Quando Arcadegeddon foi anunciado na última State of Play, era difícil entender exatamente o que era a proposta do novo jogo da Illfonic. A desenvolvedora independente situada no estado americano do Colorado não é nenhuma novata na execução de ideias “não-tradicionais” de multiplayer, mas seu novo jogo é uma mudança brusca em relação a seus títulos anteriores.
Tendo se transformado em sinônimo no quesito multiplayer assíncrono com o sucesso e reinvenção de Friday The 13th: The Game (onde foram capazes de colocar em prática o que aprenderam como estúdio de suporte para Evolve) e o seu trabalho posterior com a Sony em Predator: Hunting Grounds no ano passado, Arcadegeddon é uma mudança completa de conceito.
Abandonando por completo os elementos de terror e tensão presentes em seus jogos anteriores, a direção adotada para o primeiro título auto-publicado chega a ser demais no seu primeiro contato com ele. Arcadegeddon é um jogo extremamente colorido, vibrante e barulhento, com um senso de estilo raramente visto com a qualidade e cuidado entregue aqui.
Trata-se de um título JvJvA (Jogador vs Jogador vs Ambiente ou PvPvE em sua versão em inglês), no qual jogadores cooperam e competem entre si para derrotar o maior número de inimigos possível em uma série de fases para ver quem consegue a maior pontuação a cada estágio. O lado PvP é visto em alguns pequenos mini-games em que os jogadores precisam se enfrentar e são recompensados por matar mais que os outros.
O jogo também conta com fortes elementos de roguelite, com os jogadores partindo em runs para ganhar mais e mais tickets que serão usados para desbloquear novos itens cosméticos presentes na rotação do jogo. Quanto melhor for a sua performance e mais longe você chegar, mais tickets são conquistados, além da possibilidade de completar desafios para ganhar tickets bônus.
Esse é um elemento que deixa ainda mais claro o quanto a parte visual é importante para o conceito do título. Arcadegeddon transpira um estilo e identidade urbanos muito forte, das cores neon nas roupas e cenários à trilha sonora com batidas de trap intercalando os efeitos sonoros das armas, o jogo é bastante inspirado pelos “trends” dos grandes centros urbanos americanos.
Essa identidade visual se estende além dos personagens, com os cenários também passando uma impressão bem futurista no seu design. Existem três biomas distintos dentro dos quais os mapas são gerados proceduralmente: Nerve Center, uma cidade futurista, as cavernas das Mystic Isles e um cenário pós-apocalíptico chamado Aftermath. Todos os três são bem distintos entre si, mas a Illfonic promete expandir ainda mais os cenários no futuro pelo roadmap divulgado.
Os problemas, no entanto, começam a ser vistos na baixa variedade de inimigos. Há uma quantidade bastante limitada de inimigos para se derrotar, com alguns chefes espalhados pelos vários mapas e aparecendo em momentos aleatórios das runs. Os inimigos também não são dos mais desafiadores ou espertos, com a Illfonic optando por torná-los desafiadores mais pela quantidade imensa de adversários jogados contra você nas runs do que pela sagacidade da IA.
O lado positivo fica pelo fato de que atirar em si é uma mecânica muito boa. Existe uma variedade considerável de armas e apesar de muitas delas serem descartáveis, as que funcionam são muito divertidas. No começo você vai se ver mais preso a armas mais comuns, como pistolas, escopetas e snipers, mas com o tempo elas vão ganhando propriedades distintas e você passará a ver coisas como atiradores de arpões ou de serras. Talvez o maior problema é que, ao contrário de outros títulos, o loot é compartilhado, então ou pegue tudo rápido ou corra o risco dos seus aliados pegarem uma arma que você queria muito.
No entanto, se você espera um título que te desafia em combate pela dificuldade do seu gunplay, você provavelmente está procurando no lugar errado. Há uma sensação muito forte de que a Illfonic quer apelar para um público mais jovem com esse jogo e isso pode ser visto pelo fato de que todas as armas tem um aim-assist forte e todas elas são viáveis de se usar sem mirar muito cuidadosamente.
Por se tratar de um roguelite, é importante apontar que praticamente nada é levado de uma run para outra, com o jogador conservando apenas seus tickets e XP. Você terá duas armas específicas no começo de cada nova sessão, mas quanto maior o seu nível, mais poderosas serão as armas que você encontrará nos cenários ou nas lojas ao final de cada fase.
É claro, o combate não se restringe a andar e mirar. Você pode esperar os já costumeiros elementos de jogos de tiro hoje em dia, como a possibilidade de deslizar enquanto corre e pulo duplo, mas a principal diferença fica por conta dos Surge Gauntlets, poderosas habilidades ativadas com L1 e R1. Você recebe uma delas logo no começo do jogo e mais podem ser desbloqueadas ao completar missões passadas pelos “líderes de gangue” presentes no hub do jogo.
Esses desafios costumam ser únicos para cada jogador e vão de matar uma determinada quantidade de inimigos de certas maneiras a precisar completar uma quantidade específica de fases em uma run sem morrer. É sempre bom ter um desses desafios ativos, já que eles rendem boas recompensas visuais, mais XP e são a melhor forma de ter acesso às já mencionadas Surge Gauntlets.
No entanto, esse é o único grande objetivo que Arcadegeddon apresenta aos jogadores neste período de acesso antecipado. Ao contrário de outros roguelites, o título carece de uma verdadeira motivação para que os jogadores se prendam ao jogo, com as recompensas visuais sendo muito pouco para justificar o investimento de tempo no título.
Talvez o mais estranho seja a relação dos objetivos com as runs. Cada run costuma durar algo entre 30 minutos à 1 hora e não é possível salvar no meio delas (você pode sair e voltar pro hub). No entanto, o progresso que você fizer em direção aos seus objetivos não é carregado para próximas runs, o que significa que se você tiver como missão, por exemplo, matar 3 chefes e só conseguir matar 2 em uma run, você não precisa matar só mais 1 em uma próxima, mas sim os 3.
Isso significa que é bem possível que você passe horas jogando e simplesmente não tenha nenhuma recompensa mais concreta por isso. Não há uma sensação de se estar conquistando muito ou se tornando melhor no jogo (já que ele não é muito desafiador) e simplesmente ganhar tickets para comprar skins é muito pouco para manter o jogador envolvido e retornando para a experiência.
Considerando o pacote que Arcadegeddon entrega neste momento, nos primeiros passos do seu ciclo de vida, fica claro que há muito potencial aqui, mas ainda há um longo caminho a avançar para conquistar a base de jogadores que ele precisará. Felizmente, o online do jogo funciona bem (apesar de longas filas de espera no matchmaking), mas ainda há uma falta de razão para se aventurar online com ele.
Felizmente, caso você não queira jogar com pessoas aleatórias, o jogo permite que você jogue sozinho, em uma estrutura muito mais similar a um roguelite normal e que não deixa nada a desejar a experiência online.O lançamento completo do jogo só acontecerá no ano que vem, a Illfonic tem um histórico de melhorar consideravelmente seus títulos com o tempo e o roadmap anunciado é promissor, mas no momento, mesmo com toda beleza e estilo, ele ainda está um pouco distante de entregar a experiência que poderia.