Reviver um clássico, um termo que tem se tornado cada vez mais frequente na indústria do vídeo games conforme mais jogos no modelo remaster e remake são lançados. Para muitos, esse tipo de prática é desnecessária. Já para outros, é um modelo que pode ser atraente, desde que o jogo em questão possua o apelo para alcançar novos públicos ou para reconquistar fãs dispostos a revisitá-los.
Brothers: A Tale of Two Sons foi um título marcante da geração do PlayStation 3 principalmente por dois motivos. O primeiro deles era sua narrativa emocionante, uma história curta, mas cheia de momentos comoventes e com uma conclusão capaz de impactar até aos jogadores mais passivos. O segundo motivo tem a ver com jogabilidade, e a maneira com que ela funcionava ao combinar elementos de jogos cooperativos para apresentar formas únicas de solucionar quebra-cabeças utilizando dois personagens, controlados ao mesmo tempo por apenas um jogador.
Brothers: A Tale of Two Sons se tornou ainda mais importante por ser o primeiro jogo escrito e dirigido por Josef Fares, um título que, mais tarde, serviu de base para o desenvolvimento de A Way Out, assim como também do vencedor do prêmio de jogo do ano de 2021, e uma das melhores experiências cooperativas de todos os tempos, It Takes Two.
Tudo isso serve para confirmar o porquê de Brothers: A Tale of Two Sons ser considerado por muitos um clássico, e para tentar justificar o desenvolvimento de seu Remake até como uma forma de celebrar os 10 anos do lançamento do jogo original.
Em Brothers: A Tale of Two Sons Remake, a desenvolvedora italiana Avantgarden optou por preservar a história original. Ela conta a jornada de dois irmãos, Naia e Naiee, em busca por uma árvore mágica capaz de possuir a água da vida necessária para salvar seu pai de uma doença grave. A história de Brothers: A Tale of Two Sons Remake lida com temas importantes como a amizade, fraternidade e superação, mas também possui passagens obscuras, nas quais até mesmo nossos sentimentos mais profundos são colocados à prova.
Essa jornada começa na vila onde vivem os personagens, e passa por diversos cenários de um mundo de fantasias repleto de criaturas fantásticas e também de ameaças. Ao longo da campanha faremos amizades com Trolls, escaparemos de monstros e fantasmas, ajudaremos a fauna local e viajaremos por um campo de batalha de gigantes. Tudo isso em ambientes reconstruídos com uso do motor da Unreal 5, algo que colaborou para recriar a atmosfera do jogo com uma apresentação muito bonita, na qual há um destaque especial para os efeitos de iluminação e reflexos tanto nas áreas escuras como nos locais onde há presença de luz natural.
Aliado a isso, toda a parte sonora de Brothers: A Tale of Two Sons também foi refeita. A trilha sonora composta por elementos clássicos de temas de fantasia e da cultura escandinava foi toda rearranjada com base na partitura original do músico sueco Gustaf Grefberg, e regravada por uma orquestra ao vivo. Os efeitos sonoros também foram regravados e estão ainda mais realistas, contribuindo para criar um ambiente totalmente imersivo.
No entanto, infelizmente, o jogo não está livre de problemas técnicos. Há uma presença excessiva de elementos distorcidos e, mesmo no modo qualidade, é possível perceber objetos com baixa resolução em determinados momentos. Além disso, no modo qualidade, também há oscilações na taxa de quadros por segundo especialmente durante os primeiros capítulos do jogo. O modo desempenho estabiliza melhor essa taxa de quadros por segundo, mas não sem sacrificar mais um pouco da qualidade gráfica.
Contudo, a falha técnica que mais me incomodou, e que vai no rumo oposto ao excelente trabalho de melhoria sonora que foi realizado em Brothers: A Tale of Two Sons Remake, é que por diversos momentos o áudio parou de funcionar. Essa falha ocorreu frequentemente após o jogo salvar automaticamente ou na transição de uma cena para uma parte jogável. Por muitas vezes, apenas os efeitos sonoros sumiram com a trilha sonora permanecendo, mas também houve oportunidades em que todo áudio simplesmente desapareceu. Esse bug é, de certa forma, solucionado ao recarregar o último ponto de salvamento. Mas, como esses pontos nem sempre estão próximos, ainda tive que concluir alguns segmentos com o áudio parcialmente ausente ou sem som qualquer.
Do ponto de vista da jogabilidade, foram feitos alguns ajustes para deixá-la mais responsiva, mas os conceitos básicos foram bem preservados. Aqui, controlamos cada um dos irmãos com os analógicos do DualSense. Para realizar ações com o irmão mais velho, utilizamos o analógico e o gatilho esquerdos, ao passo que o analógico e o gatilho direitos servem para comandar as ações do irmão mais novo. Cada irmão possui suas ações próprias, cabendo ao jogador avaliar a melhor forma de utilizá-los na solução dos quebra-cabeças. O L1 e R1 servem para posicionar a câmera, mas não a impedem de causar problemas e confundir o jogador em algumas situações.
Naia, o irmão mais velho, é responsável pelas ações que exigem mais força e altura para conseguir mover e alcançar os objetos. Já o irmão mais novo, Naiee, possui mais agilidade e é capaz de acessar os locais mais apertados. Essas características dos irmãos também servem para interagir de maneira única com elementos do cenário e com os personagens que encontraremos ao longo do jogo. Muitas dessas interações são apenas atividades extras, mas podem render bons momentos e servem para desenvolver ainda mais a relação do jogador com o mundo de Brothers: A Tale of Two Sons Remake.
O trabalho em dupla é fundamental para vencer os obstáculos, e é exatamente nesse ponto que a jogabilidade brilha. Mas, também, é onde ela pode se tornar um pouco confusa. Não que o jogo seja dos mais complexos, mas a forma com que controlamos os irmãos demanda um pouco de tempo de adaptação. Os puzzles são simples, porém se tornam bem mais intrigantes pela criatividade empregada ao solucioná-los. Lógico que o impacto da jogabilidade hoje é um pouco menor do que na época do lançamento do original, em especial para os que jogaram It Takes Two. Mas Brothers: A Tale of Two Sons Remake ainda é um jogo capaz de nos cativar, principalmente pela excelente ambientação e pelo carisma de seus protagonistas.
Uma novidade do Remake é a inclusão de um modo cooperativo local, no qual cada jogador assume o papel de um dos irmãos. Particularmente, acho essa função uma boa adição ao jogo, mesmo que prejudique um pouco a experiência da gameplay. Por mais que Brothers: A Tale of Two Sons Remake ainda funcione melhor como um jogo solo, ter a possibilidade de compartilhar sua história com um amigo ou membro da família também é bastante satisfatório.
Brothers: A Tale of Two Sons Remake é um jogo atemporal, com uma história digna de ser recontada por diversas gerações. Relembrá-lo talvez não seja tão marcante como foi em seu original, mas, para quem ainda não o jogou, é uma ótima oportunidade para vivenciar essa experiência inesquecível. No entanto, com os atuais problemas técnicos, talvez seja melhor esperar as devidas correções para adquirir o jogo com todo seu potencial.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela 505 Games