Desde que Stray foi lançado, parece ter se tornado cada vez mais comum vermos games protagonizados por gatos. Títulos como Cat Quest já existiam, mas até então nunca tinham passado pelo meu radar. É quase como se um novo subgênero tivesse sido criado, o dos “jogos de gatinho”, mas com cada obra trazendo propostas bem distintas. Copycat é mais um título a compor essa lista, e brilha justamente por oferecer uma experiência narrativa bastante diferente daquilo que estamos acostumados a ver.
Logo no início somos apresentados a Olive, uma senhora que chega a um abrigo de animais com o intuito de adotar uma nova gatinha depois do desaparecimento da sua antiga companheira. Temos a opção de escolher a aparência da nossa felina e, a partir daí, assumimos o controle de Dawn, dando início a sua jornada de autodescoberta.
Como se trata de uma experiência narrativa, optei por não me aprofundar nos detalhes da história, até porque é justamente aqui que Copycat brilha. Carregando cicatrizes profundas de experiências passadas, Dawn não confia nos seres humanos e seu maior desejo é ser livre. Essa desconfiança fica evidente já nas primeiras interações com Olive: as únicas opções disponíveis são arranhar ou morder a simpática senhorinha. Foi a partir deste momento que o game começou a mexer comigo, uma vez que não queria fazer essas escolhas e foi impossível não me sentir mal por isso.
Entretanto, rapidamente começamos a entender melhor o que se passa na cabeça da pequena Dawn. Pequenos balões de texto surgem ao longo da jogatina, revelando seus pensamentos e sentimentos. A cada canto que exploramos, podemos descobrir mais sobre seu passado e, ao mesmo tempo, perceber como o vínculo com Olive começa, aos poucos, a se formar. É uma relação que vai sendo construída de maneira sutil e quando percebemos, já estamos completamente envolvidos com a trama e suas personagens.
Os controles são bem simples: podemos correr, pular nas mais diversas superfícies, miar e derrubar objetos. Já no quesito gameplay, Copycat traz uma grande variedade. O game é estruturado por momentos de exploração em áreas delimitadas – e que, conforme já mencionado, são os que mais agregam para a experiência -, trechos com corredores infinitos e perseguições, sequências de stealth e muitos QTEs durante confrontos com outros animais.
Intercalando com todas essas mecânicas, temos também os sonhos de Dawn. Após assistir um documentário sobre a vida animal em sua nova casa, Dawn fica ainda mais determinada a fugir, imaginando-se como uma pantera, e isso é refletido nesses sonhos. É a partir daí que o jogo introduz um narrador inspirado nos documentários do Discovery Channel, com direito a trilha sonora que nos remete à savana africana. Esse narrador aparece em diversas situações, descrevendo algumas ações e pensamentos de Dawn como se ela fosse, de fato, uma predadora da selva. A escolha, além de criativa, funciona como um alívio bem-vindo em meio aos temas mais pesados, trazendo equilíbrio e leveza, mas sem tirar o objetivo da mensagem que o game pretende passar.
Trazendo um ponto de vista um pouco mais pessoal, Copycat foi um dos jogos que mais me emocionaram dentre tudo que já joguei. Apesar de alguns problemas, que irei comentar adiante, a maneira como o game trata temas como abandono, senso de pertencimento e confiança mexeu muito comigo. Por diversas vezes deixei que as lágrimas tomassem conta enquanto jogava e passei minhas quase 7 horas de gameplay torcendo por uma conclusão feliz para a jornada de Dawn.
Quando disse no começo deste texto que o grande ponto forte de Copycat estava na sua narrativa, não era exagero. Os desenvolvedores conseguiram abordar temas sensíveis que afetam o ser humano sob a ótica de um animal doméstico o que mostra que eles também podem se sentir da mesma maneira, mesmo que muitos pensem que não. É uma história tocante e que nos faz repensar não apenas como vivemos, mas também como tratamos nossos bichinhos.
Apesar do impacto emocional, Copycat apresentou problemas constantes de crash após algumas horas consecutivas de gameplay, o que quebrava um pouco da imersão. Contudo, observei que na última semana o game recebeu diversos patchs e acredito que este problema possa ter sido consertado. A gameplay apesar de versátil, é um tanto simples e, em alguns momentos a movimentação de Dawn parecia um tanto travada.
Dentre tantos “jogos de gatinho” que vêm sendo lançados nos últimos tempos, Copycat é, sem dúvida, uma pequena joia que merece ser descoberta. Acompanhar as aventuras de Dawn, entender seus traumas e medos e ver como ela aprende a superá-los é extremamente tocante e, ao mesmo tempo, motivador. Como uma grande apreciadora de games narrativos, ele entra na minha lista de recomendações e é um prato cheio para quem quer curtir uma boa história mesmo sem dispor de muito tempo. Copycat mostra, com muita delicadeza, que encontrar nosso lugar no mundo nem sempre é fácil, mas que com muita persistência acaba se tornando possível.
Copycat está disponível para PS5, Xbox Series e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Spoonful of Wonder.