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[PSN] Layers of Fear

Dois anos atrás, era difícil imaginar o impacto que uma demonstração como P.T. teria na indústria dos jogos eletrônicos. O cancelamento do jogo da Kojima Productions ainda dói, mas sua breve existência inegavelmente serviu de inspiração para diversos projetos do gênero terror. Ainda que Layers of Fear tenha uma identidade própria, é fácil visualizar traços de “Silent Hills” nele.

O título da Bloober possui um gameplay semelhante a P.T e contribui para o fortalecimento de um gênero bem peculiar – o terror psicológico em primeira pessoa, centrado na interatividade com elementos do cenário e desprendido de desafios ou obstáculos comuns a outros jogos (como barra de vida ou combate). É, de certa forma, similar a alguns adventures modernos, mas cuidadosamente criado para aterrorizar o jogador com momentos de repulsa e angústia.

Ainda que contenha um gameplay nada atípico, o tema e a progressão de Layers of Fear são bastante originais. O jogo é dividido em um prólogo e seis capítulos, sendo que cada etapa representa a busca por um objeto. Nesse trajeto, o protagonista esbarra com seu passado trágico ao explorar uma projeção doentia de sua casa, enquanto o jogador testemunha a insanidade e os cantos mais sombrios do subconsciente humano.

Diante de uma pintura inacabada, o personagem principal almeja terminar sua obra-prima. Para isso, ele precisa coletar os materiais e ferramentas necessárias para tal tarefa. Tendo o ateliê como o ponto de partida para cada capítulo, o jogador vai se deparar com vestígios de sua família e percorrer por corredores e quartos macabros, que se transformam de forma constante. A alteração das estruturas da casa acontece em tempo real, especialmente fora do campo de visão do jogador. O cenário que você olhou um segundo atrás, pode mudar assim que a câmera se deslocar para outra direção.

Não surpreende dizer que o jogo vai ficando cada vez mais perturbador e a tensão mais constante. Os sustos são bem espaçados, de forma que o jogador nem sempre consiga prevê-los (os decorrentes da metamorfose do espaço costumam ser os melhores). No entanto há aqueles bem clichês e outros derivados de certas ideias de P.T.

As mudanças nos cenários que ocorrem no “ponto cego” do jogador ficam também mais elaboradas. Exemplificando: ao entrar em um cubículo, a porta atrás imediatamente some e você se depara com um ambiente claustrofóbico, mas novas portas vão surgindo a medida que o jogador gira a câmera em busca de alguma saída. Tal técnica é a marca registrada de Layers of Fear.

A atmosfera do jogo também colabora para potencializar os efeitos dessa “metamorfose estrutural”. A escuridão predomina, a decoração eventualmente causará desconforto e algumas figuras aparecem para visitá-lo de tempos em tempos. O som é muito bem empregado, com ruídos que visam atrair o “olhar” do jogador para determinadas direções e enganá-lo logo em seguida. É uma genuína simulação das alucinações decorrentes da demência do protagonista.

A experiência em Layers of Fear é valorizada pelos visuais realistas e pela bela composição artística. Nesse ponto, ter P.T. como referencial a altura é um grande elogio. A iluminação é excelente e as texturas dos assets são de altíssima qualidade. A variação de detalhes ao longo dos cômodos da casa coopera para evitar a saturação e um dos componentes mais presentes nos cenários do game são pinturas reais. Muitas das obras figuradas no jogo possuem um teor sombrio, encaixando bem com a proposta do jogo. O Pesadelo (Henry Fuseli) e Saturno Devorando um Filho (Francisco de Goya) são alguns dos quadros presentes no jogo. Esse é um tipo de detalhe que engrandece a caracterização do ambiente e deve tornar a exploração ainda mais agradável para entusiastas de história da arte.

Em relação à narrativa, o esforço do jogador determina o quanto ele vai conhecer da história. Durante a navegação pelos quartos da casa, você encontrará diversas mobílias que escondem arquivos de texto, fotos ou objetos que revelam pedaços do passado da família e do personagem principal. No caso de objetos, o protagonista narra algum acontecimento ou tece algum diálogo, embora somente sua voz seja ouvida. É um conteúdo totalmente opcional, mas que valoriza a exploração – para compreender a história plenamente, é fundamental encontrar todos os itens espalhados pela casa.

Apesar da excelente atmosfera de terror proporcionada pelo jogo, parte dessa experiência é comprometida pelas adversidades na performance. Para os que acompanharam minha recente análise de Firewatch, vai parecer um deja vu: é mais um caso problemático entre o PlayStation 4 e a plataforma Unity.

Quando a primeira movimentação de câmera do jogo resulta em screen tearing e uma queda brusca da taxa de quadros por segundo, é um claro sinal de que isso não é um caso isolado. O “tearing” é mais raro e curiosamente só acontece nas maiores salas do jogo (caso do início do game). A framerate é mais aceitável nos espaços mais confinados, mas quando a área é vasta, fica intolerável. Perto do fim do jogo, há um momento em que a contagem fica abaixo dos 10fps.

O risco de motion sickness (tontura) também existe em Layers of Fear. A falta de uma referência visual em alguns ambientes e a framerate oscilante podem ser desagradáveis para alguns jogadores. Além disso, o jogo possui algumas opções ativadas (padrão) – como um campo de visão mais limitado e um efeito de balançar a visão em primeira pessoa. Desligar tais opções resultaram em uma experiência mais agradável na minha opinião, portanto é recomendado que o jogador dedique um tempo customizando suas preferências.

Layers of Fear possui uma campanha curta e pode ser finalizado em poucas horas. No entanto, sua estrutura linear e gameplay de ritmo lento cansam e tornam longas sessões um pouco tediosas. O jogo também aborrece os jogadores com TOC: vasculhar gaveta por gaveta atrás do documentos com uma navegação devagar por meio de um cursor sem muita sensibilidade (ainda que exista customização para isso, falta precisão para pequenos movimentos) é cansativo. É uma pena que não exista uma opção de transitar rapidamente pelas partes de uma mobília que podem ser analisadas.

Por fim, reiterando uma recomendação que o próprio jogo faz – jogue com fones de ouvido. O game constantemente capta a atenção do jogador por meio de sons emitidos em diversas direções e essa imersão espacial é intensificada com um bom fone (principalmente se for de 5.1 ou 7.1 canais).
 

Veredito

Confesso que ainda não compreendo absolutamente a história de Layers of Fear. Me faltaram diversos objetos e arquivos de texto, logo, há muito a ser desvendado. Talvez seja algo comum nas primeiras jornadas e que incentive revisitar o mundo desfigurado e soturno do jogo. Não é um produto perfeito, mas recomendado para qualquer fã do gênero – seja o desbravador solitário ou para grupos de amigos que, assim como em filmes do gênero, se divertem com sessões mais participativas. Para os viúvos/viúvas de P.T, é até então o produto mais indicado para matar a saudade da mesma espécie de terror psicológico.

Jogo analisado com código fornecido pela produtora.

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