Eu amo Jet Set Radio. Pode parecer estranho se referir assim ao sentimento em relação a um jogo de videogame, mas é a melhor expressão para mostrar o que eu sinto por este jogo. Quando ele saiu, em meados do ano 2000, ele simplesmente me deixou boquiaberto desde o primeiro momento em que eu o vi. Eu o joguei por meses a fio, decorando cada parte de cada fase, aprendendo a fazer grinds infinitos onde era possível, coletando os Graffiti Souls espalhados e muito bem escondidos pelas fases, e delirando com uma das melhores trilhas sonoras de todos os tempos, de qualquer mídia.
Quando descobri que a Sega resolveu revitalizar a série com este remake HD, meu coração parou por um instante. Era um sonho se tornando realidade, algo que parecia quase impossível, e algo que eu desejava há algum tempo (como este artigo que eu escrevi em 2010 mostra). Alguns meses depois Jet Set Radio HD chegou à PSN e meus desejos foram atendidos. Mas alguns dos meus pesadelos também se tornaram realidade.
No preview de Jet Set Radio HD (JSRHD) eu expliquei bastante a história do jogo, a mecânica de grafitar e tudo mais, então refira-se a ele para maiores detalhes.
Primeiramente, o aspecto mais importante de Jet Set Radio está 99% intacto aqui: a sua trilha sonora (confira a lista de músicas na Wikipedia). A SEGA merece os meus parabéns por ter ido atrás de todas as licenças de músicas do jogo original para incluí-las aqui. Todas as pérolas do mestre Hideki Naganuma estão aqui intactas, e soando cada vez melhores. Improvise do Jurassic 5? Confere. Dragula, do Rob Zombie? Presente. Just Got Wicked do Cold e Electric Tooth Brush do Toronto também. A única ausência aparente é Yappie Feet, e mesmo sendo uma boa música, é uma perda aceitável.
Outro ponto que se manteve impecável ao teste do tempo é o estilo. Eu digo sem medo de errar que Jet Set Radio é o jogo mais estiloso de todos os tempos. O seu visual, a sua atitude, os seus personagens, tudo se encaixa perfeitamente para criar algo único, uma obra de arte interativa.
Os gráficos do jogo eram soberbos na época do lançamento e até hoje eles continuam bonitos. Este remake HD conseguiu dar uma boa incrementada na resolução sem perder ou borrar nada, mantendo o espetáculo visual de outrém. Quem já conhecia o jogo vai ficar feliz de que este port está fiel ao original, e quem nunca havia jogado vai poder experimentar essa beleza única, especialmente dentre os jogos marrom-e-cinza dos dias de hoje.
Além do visual renovado, JSRHD trouxe algumas novidades em relação ao original. Um concurso feito pela SEGA elegeu alguns grafites criados por fãs para serem incluídos no jogo, e eles são realmente muito bonitos e bem adequados ao estilo do jogo. Uma seção de conteúdo extra também foi incluída, e surpreendentemente traz um documentário (curto) com a história da criação do jogo e curiosidades sobre o seu desenvolvimento. Este menu também traz algumas músicas de Jet Set Radio Future para serem escutadas.
Os controles estão praticamente intactos aqui, com apenas uma mudança significativa. O seu personagem ainda é controlado como se fosse um pequeno tanque, e algumas pessoas podem demorar a se acostumar com isso. A câmera no Dreamcast não podia ser controlada diretamente, sendo apelas centralizada atrás de seu personagem com o gatilho L, o mesmo botão usado para grafitar alguma coisa, então obviamente isso causava muitas dores de cabeça, especialmente nas fases de perseguição, nas quais você deve grafitar personagens em movimento.
Em JSRHD a câmera é livre e controlada pelo R3, o que é uma dádiva em alguns momentos. Não mais você precisa ter medo da câmera bugando e ficando presa atrás de uma parede, ou focando algo bizarro enquanto você faz uma manobra; agora é você que está no controle. O L2, aqui usado para grafitar, também pode ser usado para centralizar a câmera, mas esta opção pode ser desativada no menu do jogo. Por que eles não colocaram o R3 para esta centralização, eu queria entender.
Tudo ótimo, então. Gráficos excelentes, trilha sonora perfeita, jogabilidade melhorada… Realmente é a realização de um sonho para mim. Jet Set Radio, desde o momento em que foi anunciado, tinha tudo para ser o meu GOTY. O que poderia, portanto, dar errado?
Problemas técnicos.
Um dos meus maiores medos quando vejo anúncios de remakes HD de jogos clássicos (como Tony Hawk’s Pro Skater, por exemplo) é que ao portar o jogo da plataforma original para a atual, problemas que não existiam sejam introduzidos no jogo. Algumas vezes são problemas pequenos, que pouco incomodam, mas às vezes são problemas grandes, idiotas e que atrapalham muito. Jet Set Radio HD, para a minha tristeza, tem vários destes últimos.
Primeiramente, o jogo é cheio de slowdowns absurdos. Desde a primeira fase, em Shibuya, até a última, o jogo às vezes engasga muito e a queda nos frames é visível, especialmente quando você está em algum lugar aberto. Na fase de Bantam Street o problema chega a níveis desesperadores. Quando você sobre no telhado do posto de gasolina da fase, a taxa de frames cai a menos da metade, pelo que eu consigo chutar. O personagem anda em slow motion, demora horrores para reagir aos seus comandos e a fase fica quase injogável. Isso não acontecia no Dreamcast, e pelo que eu lembro mesmo os slowdowns lá eram bem menos evidentes do que aqui.
Bugs de áudio também estão por todo lado. Por diversas vezes eu comecei uma fase e simplesmente não havia música de fundo, só os efeitos sonoros eram tocados. Em muitas ocasiões os efeitos saem atrasados em relação ao visual, causando uma sensação estranha de lag. Outro problema bizarro é que se você colocar o volume das músicas no máximo, todos os efeitos sonoros do jogo parece que são emudecidos. Eu aumentei o volume e fiquei desnorteado, achando que estava com algum problema no videogame, até que por tentativa e erro abaixei o volume das músicas e os efeitos sonoros voltaram.
O belíssimo visual do jogo é atrapalhado por alguns pop-ups visuais bizarros. Em muitas transições entre partes das fases o caminho para onde você está indo aparece com uma cor sólida e de repente o cenário pula na sua frente. Isso não acontece apenas no carregamento de diferentes áreas, já que encontrei isso também com objetos que estavam bem próximos de mim. As texturas do jogo, apesar de no geral parecerem bem melhores do que no original, ainda apresentam uma ou outra que destoa do restante, sendo de baixa resolução e bem feias.
Uma coisa que me incomoda muito é a nova tela de loading do jogo. Visualmente, ela é idêntica à original, com um Graffiti Soul pulando e girando na tela, agora em alta definição. Mas toda vez que esta tela aparece, ela aparece travada, com a animação parando e recomeçando, e os movimentos dos objetos dando pequenos saltos na tela para compensar o atraso visual. É muito feio, parece o trabalho de um amador que nem se deu ao trabalho de testar a tela em execução. Alguém pode me explicar como conseguiram estragar até a tela de loading de um jogo de 12 anos de idade?
A SEGA também tomou algumas decisões anacrônicas em relação ao compartilhamento de grafites. No jogo original (e neste remake também), era possível criar grafites em um editor simplificado. Porém, na época em que Internet em um videogame era considerado uma revolução à qual poucos tinham acesso, era possível compartilhar suas criações pela rede através da SegaNet. Hoje, na era da conectividade, em que até relógios de pulso se ligam ao restante do mundo, não é mais possível enviar ou receber grafites. De novo, se alguém tiver uma explicação aceitável será muito bem-vinda.
Outras reclamações menores são em relação a novidades que a SEGA poderia ter incluído no jogo e que sei que são muito pedidas e seriam bem aceitas. Uma delas é ter uma opção no menu de pausa do jogo para recomeçar uma fase. Normalmente, para fazer isto você deve voltar para o menu do jogo (a garagem), selecionar novamente a fase, o personagem e aí sim começar novamente. Não custava cortar este tempo, que hoje leva até mais de um minuto, para alguns segundos. Também seria legal ter um botão para mudar de música (tal qual o R1 faz em Burnout Paradise, por exemplo) e talvez até uma forma de criar listas de reprodução dentro do jogo, para eu colocar as minhas favoritas e ouvir elas quando quisesse.
Infelizmente Jet Set Radio HD não é o jogo perfeito que poderia ser. O original de Dreamcast, para mim, merece uma recomendação totalmente máxima, sem nenhum porém. Contudo, este port HD deveria ter trazido esta perfeição para a geração da alta definição, mas não é o caso. Diversos problemas técnicos impedem o jogo de chegar ao seu ápice, mas mesmo assim não se engane: ele ainda é um jogo maravilhoso, extremamente divertido e que merece ser jogado por qualquer um. Jogar Jet Set Radio sempre é uma viagem inesquecível, mesmo que neste remake HD hajam alguns buracos bem fundos pelo caminho.
— Resumo —
+ Estilo impecável
+ Gráficos ainda excepcionais
+ Trilha sonora perfeita
+ Extremamente divertido
– Slowdowns horríveis
– Bugs de áudio
– Problemas visuais (pop-ups e travadas)
– Ausência de compartilhamento de grafites criados
Imagem do destaque: pôster comemorativo dos 10 anos de Jet Grind Radio feito por ArkadeBurt.