Sempre que são anunciados, os novos jogos da série Assassin’s Creed conseguem gerar bastante atenção, em especial quando tudo o que se tem acesso são as informações cuidadosamente preparadas pelo marketing da empresa. Naturalmente, com o recém-anunciado Assassin’s Creed Valhalla, isso não poderia ser diferente.
O próximo jogo da série, no entanto, parece estar se dedicando a pegar todas as inovações trazidas com os dois jogos mais recentes da franquia e o seu esforço em torná-la um RPG, e misturando com o que de melhor os jogos anteriores a essa transição tinham, em um claro esforço de agradar aos fãs que possam ter se sentido alienados pelas mudanças.
Muito disso vem nos pequenos detalhes, algo que o diretor criativo do jogo, Ismail Ashraf, parece ter notado. Conversando com o jornalista Stephen Totilo do Kotaku, Ashraf fez questão de apontar não só que os assassinos e as suas icônicas Hidden Blades (ou Lâminas Ocultas, como são conhecidas na localização em PT-BR) retornam, mas a sua letalidade voltará ao que era antes, com a capacidade de matar inimigos em um ataque só.
Essa mudança, que havia afetado bastante os sistemas de stealth especialmente em Assassin’s Creed Odyssey, o qual abandonou quase que completamente o equipamento clássico dos assassinos, é um claro aceno aos fãs mais desgostosos com os dois jogos mais recentes que, mesmo com toda sua qualidade, nem sempre passavam a mesma sensação dos seus clássicos predecessores, algo que o estúdio está tentando mudar.
“Nós queríamos olhar para os jogos mais antigos e ver as qualidades que aqueles jogos tinham e reconhecermos o que há de bom sobre a fórmula atualizada”, Ismail disse. “Havia uma identidade e singularidade que nós queríamos trazer de volta para Valhalla.”
A ideia, segundo Ashraf, é conseguir encontrar um meio-termo entre a “fórmula antiga” dos jogos protagonizados por Ezio, Altair e os Kenway – jogos de ação e aventura com foco em stealth em eras históricas interessantes – e a “fórmula atualizada” de AC: Origins e Odyssey – os RPGs com quantidades enormes de loot e foco no combate em eras históricas interessantes.
As Lâminas Ocultas acabam sendo um proxy interessante para o debate entre as duas fórmulas, uma vez que o foco maior em combate visto nos últimos jogos acabou tirando bastante a relevância do stealth e, por tabela, da Lâmina Oculta, que deixou de assassinar seus alvos com apenas um ataque, dando um outro grau de dificuldade as missões de infiltração.
Como isso será resolvido em um jogo focado em Vikings, um povo não especialmente conhecido por sua sutileza, é curioso, além dos demais pontos de debate, como a introdução de uma árvore de diálogos, múltiplos finais e a menor importância dada a história em tempos atuais. Ainda assim, Ismail Ashraf sugeriu que, apesar do trailer de anúncio mostrar toda a capacidade física do protagonista com um machado, os caminhos mais sutis irão retornar.
“Eivor recebe a lâmina oculta logo no começo”, Ismail disse ao Kotaku, se referindo ao protagonista do jogo. “Nós continuamos com a ideia de que Eivor não é um assassino treinado. Eivor é um Viking que recebe essa arma fodona e precisa aprender a usá-la bem rápido. Logo no começo da experiência, Eivor vai aprender uma técnica que, com o timing correto… pode matar em um ataque praticamente todo mundo.”
Esse último ponto parece ser a chave. Se é possível matar em um ataque só com a lâmina oculta (e o Ashraf fez questão de apontar que será preciso alguma habilidade), então é possível ser sutil. Com isso, talvez seja possível jogar o novo jogo como se fazia com os antigos: das sombras ou, outro ponto revelado por Ashraf, das multidões.
Isso marca o retorno de outra característica abandonada da franquia: social stealth. A habilidade do protagonista de se misturar com a multidão e se manter indetectado dentro dela. Essa característica, que também estava presente nos jogos antigos, havia sido abandonada em Origins e Odyssey.
“Nós temos uma nova versão interessante disso”, Ismail disse. “Mas, sim, social stealth está de volta.” Segundo ele, trazer isso de volta foi um dos “pontos principais” de garantir que Valhalla contasse com as características mais distintas da série. Isso pode parecer estranho para um jogo sobre Vikings, mas como o jogo é sobre eles invadindo a Inglaterra, ela passa a fazer mais sentido.
“A ideia é a de que uma pessoa Nórdica ou um Viking está em um lugar onde ele não é desejado, então para ele tentar ficar incógnito e tentar se esconder na multidão, se você quiser, faz muito sentido.” ele disse.
A ideia de que o jogo mais recente da franquia irá agradar aos fãs de longa-data e aos fãs mais novos é algo bem comum de se ver durante o marketing de cada novo lançamento do mais novo (e, segundo a equipe, melhor) lançamento da franquia. No entanto, como Odyssey só realmente entrou na lore da franquia em seus DLCs, referências ao passado e acenos aos fãs de longa-data parecem estar mais na mente do seu diretor criativo.
Quando perguntado pelo Kotaku sobre isso, especialmente se o jogo faria alguma menção as referências aos Vikings existente em Assassin’s Creed Rogue, Ismail não quis entrar em detalhes, mas disse: “nós tentamos ancorar esse jogo nas profundezas da franquia e no que nós já fizemos, digamos, ao longo de vários jogos. Então haverão várias linhas de lore, é claro.”
Mas, caso o jogador não tenha jogado os anteriores, não é para se preocupar. As conexões com os jogos anteriores, segundo o Kotaku, existirão como bônus sutis para os fãs e não como aspectos cruciais da história. As conexões com os outros jogos estarão lá “para os fãs e para as pessoas que querem se aprofundar”, Ashraf disse.
Por fim, Ashraf especulou sobre o potencial de unir os dois lados da fanbase ao oferecer uma “incrível experiência e fantasia Viking” que também “faz o mundo de Assassin’s Creed brilhar em termos do que aconteceu no passado”. “Como esse jogo irá ancorar tudo isso junto?”, ele se perguntou. “Era importante para nós fazermos essa reflexão.”
Assassin’s Creed Valhalla será lançado par PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X, PC e Stadia no final de 2020.