Análises

Steins;Gate 0

Aviso: a análise conterá spoilers dos finais do jogo Steins;Gate, por se tratar da sequência direta de um de seus finais alternativos. Caso ainda não tenha jogado, recomenda-se discrição.

Steins;Gate 0 foi desenvolvido no Japão pela 5pb e lançado no Ocidente pela PQube exclusivamente para o PlayStation 4 e PlayStation Vita. Para os curiosos, o jogo é a sequência direta de um dos finais apresentados no primeiro Steins;Gate, lançado para PlayStation 3 e PlayStation Vita em 2015, seguindo os acontecimentos desse final alternativo e assumindo que o jogador já sabe tudo que se passou durante a história. Desse modo, fica o último aviso, visto que esta análise irá conter spoilers do primeiro jogo. Caso já tenha assistido o anime ou completado Steins;Gate, aproveite a análise!

Na linguagem de histórias e sequências, Steins;Gate 0 é considerado um “midquel”. Ele conta o futuro de um dos finais, um dos pontos da história de seu antecessor, ignorando o que aconteceu depois de tal ponto no primeiro jogo. Assim, não espere uma continuação para o final verdadeiro, em que Okarin e seus amigos alcançam o “Steins;Gate”.


Mais especificamente, Steins;Gate 0 conta a história de Okabe após voltar da primeira viagem ao passado com Suzuha, em que não conseguiu salvar Kurisu de sua morte iminente no Verão de 2010. Assim, Okabe acaba aceitando a linha do tempo “Beta”, em que Mayuri pode viver e também na qual ocorre a Terceira Guerra Mundial, mas encarando toda a bagagem que enfrentou no primeiro jogo e de ter assassinado Kurisu com suas próprias mãos.

Alguns meses depois, o mundo de Okabe muda completamente ao participar de uma palestra com dois membros da Universidade de Viktor Chondria e reencontrar “Kurisu” da forma mais inesperada possível. Depois deste encontro, o protagonista não consegue mais fugir do seu passado e terá de encarar o peso e as consequências de sua escolha de desistir de alcançar o “Steins;Gate”, o mundo em que tanto Kurisu quanto Mayuri estariam vivas.

Para aqueles que estão vindo depois ter jogado a primeira visual novel, saiba que o começo de Steins;Gate 0 não é tão parado quanto o primeiro jogo, o que é um ponto positivo, pois ele não gasta mais tempo fazendo com que o jogador se ligue num nível emocional com os personagens para os twists iminentes.

Embora o ritmo não seja tão lento, a sequência continua contando com cenas para descontrair o jogador depois de horas e horas de desenvolvimento de pontos-chave da história. Em Steins;Gate 0, são introduzidos novos personagens que terão enorme importância, como a pequena cientista Maho Hiyajo e as colegas de cosplay da Mayuri, Fubuki, Kaede e Yuki, além do professor Leskinen, da Universidade de Viktor Chondria. Espere também reencontrar com todos os personagens do primeiro jogo, que precisarão achar o seu papel em todo o drama que Okabe vivencia na sequência.

A estrutura de Steins;Gate 0 é diferente, uma vez que conseguir os finais alternativos não depende de respostas no celular, e sim ações, como atender uma ligação ou não, em pontos do jogo. Okabe ainda irá passar por várias variações das linhas do tempo com seu “Reading Steiner” e o jogo várias vezes abre os novos finais com essas variações.

Um ponto positivo disso é como cada final traz uma sensação diferente ao jogador. Alguns desses finais são tristes, outros são emocionantes, outros até parecem ter saído direto de histórias de terror e parecendo o pior desdobramento possível para o jogo. Depois de alcançar todos, o final verdadeiro é habilitado para o jogador descobrir onde todos os finais convergem.

Agora vêm as críticas, que não são poucas. Leve em conta que esta análise vem do mesmo redator que deu nota máxima para a versão de PlayStation Vita no Steins;Gate ano passado. De início, um dos maiores problemas do jogo é com a arte.

Tanto a arte do primeiro jogo quanto a de sua sequência foram desenhadas por huke, mais conhecido pela criação do Black Rock Shooter e por algumas ilustrações da série Metal Gear Solid. O problema aqui é a evolução dos traços do artista entre os sete anos que se passaram desde o desenvolvimento do primeiro jogo e agora de sua sequência. Seu traço mudou tanto que nem parece vir do mesmo artista.

Eu não veria problema algum com essa mudança artística, mas o jogo faz questão de misturar os designs antigos com os novos como se fossem iguais ou mesmo parecidos, o que dá uma impressão barata ao jogo, reciclando arte antiga ao invés de desenhar novos designs para utilizar em cenas antigas. A diferença, que em algumas cenas aparece lado-a-lado, é gritante e bem distrativa.

Meu outro problema com o jogo é culpa da PQube, empresa por trás da localização, tradução e lançamento dos jogos no Ocidente. Este é um problema recorrente da empresa, que cometeu estes mesmos erros em Gal*Gun: Double Peace, Valkyrie Drive e, mais recentemente, Root Letter. O script do jogo, apesar de contar com uma ótima caracterização, ao contrário de Root Letter, vem com erros gritantes de tradução.

Em várias cenas do jogo, durante a narração, o texto faz referência a um personagem, quando na narrativa está se referindo a outro personagem. Tais erros são muito simples e não deveriam ter passado para a edição final do jogo. Outros pontos menores também é como o jogo utiliza de caracteres diferentes durante seu desenrolar, como ficar trocando de estilo de reticências a todo momento, o que por si só não seria um grande problema, se fosse o único problema.

O maior problema parte por culpa da PQube que, por incrível que pareça, deixou literalmente a última cena do final verdadeiro do jogo em japonês! São frases e mais frases em japonês e pronto, créditos finais e fim de jogo! Este é um erro tão, mas tão gritante, que eu não consigo imaginar como a empresa não o percebeu antes de enviar à Sony a versão final do jogo. Foi lançado um patch recentemente e ouvi de algumas pessoas que tal patch conserta esta cena, mas os saves do jogo são incompatíveis, ou seja, como comecei o jogo antes do patch ser lançado, tive que encarar o final japonês sem entender o que acontecia.

Minha última reclamação é como Steins;Gate 0 termina sem uma resolução. Vários pontos são deixados em aberto, sem explicação, sem ao menos uma justificativa, e o jogador fica sem entender várias dúvidas que vão aparecendo durante a trama, em contraste com o primeiro jogo, que trouxe um final em que tudo é explicado e serve como uma experiência única, com começo, meio e fim. Steins;Gate 0 parece começo, meio e… créditos finais.

Vindo de uma história “fechada” por assim dizer, o final aberto da sequência não faz sentido algum e dá a impressão de que a empresa quer contabilizar no sucesso da série com mais um jogo no futuro. Uma série como “Steins;Gate” não se beneficia com esse tipo de tática, que parece mais com a 5pb aprendendo como a Spike Chunsoft lidou com a série “Zero Escape”, que conseguiu lançar em 2016 a minha maior decepção do ano, “Zero Time Dilemma”.

Queria deixar claro que Steins;Gate 0 continua sendo uma boa visual novel para jogar, mas não a coloque no mesmo nível que o primeiro jogo, porque a decepção será enorme. Os erros cometidos pela 5pb e PQube também chegam a ser imperdoáveis, o que é extremamente frustrante, já que a sequência de uma das melhores visual novels, se não a melhor na minha opinião, receber esse tipo de tratamento das duas empresas é inaceitável.

 

Veredito

Steins;Gate 0 prometia ser um dos melhores jogos de 2016. Após grandes tropeços e falta de visão tanto no desenvolvimento quanto na tradução, chega muito perto de ser uma das maiores decepções de 2016.

Jogo analisado com código fornecido pela PQube.

Veredito

70
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