Maio de 1945. O Exército Vermelho encurrala a Alemanha Nazista em Berlim. Trancafiado e enclausurado em seu bunker, o Führer toma uma última e desesperada medida: lançar o Plano Z. Simples e direto ao ponto, essa é a premissa de Zombie Army Trilogy.
Lançados anteriormente apenas para os PCs, Nazi Zombie Army 1 e 2 chegam acompanhados de um terceiro e inédito episódio ao PS4. Construídos com base na mecânica de Sniper Elite V2, cada um dos três episódios é dividido em cinco capítulos – sendo que cada capítulo leva em média de 30 a 45 minutos para serem completados.
Como o nome do jogo sugere, não estamos lidando com meros zumbis de farmácia encontrados “a rodo” em jogos apocalípticos. Tratam-se primeiramente de nazistas, provavelmente também membros de algum clube do Bolinha satânico e, não obstante, vândalos – os incontáveis pentagramas pichados nas ruínas das cidades devastadas da Alemanha os denunciam.
As forças nazistas compreendem um amplo e variado leque de adeptos. Desde meros e insignificantes soldados rasos (que, não bastasse o fato de já serem zumbis, em alguns casos, podem voltar à “vida” caso não sejam mortos com headshots); os quase imbatíveis soldados de elite (precisam em média de oito headshots para serem abatidos); homens-bomba (antissemitas, lógico!); snipers com problemas gastrointestinais (com a incrível habilidade de voar de um prédio ao outro deixando um rastro verde pelos ares); esqueletos (apenas uma frágil pilha de ossos ambulante); entre outros inimigos menos comuns mas não menos bizarros.
A comparação entre Zombie Army e Left 4 Dead é óbvia e inevitável: um jogo com forte ênfase no cooperativo online para quatro pessoas, incontáveis zumbis, safehouses forradas de armamentos e munição, fases com mapas lineares e pequenos objetivos a serem completados, e desbloqueio imediato de todos os capítulos, sem obrigatoriedade de jogá-los em sequência. Mas as semelhanças ficam por conta da estrutura do jogo, já que por conta da mecânica e da câmera fixa em terceira pessoa, o jogo indiscutível e propositalmente carrega o DNA de Sniper Elite.
A total inexistência de uma progressão no modo campanha exclui toda a linearidade do jogo. O que por um lado é bom, por eliminar a necessidade de desbloquear cada capítulo, por outro lado mostra uma das maiores fragilidades do jogo: a total ausência de uma história (ou nesse caso, mais precisamente, uma “estória”). Com exceção da cutscene de abertura, que serve apenas para dar um panorama geral e pintar o universo alternativo no qual o jogo se passa, as demais cutscenes quase nada contam sobre o que está acontecendo e servem apenas para ilustrar o início e o final de cada capítulo, sem necessariamente apresentar uma narrativa sequencial.
Mesmo tendo sido lançado após Sniper Elite III, o terceiro episódio de Nazi Zombie Army pouco ou nada herda das mecânicas básicas do mais recente jogo de sua “série-irmã”. Da mesma forma com que acontecia em Sniper Elite V2 e nos dois primeiros Nazi Zombie Army, os mapas continuam lineares e pouco permissíveis à exploração, ao velho estilo “corredor”. Tendo sido a adição de cenários extensos e amplamente exploráveis um dos grandes incrementos ao terceiro capítulo da saga Sniper Elite, não deixa de ser frustrante ver que esse elemento não foi utilizado no terceiro episódio de Zombie Army.
Por se tratar de um jogo com temática zumbi, além do já citado modo campanha, como não poderia deixar de ser, há também o modo horda. Enfrentar ondas e mais ondas de inimigos em um espaço extremamente limitado é realmente desafiador – diria até praticamente impossível, caso você resolva fazê-lo sozinho. Tanto o modo campanha quanto o modo horda dão ao jogador a possibilidade de escolher um dos oito personagens jogáveis – todos eles seguindo os padrões culturalmente estereotipados: um soldado britânico, um cientista alemão, uma mulher membro da resistência francesa, um soldado cossaco, um general alemão, além de versões femininas de alguns dos personagens citados. Na prática não há diferença alguma na jogabilidade, apenas estética (azar dos sexistas!).
O arsenal é generoso, apesar de o jogo praticamente obrigar o jogador a utilizar somente as snipers. Com exceção das armas de longo alcance, apenas armas encontradas nos cenários, como uma shotgun e um lança-mísseis, são de grande utilidade. Qualquer outra arma secundária ou pistola serve basicamente apenas para situações de emergência. A seção de explosivos é bem interessante: granadas de mão, minas terrestres, trip mine (uma mina com uma armadilha ativada por um fio), e a boa e velha dinamite (obrigado Sr. Alfred Nobel!).
A visão em câmera lenta com raios-X também marca presença, obviamente. E apesar de não ser tão brutal como em Sniper Elite III, garante boas doses de gore, o suficiente para garantir a diversão. Por se tratar de zumbis, matar os inimigos com tiros na cabeça é imprescindível. Por conta disso, os headshots literalmente estouram a cabeça dos zumbis, tornando essa técnica extremamente eficaz e igualmente aprazível: ouvir cabeças estourando nunca foi tão prazeroso, esteja certo disso!
Porém (ah, os “poréns”!), apesar de o jogo cumprir muito bem quase tudo aquilo a que se propõe, há um fator muito importante que deixa a desejar: o multiplayer. Em um jogo com enorme foco no cooperativo online, é de se esperar que a conexão flua de forma decente e possibilite aos jogadores aproveitar de forma satisfatória o jogo. Infelizmente não é o que acontece – pelo menos não sempre. Problemas com lag, bugs para lá de bizarros e demais problemas com a conexão são comuns. E pra piorar, não há multiplayer local.
Graficamente, o jogo não é dos melhores vistos no PS4, nem de longe (nem de perto). Porém, o fato do jogo fluir sempre próximo dos 60 quadros por segundo e a pouca quantidade de serrilhados evitam que o jogo se torne cansativo às vistas. Os cenários são muito bem construídos, fazendo até com que às vezes você se esqueça de que está enfrentando um apocalipse nazista/satanista/zumbi, apenas para ficar observando a arquitetura de época e os ambientes em geral: cidades em ruínas, rios de sangue, explosões ao longe e aviões dando rasantes são alguns dos elementos que compõem a atmosfera do jogo.
Veredito
Em boa parte daquilo a que se propõe, Zombie Army Trilogy cumpre com louvor. O grande problema fica por conta da conexão, que não funciona como o esperado para um jogo com forte ênfase no multiplayer cooperativo online. E apesar de praticamente não possuir uma estória, a diversão proporcionada pela boa jogabilidade e a imersão causada pela excelente atmosfera do jogo compensam suas falhas estruturais. E acima de tudo, estourar miolos de zumbis nunca foi tão prazeroso como em Zombie Army Trilogy.
Jogo analisado com cópia digital fornecida pela Rebellion.