Captain Blood é um jogo que por muito pouco quase não viu o nascer do sol. Fui conhecer toda a história por trás de seu desenvolvimento conturbado apenas este ano graças ao seu lançamento. Ao assistir ao trailer fiquei imediatamente interessada graças à energia “God of War” que o título emanava. Mesmo que estejamos acompanhando um retorno dos jogos retros para os dias atuais com diversas franquias sendo revividas, ainda não tive o prazer de me deparar com algum game que resgatasse essa estética e imaginei que Captain Blood fosse o tesouro que há muito buscava.
A história gira em torno do pirata Peter Blood que após defender Port Royal de um ataque espanhol encontra um refém do bando, Lorde Langford. O nobre propõe um acordo que consiste no resgate de sua filha e, assim, Blood parte por diversos locais em busca da jovem donzela. A narrativa, apesar de simples e sem grandes surpresas, funciona bem dentro da proposta do jogo.
Dividido em fases, Captain Blood tem uma gameplay digna dos hack ’n slash da época de ouro do PS2. Infelizmente é impossível fugir das comparações já que ele segue a mesma fórmula: golpes fraco e fortes, finalizações e os famosos QTEs. Ainda é possível fazer uso da pistola como arma de longo alcance ou de granadas, mas ambas de forma bastante limitada.
O jogo também conta com uma lojinha onde é possível comprar novos combos e finalizações. Além de upgrades de vida, barra de fúria e melhorias temporárias. Entretanto, apesar de tentar trazer variedade, chegará um momento em que a melhor opção será sempre executar o mesmo combo devido ao quão frustrante é o combate. Em diversos momentos tive a sensação de que os inimigos não paravam de aparecer, alguns são mais resistentes sendo necessário drenar a vida deles para só depois executar uma finalização. Estas por um lado são interessantes e num primeiro momento divertidas de assistir, mas logo enjoam.
Espalhados pelas fases estão baús que contém moedas para a compra das tais melhorias citadas acima. Isto é tudo o que podemos esperar da exploração do game, algo que se torna repetitivo e cansativo. Para tentar dosar esse excesso, temos algumas fases focadas em batalhas navais. Elas se passam no convés do nosso navio e consistem em utilizar os diversos canhões espalhados por ele para afundar as embarcações inimigas. Nesse meio tempo, os adversários também conseguem invadir nosso navio resultando em um mix de lutas e uso dos canhões para afundá-los, algo bem clássico em qualquer boa adaptação pirata.
A ideia parece divertida, mas na prática entrega algumas das sequências mais frustrantes do jogo. Claro que os jogos atuais nos deixam “mal acostumados”, mas a maneira como tal mecânica é executada seria criticada até mesmo na época em que o jogo deveria ter sido lançado. Posicionar os canhões é falho e muitas vezes você irá errar o tiro tendo que esperar um tempo para que o canhão seja recarregado. Em outros momentos a embarcação inimiga irá sair da sua visão de ataque e você terá que correr para outro canhão podendo, nesse meio tempo, ser atacado pelos piratas que invadiram seu navio ou ser pego numa chuva de bombas que dificilmente deixa brechas para escapar do dano sofrido.
É desgastante e durante minha gameplay acabei enfrentado um sério bug que me obrigou a ter que refazer toda sequência naval. Após afundar todos os navios rivais, o jogo não desencadeou os próximos eventos e minha tripulação continuava agindo como se ainda houvessem inimigos a bordo.
Captain Blood também sofre com um sério problema de mixagem. Durante as fases os efeitos sonoros são muito altos enquanto que a música acaba se tornando praticamente inexistente. Mesmo fazendo ajustes nas configurações de áudio do game o problema seguiu persistindo. Ainda que conte com legendas em português, as mesmas enfrentam problemas de sincronia, hora sendo exibidas muito cedo, hora aparecendo apenas após os diálogos. Tais pontos causam um certo incômodo e contribuem para a perda da imersão.
Mesmo com todos esses problemas, é notável que o game tenta entregar o seu melhor. É até um tanto díficil não ser tomado por um leve sentimento de nostalgia nos primeiros minutos de Captain Blood. Infelizmente, essa sensação dura pouco dando espaço para o tédio devido ao seu excesso de repetitividade e todos os outros problemas apontados nesse texto. Realmente gostaria de poder recomendar o título para quem sente falta dos games de uma época em que ficávamos impactados ao ver um guerreiro espartano lutando contra uma estátua, mas Captain Blood é apenas uma mera sombra do que poderia de fato ter sido.
Captain Blood está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, Switch e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela SNEG.