Você já se perguntou como são criadas as trilhas de jogos? A música de videogame é uma das partes fundamentais da experiência do gamer. Ela traz imersão, empolgamento. Uma boa trilha sonora de videogame fica para sempre associada com o jogo, criando memórias inesquecíveis para os entusiastas do jogo.
Desde os primeiros jogos eletrônicos, as trilhas sonoras passaram por uma evolução notável. Dos simples sons sintetizados (como no Pac-Man), não levou muito tempo para alcançarmos composições orquestrais bastante complexas. Pense na forma como a trilha de “Red Dead Redemption”, por exemplo, traz o jogador para a vibe do Velho Oeste, e logo você vê a importância que as trilhas podem ter.
Mas como é o processo de criação dessas músicas? Vamos explorar as etapas e os profissionais envolvidos na produção da música de videogame.
1. Planejamento e direção criativa
Óbvio, antes da composição propriamente dita, é preciso definir a identidade sonora do jogo. Esse processo envolve:
- Estudo do enredo e ambientação: Para começar, o compositor analisa o universo do jogo — o tom, as emoções que deseja transmitir, os tipos de cenário presentes. Aqui, pode ser útil conversar com o criador do jogo para entender e compor música consoante com sua visão original. Estas discussões podem incluir até bastante negociação, como no caso do criador da série “Final Fantasy” que inicialmente rejeitou toda a obra do compositor, Nobuo Uematsu, eventualmente voltando atrás.
- Definição do estilo: Dependendo do gênero do jogo (terror, aventura, RPG, etc.), o estilo musical varia tremendamente. Com uns, temos trilhas minimalistas e atmosféricas, enquanto que para outros usam-se músicas sinfônicas complexas.
- Consulta com a equipe de desenvolvimento: Os compositores trabalham em conjunto com diretores de áudio e designers para garantir que a música se encaixe perfeitamente na experiência do jogo.
2. Composição musical
A seguir, vem a composição propriamente dita: a criação dos temas e melodias que acompanharão o jogador durante sua jornada. Vale aqui mencionar algumas técnicas comuns, entre as quais:
- Uso de leitmotifs. Leitmotifs (palavra que originalmente significa “motivo orientador”) são pequenos temas musicais associados a personagens ou situações específicas. Originalmente usados nas óperas do século dezenove, os leitmotifs continuam sendo usados em videogames — é o que acontece em jogos como “The Legend of Zelda” ou “Final Fantasy”.
- Camadas dinâmicas: Para aumentar a imersão, muitos jogos usam músicas que mudam dinamicamente de acordo com a ação na tela, intensificando-se ou mudando de ritmo de acordo com os movimentos do jogador.
- Loops musicais: Não dá para exagerar a importância dos loops, que são basicamente o trecho da música que se repete continuamente ao longo do jogo. Aqui, é importante evitar uma trilha repetitiva. Nenhum compositor que se preza quer que os jogadores acabem passando raiva e desligando o som toda vez que ficam entalados sem conseguir sair de uma fase mais difícil do jogo.
3. Produção e gravação
Como toda produção musical, a música de videogames pode ser feita inteiramente por meio de software ou envolver gravações ao vivo. Algumas abordagens incluem:
- Uso de sintetizadores e samples: Jogos indie e retrô frequentemente utilizam sons eletrônicos e chiptune para criar uma identidade sonora nostálgica.
- Orquestração ao vivo: Não raro, grandes produções como “The Elder Scrolls V: Skyrim” e “The Last of Us” optam por gravações com orquestras reais. A ideia aqui é gerar um maior impacto emocional e criar um senso de algo épico, descomunal.
- Trilhas interativas: Algumas trilhas são criadas com tecnologia middleware (como FMOD ou Wwise), o que permite ajustar automaticamente a música conforme o gameplay vai se desenrolando.
4. Implementação no jogo
Após a criação, a música precisa ser implementada no jogo de forma fluida, mantendo-se fiel à visão original do compositor. Aqui, é preciso:
- Programar a transição entre faixas: A música deve mudar conforme o ritmo do jogo — alternando entre, digamos, batalhas intensas ou momentos calmos de exploração.
- Testes de imersão: A seguir, a equipe de áudio realiza testes para garantir que a trilha complemente o gameplay sem ser repetitiva ou cansativa.
5. Direitos autorais e distribuição
Antes de concluirmos, vale tocar aqui em um aspecto crucial na produção da música de videogame: a questão dos direitos autorais. Toda música pode ser criada exclusivamente para um jogo ou licenciada a partir de bancos de música. Por exemplo, para o rádio que toca em “Grand Theft Auto: San Andreas”, foram licenciadas mais de 150 músicas clássicas, incluindo “Killing in the Name” (Rage Against the Machine) e “Barracuda” (Heart).
Para saber se uma música tem direitos autorais e como utilizá-la corretamente, confira este artigo detalhado: Como saber se uma música tem direitos autorais.
Conclusão
Como todo processo criativo, a composição de música de videogame é uma arte que exige planejamento, criatividade e técnica. Desde a concepção até a implementação no jogo, cada etapa é fundamental para tecer experiências memoráveis para os jogadores e criar uma obra de arte de que as gerações futuras se lembrarão.
Trilhas orquestrais, sons eletrônicos, ou seja qual for a próxima novidade, o fato é que a música continua a evoluir e a desempenhar um papel essencial na indústria dos games.