Os chamados ‘jogos de serviço’ (games as a service, GaaS) são 8 ou 80: ou dão muito certo ou muito errado. Há casos em que ninguém esperava por seu sucesso (como Helldivers 2) enquanto que outros tinham tudo para dar certo e já sumiram do mapa (Marvel’s Avengers tinha um potencial imenso, por exemplo). Agora é a vez de Concord se arriscar nesse território.
O beta de Concord aconteceu no último fim de semana. Inicialmente, apenas usuários que tinham feito a pré-venda poderiam participar, mas a Sony liberou o beta para assinantes PS Plus também. Usuários de PC que desejam participar do beta e não querem fazer a pré-compra poderão jogar entre 18 e 21 de julho.
Para efeitos de comparação e clareza, Concord é basicamente um Overwatch. Ao iniciar o beta, temos uma pequena história (que não serve de absolutamente nada no beta, pois não há progressão dela – ao menos enquanto jogamos; caso tenha curiosidade, veja no vídeo do início desta análise). Já no menu, temos acesso às configurações básicas, como personalização de personagem (obviamente com todas as opções travadas) e jogar o game propriamente dito.
Em Concord, você joga com os chamados Freegunners (os personagens) em um gameplay de tiro em primeira pessoa. O beta permitiu jogar com todos os 16 que estarão disponíveis no lançamento. Existem muitos elementos que tornam cada personagem único, mas o que realmente diferencia um de outro são suas armas e habilidades.
Concord não é um jogo que você precisa se preocupar com munição. A arma do personagem varia dependendo de qual Freegunner escolheu – Astérion, por exemplo, possui uma bela de uma shotgun, enquanto que a asiática Haymar possui uma espécie de besta/estilingue que lança explosivos. Não é possível trocar de arma durante a partida, portanto você precisa escolher o personagem com base nisso.
Já as habilidades são acessadas pelo L1 e R1 e variam bastante. Haymar, por exemplo, lança um fogo que queima o chão causando dano de área, enquanto que Roka vai ao ar e se lança atingindo uma área. Há habilidades passivas também, como de cura.
Aliás, a cura é algo que pode ser feito por qualquer um na arena – há ícones que surgem e ressurgem que recuperam a sua vida (ao contrário da maioria dos FPS da atualidade, não é possível se curar “esperando”).
Escolhido o seu personagem (que precisa ser único em seu esquadrão; não é possível repetir na equipe), você parte para o combate com seu time – todas as partidas são 5×5.
O ponto-chave de Concord é uma boa sinergia em sua equipe – ter um tanque, um personagem que cura e outro ágil, por exemplo, abre o caminho para bons resultados. Além disso, todos os Freegunners possuem uma espécie de perk próprio que fortalece a equipe com uma espécie de bônus (melhora na velocidade de recarga, por exemplo). Dito isso, a comunicação é algo crucial, portanto Concord é uma experiência completamente diferente com amigos do que jogando com aleatórios. Não é que seja impossível, mas a coordenação é essencial.
No beta, Concord possui apenas dois modos liberados inicialmente. Na opção ‘Pancadaria’, que é basicamente uma playlist, estão estes dois modos: Eliminação e Caça ao Troféu. Ambos são deathmatch (elimine os adversários para pontuar), sendo que ao morrer você pode ressurgir (e até mudar de personagem) e é necessário atingir 30 pontos para vencer. A diferença entre os dois modos é que em um (Eliminação) basta eliminar o inimigo para pontuar, enquanto que no outro (Caça ao Troféu) é preciso coletar o item que ele deixa ao morrer – se o colega dele coletar, você não conseguirá pontuar.
São dois modos divertidos, mas admito que se tornaram monótonos rapidamente. Algo complicado também é ter que aprender o que cada personagem faz no meio do caos de uma partida. Faltou um “Training Mode” para poder ver isso com calma. De qualquer forma, você logo se adapta a algum Freegunner do seu estilo e o jogo flui melhor.
Já na outra playlist, chamada de Rivalidade, só conseguimos jogar o Extração de Carga – a princípio, o outro modo deve ficar liberado no próximo fim de semana. A diferença entre as playlists é que se você morrer na partida, não há ressurgimento (respawn). É necessário aguardar a rodada terminar. Além disso, se você vencer uma rodada com um Freegunner, ele é bloqueado. Ou seja, como são quatro rodadas para vencer, é preciso usar, no mínimo, quatro Freegunners diferentes.
Sinceramente? O modo Extracação de Carga é péssimo. O motivo disso é que a proposta básica dele não funciona com essas regras que Concord impõe. Como o nome revela, você precisa coletar um item e levar para um ponto de coleta (e esperar nele até que conclua a porcentagem). Porém, como não há ressurgimento, basicamente ninguém se preocupa com a coleta – basta matar a equipe inimiga inteira para vencer a rodada. Além disso, por ser obrigado a usar outro Freegunner ao vencer, você se vê forçado a jogar com outra classe que talvez não se identifique tanto.
Obviamente, é bastante claro que tentaram se inspirar em Counter-Strike para esse modo. E entendo o motivo de forçar a troca de classe. Mas, honestamente, ficou bem decepcionante como um todo. Afinal, Counter-Strike não tem classe de personagem e ainda por cima obrigando você a trocar de arma sempre que vencer.
O beta de Concord possui apenas isso de conteúdo. O jogo completo deve trazer mais modos (esperamos) e mais mapas, além da evolução da história principal (algo que provavelmente só deve ser cutscenes após jogar várias partidas multiplayer).
Os Freegunners são bem variados e divertidos. Mas há um sério problema de balanceamento que a Firewalk Studios terá que lidar sempre enquanto o jogo estiver vivo. Somente neste beta achamos os tanques muito bons por aguentarem bastante dano e poderem curar a vida facilmente. Além disso, a personagem que possui uma sniper (Vale) é bem complicada de ser usada nos mapas do beta, pois não há muitos pontos abertos (a maioria é composta por corredores fechados).
É claro, isso é a nossa opinião de um beta e de poucas horas de jogo. O “meta” deve evoluir ao longo do tempo e o que estou dizendo pode nem acabar sendo verdade. Mas são essas as nossas primeiras impressões.
Os modos do beta de Concord, sinceramente, não justificam a compra do jogo ainda. Como dito, dois são basicamente deathmatch simples, enquanto que o outro não nos agradou. Dessa forma, fica complicado ficar empolgado pelo título, mas veremos como será.
O motivo de “esperar para ver” é que o gameplay em si de Concord é sólido e os gráficos são muito bons. Assim, a base do game tem potencial, mas os modos do beta não ajudam a destacá-la.
Mas, no fim, fica aquela sensação de que todo mundo que jogou o beta sentiu: Concord tinha que ser gratuito com suporte a temporadas e itens cosméticos à venda. Posso estar enganado, mas pelo preço cobrado e com um beta com modos que não empolgam muito, não vejo um futuro promissor nessa tripulação da Estrela-do-Norte.
Concord será lançado em 23 de agosto para PS5 e PC.