a fluidez do movimento, que, por sinal, é o outro bom destaque da aventura.

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Os quatro saem pulando por aí com muita agilidade e desenvoltura, dando uma sensação gostosa de jogar. Isso consegue compensar em parte uma certa monotonia que perpassa o design de níveis, que joga seguro e fica no lado básico da coisa – o que mais fazemos nas travessias é pular pelas paredes. Parece que cada objetivo marcado no mapa precisa ser bloqueado por uma porta que nos exigirá vasculhar a área em busca de três chaves, uma abordagem que se repete vezes suficientes para fazer parecer que só está ali para alongar a campanha.

Felizmente, há muitos segredos atrás de paredes escondidas (e bem sinalizadas) para fazer a exploração valer a pena. Os colecionáveis não são interessantes, mas nos fazem ficar atentos às nuances dos cenários e é sempre satisfatório descobrir e dizer para os companheiros de jogatina um “opa!, ali tem uma passagem secreta!”. Há ainda chefões para enfrentar, o que acontece por meio de “arenas” de plataforma, uma vez que o jogo não possui combate nem formas de atacar os inimigos, que servem apenas como perigos ambientais a serem evitados.

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A proposta como um todo tem apelo juvenil e provê acessibilidade condizente. Todas as vezes que carregamos a campanha podemos escolher a dificuldade de forma individualizada, pois o sistema consiste apenas em quantos pontos de vida cada um terá, variando de um a três. Temos ainda uma opção valiosa para quem vai jogar com crianças pequenas: invulnerabilidade. Esse recurso permitiu que minha filha de quatro anos e praticamente nenhuma experiência em videogames pudesse acompanhar a mim e aos irmãos.

Outras duas boas ideias do cooperativo são dignas de menção: pode jogar uma corda para a plataforma de baixo para que outra pessoa subir ali também e o abraço entre dois jogadores, que dá um coração bônus para cada um. O cooperativo, portanto, é muito bem implementado e só ficou faltando uma coisa: entrar e sair do jogo a qualquer momento. Para adicionar ou retirar alguém, é preciso sair da campanha, voltar até o menu principal e selecionar novamente a quantidade de jogadores, personagens e pontos de vida.

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Como disse acima, Illusion Island foi feito pelo mesmo estúdio de Battletoads e os dois jogos se assemelham em um ponto: o visual de desenho animado moderno, com linhas grossas e formas ao mesmo tempo simples e super estilizadas, que me lembram o repertório da Cartoon Network dos anos 2000. Eu não gosto dessa aparência, mas o rato de Walt Disney já vinha ganhando esses traços em séries animadas desde as séries animadas Mickey Mouse (2013) e O Mundo Maravilhoso de Mickey Mouse (2020). Tudo o que Illusion Island fez foi se manter na tendência da empresa.

Para complementar, as animações são criativas, fluidas e vigorosas nas distorções anatômicas, aumentando ainda mais a sensação de movimento ágil com o controle dos personagens nos passa. Esse aspecto certamente deixa o saldo visual dos personagens muito positivo.

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Por outro lado, Illusion Island ignora a vastidão do universo Disney ao levar seus quatro personagens icônicos a uma ilha de fantasia povoada por NPCs originais. Isso dá uma sensação de ambientação genérica no sentido de que o quarteto poderia ser substituído por outro grupo sem alterar a identidade do jogo – poderia ser “Rayman and Friends”, por exemplo, com a ressalva de que os cenários não têm a exuberância vista nas aventuras do personagem da Ubisoft.

A arte apenas segue uma lógica surrealista de desenho animado que pouco se conecta à identidade que o título carrega. Não é feia, mas suas cores planas e a falta de profundidade parecem aquém do refinamento esperado de uma obra que representa as mascotes de uma das maiores e mais ricas empresas multimídias do mundo – especialmente uma que começou como um estúdio de animação. Fica uma sensação de “lado B”, com menos investimento do que seria possível. Dublagem, por sinal, é algo que só vemos na cena de abertura, enquanto o resto dos muitos diálogos bem-humorados e engraçados da campanha ficam só no texto escrito (sem português brasileiro, a propósito).

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A falta de outros personagens famosos é uma intrigante subestimação do potencial de fanservice que o jogo carrega já no título. Não digo que queria que o elenco e os locais que atiram para todos os lados (como em Kingdom Hearts), mas até personagens recorrentes das séries infantis de Mickey da última década ficaram de fora, como Margarida, Clarabela, Bafo, Pluto, Tico, Teco e Professor Ludovico. Também não digo que todos deveriam ser jogáveis e ter o mesmo tratamento de roteiro e animação que os heróis, mas encaixariam melhor que certos NPCs.

Em vez disso, Illusion Island coloca entre seus colecionáveis dezenas de itens de animações protagonizadas por Mickey, dispostos como pequenos desenhos em uma galeria do menu de uma maneira que pouco compensa a limitação referencial.

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Essa falta é confirmada pelo fato de que a nova versão do jogo que chegou a mais plataformas trouxe uma novidade relevante: Tio Patinhas. É quase um reconhecimento do baixo número de “coisas Disney” do jogo.

A adição funciona como um jogo paralelo chamado C.A.S.H., um roguelite de escavação de tesouros para o pato muquirana. É um bônus válido e bem-vindo para o metroidvania disneyano, mas acaba funcionando como um jogo à parte que não se integra à campanha e só é desbloqueado no final dela, antes da última área. Penso que deveria estar disponível mais cedo para quem compra a nova versão e ser um extra costurado ao jogo principal para aprofundá-lo de alguma maneira.

Outro problema: nos cerca de dez minutos que joguei C.A.S.H., o jogo congelou duas vezes e precisei fechá-lo e abrir novamente, o que não aconteceu em nenhum outro momento da campanha.

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Talvez esta análise tenha soado mais negativa do que eu pretendia. Disney Illusion Island Starring Mickey and Friends está longe de ser um jogo ruim e, na verdade, gostei bastante de jogá-lo com meus filhos. As várias limitações de conceito, ambição e representação da marca, porém, enfatizam uma certa decepção em ver que havia potencial para fazer um jogo tão icônico quanto o rato de grandes orelhas que o protagoniza. É uma diversão agradável, mas não marcante.

Disney Illusion Island Starring Mickey & Friends está disponível para PS5, Xbox Series, Switch e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Disney Interactive Studios.

Veredito

O que Disney Illusion Island Starring Mickey and Friends tem de melhor a oferecer é, em primeiro lugar, o multijogador cooperativo para até quatro pessoas e, em segundo, a fluidez dos movimentos e das animações de personagens, dois fatores que compensam em parte a falta de combate e a simplicidade do design de níveis. No entanto, a produção pouco ambiciosa e o pouco uso de personagens Disney ainda deixam claro que este é um metroidvania que, mesmo que seja divertido de jogar em grupo e leve o nome de uma grande marca, não foi feito para ser marcante.

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